Dicas para o Ensino

Excertos de textos sobre pedagogia e música

ATIVIDADE

Estar ativa faz parte da natureza da criança (que não pode ficar a ouvir o professor falar sobre música). A atividade desenvolve capacidades de observação e atenção e leva a criança a participar. É importante envolver as crianças em experiências musicais significativas.

[ Graça Boal Palheiros ]

ADAPTAR

É essencial adaptar os conteúdos, as atividades e as estratégias às situações concretas de ensino e aprendizagem, aos espaços e recursos disponíveis, e também à idade, aos interesses e ao nível de desenvolvimento musical das crianças.

[ Graça Boal Palheiros ]

ATUAÇÃO

O trabalho musical desenvolvido nas aulas ganha um outro sentido e uma outra dimensão quando apresentado em público. Em termos práticos, os efeitos podem ser vistos na fase de elaboração e de ensaios, bem como na atuação em si mesma.

[ José Carlos Godinho ]

AFINAÇÃO

Parece que muitas crianças (ocidentais) seguem uma sequência faseada na qual o acto de cantar completamente afinado é precedido por comportamentos mais simples, menos complexos. Estas fases parecem estar relacionadas com o foco percepcional da criança, que tende a evoluir do texto da canção para um contorno melódico, depois para uma exactidão baseada em expressões e finalmente para uma correcção generalizada mais desenvolvida.

[ Graham Welsh ]

AMBIENTE

As crianças precisam de ser educadas num ambiente musical rico, para que a sua aptidão musical desabroche de maneira positiva.

[ Edwin Gordon ]

ANDAMENTO

Quando os pais ou professores cantam e entoam para as crianças pequenas, devem ter o cuidado de executar a canção ou o canto rítmico num andamento estável e confortável, para que acidentalmente não alterem o andamento ou a métrica.

[ Edwin Gordon ]

APRENDER A TOCAR

Aprender a tocar um instrumento é como aprender a falar outra língua e pode tornar-se um desafio alicante. Uma das qualidades que os músicos possuem é a disciplina.

[ Espie Estrella ]

APRENDIZAGENS

A verificação das aprendizagens desenvolvidas pelas crianças é também um importante indicador sobre a forma como decorreu o processo de ensino. O professor não deve, portanto, confiar unicamente na sua própria impressão sobre o sucesso das suas aulas.

[ José Carlos Godinho ]

APRESENTAÇÃO EM PÚBLICO

A atividade musical envolve inevitavelmente a partilha da música com os outros. Quer o compositor, quer o intérprete consumam a sua criatividade, esforço e pensamento estético no momento em que a obra musical é apresentada ao público. A obra musical só passa a sê-lo efectivamente quando executada em público, transmitida ou distribuída pelos média.

[ José Carlos Godinho ]

APTIDÃO MUSICAL

Uma criança nasce com determinado nível de aptidão musical. Esse nível muda de acordo com a qualidade do seu ambiente musical, formal e informal, até a criança atingir os nove anos de idade. (…) As crianças têm uma fase de desenvolvimento da aptidão musical desde o nascimento até aos 9 anos e uma fase de estabilização da aptidão musical, dos nove anos em diante.

[ Edwin Gordon ]

AUDIÇÃO

A audição é um dos aspectos centrais na aprendizagem musical. Contudo a criança necessita de orientação e de pontos de apoio para ouvir de uma forma discriminada e para ir centrando a sua audição em diferentes tipos de música, estruturas, fontes sonoras e instrumentos, podendo reagir aos diferentes parâmetros musicais de modo espontâneo.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

AVALIAÇÃO

A avaliação é fundamental no processo de ensino e aprendizagem. Se, por um lado, a avaliação permite verificar as aprendizagens realizadas pelas crianças, por outro, é através da avaliação que podemos tirar conclusões sobre o sucesso do processo de ensino desenvolvido e ajustá-lo face aos resultados.

[ José Carlos Godinho ]

CANÇÕES

Elas são capazes de vos dar encorajamento e estímulo; elas podem ensinar-vos a observar e a preservar as coisas; elas podem ensinar-vos a associar, a compreender com profundidade; elas são capazes de apagar a vossa raiva; elas ensinam-vos a ouvir o vosso pai, que conhece todas as regras que regem a vossa longa caminhada; elas ensinam-vos os nomes dos pássaros, dos animais, das árvores”.

[ Confúcio ]

CANTO E EXPRESSÃO

O canto é fundamental para a expressão musical e o melhor meio para exprimir ideias específicas, visto estar na maior parte das vezes ligado a um texto, tantas vezes um poema. A relação entre o texto e a música é, sem dúvida, de uma importância extrema. Deste modo, a existência de uma dicção adequada torna-se essencial.

[ Joana de Quinhones Levy ]

CAPACIDADES

Nascemos com direitos iguais perante a lei, mas isso não significa que nasçamos iguais. Antes do nascimento, todas as crianças têm potencialidades inatas mas, mal nascem, tornam-se logo patentes as diferenças entre elas. Parte dessas diferenças reside no seu potencial para aprender e compreender música. No entanto, todas têm igual direito a atingir o nível máximo de que são musicalmente capazes.

[ Edwin Gordon ]

CÉREBRO

Nós somos musicais: é parte do nosso desígnio humano básico. O cérebro humano tem áreas especializadas cujas funções primordiais trabalham em conjunto para o processamento musical. Somos, também, musicalmente educados, no sentido de que adquirimos comportamentos musicais sofisticados desde a fase pré-natal passando pela experiência da cultura em que nos inserimos.

[ Graham Welsh ]

COMPETÊNCIAS MUSICAIS

As competências musicais incluem, por exemplo, escutar, cantar, mover-se, criar, improvisar, ler e escrever, enquanto os conteúdos musicais se referem, por exemplo, a padrões tonais e rítmicos de diferentes níveis de dificuldade e em várias tonalidades e métricas.

[ Edwin Gordon ]

conjunto

Fazendo música em conjunto, todas as crianças contribuem para o grupo, de acordo com as suas capacidades, podendo ajudar-se mutuamente. No grupo, todos têm responsabilidades.

[ Graça Boal Palheiros ]

CONSTRUÇÃO SOCIAL E HUMANA

A música como construção social e humana interage de modos diversos não só com a construção das identidades, individuais e colectivas, como também com diferentes áreas do saber e do conhecimento artístico, humanístico, científico e tecnológico.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

CORO

Para a interpretação vocal em coro, é necessário treinar outros aspectos. Além de cantar afinada, correta e musicalmente, a criança deve ter uma postura correta, estar atentas às indicações do professor e ouvir os colegas.
[ Graça Boal Palheiros ]

CORPO EM MOVIMENTO

Sentir, no corpo em movimento, o som e a música é, na criança, uma forma privilegiada e natural de expressar e comunicar cineticamente o que ouve. (…) O movimento, a dança, a percussão corporal são meios de que o professor dispõe para, com pleno agrado das crianças, desenvolver a sua musicalidade.

[ Organização Curricular e Programas do 1º Ciclo ]

CRIAÇÃO, IMPROVISAÇÃO E COMPOSIÇÃO

As atividades de criação, improvisação e composição na sala de aula são importantes, como forma de expressão e comunicação musical, para desenvolver o pensamento musical das crianças. E também como forma de comunicação social, pois os exercícios de improvisação individual e/ou em pequeno grupo estimulam as interacções sociais e contribuem para o desenvolvimento social das crianças.

[ Graça Boal Palheiros ]

CRIATIVIDADE E PRÁTICA MUSICAL

A criatividade é importante para a prática musical, podendo ser estimulada em atividades de improvisação, composição e interpretação. Para além do treino – que é necessário – realizado através de imitação e repetição, o professor pode incentivar a criatividade, procurando que em cada aula haja lugar para a improvisação verbal, vocal, instrumental e corporal.

[ Graça Boal Palheiros ]

CURRÍCULO, PROGRAMA, PLANIFICAÇÃO

O currículo, o programa ou a planificação de unidades de ensino não sendo sinónimos, interligam-se e interagem nos seus vários elementos no qual se incluem os seguintes considerados fundamentais (Ribeiro, A. Carrilho; Ribeiro, L. Carrilho, 1990):
– contexto e justificação;
– quadro de objectivos;
– roteiro de conteúdos;
– plano de organização e sequência do ensino-aprendizagem;
– plano de avaliação.
[ Manuela Encarnação ]

DESEMPENHOS

Em educação musical a observação dos desempenhos é fundamental, já que a maior parte do conhecimento musical não se demonstra através de testes escritos, mas é exposta no corpo, na voz, na execução instrumental e nos objectos musicais criados. (…), é necessário que o professor esteja na posse de grelhas de observação adequadas.

[ José Carlos Godinho ]

DESENVOLVIMENTO FÍSICO-MOTOR

O desenvolvimento físico-motor através, por exemplo, do movimento, danças e dramatizações é essencial para a aprendizagem e interpretação musical. A vivência e a reação da criança a diferentes estilos e culturas musicais através do movimento contribui para a aquisição de conceitos, a assimilação de padrões e estruturas e o desenvolvimento da memória musical, a consciencialização da pulsação, do ritmo e do carácter das peças musicais.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

DISPONIBILIDADE

Para que a música seja ensinada através do ouvido, por forma a que os alunos possam realmente aprender música e não simplesmente ser treinados para a executar, os pais e os professores devem dispor de muito tempo; os primeiros para apoio em casa, os últimos para o ensino no dia-a-dia escolar.

[ Edwin Gordon ]

DIVERSIDADE DE MÚSICAS

À medida que os alunos escutam e executam uma vasta gama de trechos musicais, escutam também e executam entre si padrões tonais e rítmicos; em alguns casos, o professor estabelece a tonalidade ou a métrica e os alunos fazem a audiação dos padrões numa sintaxe. Outras vezes, os alunos assimilam os padrões numa tonalidade ou métrica que, seguidamente, eles próprios identificam. Outras vezes ainda podem cantar, entoar, ou passar para padrões tonais ou rítmicos familiares, ou mesmo dar resposta a padrões que não lhes são familiares.

[ Edwin Gordon ]

ESCRITA MUSICAL

A escrita musical é, portanto, uma ferramenta fundamental para registar as nossas criações musicais e partilhá-las com os outros, mas é também um instrumento essencial que permite o acesso a um vasto repertório musical de diferentes estilos.

[ José Carlos Godinho ]

EDUCAÇÃO

A educação monocultural revela poucas hipóteses no desenvolvimento da imaginação, não lhes proporcionando, dessa forma, a capacidade de conhecer alternativas. Eliminando a conciência de alternativas, a educação monocultural limita a imaginação e cultiva a ilusão de que o mundo se restringe ao seu próprio mundo e que a única forma natural de fazer estas coisas é a forma tradicional.

[ Maria do Rosário Sousa ]

ENCENAÇÃO

Um espetáculo musical vive do que se ouve, mas também do que se vê. É importante que a cena se desenrole num ambiente adequado, que pode ser enriquecido não só com cenários e adereços mas também com jogos de luz. As roupas dos intérpretes é também crucial na encenação e contribui decisivamente para o profissionalismo do espetáculo.

[ José Carlos Godinho ]

ENSINO

No ensino de uma peça, cada parte trabalhada com mais pormenor, deve estar relacionada com a sua totalidade; não se ensinam a melodia de uma canção numa aula, o texto, o acompanhamento e o movimento nas aulas seguintes. Será preferível ensinar uma canção mais curta, mas executar a sua totalidade.

[ Graça Boal Palheiros ]

ESPETÁCULO

Um espetáculo de fraca qualidade musical pode ter efeitos contrários em todos os aspectos referidos. Neste sentido, é necessário que os professores assegurem várias condições para levar a cabo projetos musicais que culminem em apresentações públicas.

[ José Carlos Godinho ]

EXPERIMENTAÇÃO, IMPROVISAÇÃO E COMPOSIÇÃO

A experimentação, a improvisação e a composição são outros aspectos essenciais no desenvolvimento das aprendizagens e das competências artístico-musicais. No entanto a liberdade que este tipo de trabalho comporta assenta não só na utilização de material e experiências de aprendizagens diversificadas como também na organização do material sonoro e musical de um modo cada vez mais estruturado.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

EXPRESSIVIDADE

A música enquanto arte enriquece a vida humana. A expressividade e a musicalidade da criança devem ser estimuladas, e a relação entre a música e outras artes (teatro, drama, mímica, dança, pintura, literatura…) contribui também para desenvolver a sensibilidade artística e estética da criança.

[ Graça Boal Palheiros ]

EXPRIMIR

A música é uma expressão de emoção e as palavras uma expressão do pensamento. Mantenha-se em contacto com a música que o seu filho ouve. Junte-se a ele de vez em quando e ouça a sua música favorita. Pergunte-lhe porque é que determinada canção é importante, quais as partes da letra de que ele mais gosta. Esta é uma forma de comunicar com o seu filho e aperceber-se de coisas que de outro modo não saberia acerca dele.

[ Jamie Blumenthal ]

FINALIDADES DA MÚSICA

São finalidades do ensino da Música no 1º ciclo do Ensino Básico:
> Desenvolver competências de discriminação auditiva abrangendo diferentes códigos convenções e terminologias existentes nos mundos da música;
> Desenvolver competências vocais e instrumentais diversificadas, tendo em conta as diferentes épocas, estilos e culturas musicais do passado e do presente;
> Desenvolver competências criativas e de experimentação;
> Desenvolver competências transversais no âmbito da interligação da música com outras artes e áreas do saber;
> Desenvolver o pensamento musical.
[ António Ângelo Vasconcelos, OPEM1CEB ]

GRAUS DE DIFICULDADE

As canções, as peças instrumentais ou os exercícios rítmicos e melódicos, podem ser mais simples ou mais complexos, e o seu grau de dificuldade deve ser adaptado às características das crianças.

[ Graça Boal Palheiros ]

GRUPO

As crianças gostam de trabalhar em grupo, que representa um apoio, sobretudo para as que são mais tímidas ou têm mais dificuldades. A comunidade é um meio privilegiado de experiências sociais e a atividade musical realizada em grupo (cantar, tocar, dançar, ouvir, criar) contribui também para o desenvolvimento de competências sociais.

[ Graça Boal Palheiros ]

IMAGINAÇÃO

É na idade do 1º Ciclo que a imaginação deve ser estimulada; as oportunidades para o desenvolvimento emocional, que integram a experiência da capacidade para sentir e o poder de controlar a expressão desse sentimento, também devem ser proporcionadas. Tudo o que uma criança experimenta nessa idade, tudo o que é despoletado e alimentado é um factor determinante para toda a vida.

[ Carl Orff ]

INFÂNCIA

Não será surpresa que as crianças que tenham tido menos oportunidades para cantar ou que lhes cantassem, entrarão muito provavelmente na escola como cantores menos competentes. Infelizmente, este último grupo será mais facilmente rotulado de “não-musical” por adultos insensíveis e mal informados. Comentários negativos de tais professores com base na observação da capacidade de cantar, gera humilhação pública em frente dos amigos e colegas e uma sensação de vergonha e inadequabilidade que poderá levar a que tenha, durante toda a vida, uma auto-perceção de incapacidade musical.

[ Graham Welsh ]

INSTRUMENTOS

Quer os instrumentos rítmicos feitos em casa quer os comprados na loja, como tambores e clavas, podem ser postos à disposição das crianças para as incentivar a acompanhar o seu próprio canto e movimento, podendo os pais e professores participar nessas atividades.

[ Edwin Gordon ]

INVENÇÃO DE MELODIAS SIMPLES

A invenção de melodias simples pode muito bem fazer-se, sobretudo a partir de certos ritmos corporais, dados ou inventados, ou então, o que é ainda mais natural, partindo de pequenas poesias ou de frases, que podem vir da própria criança.

[ Edgar Willems ]

HARMONIA

As leituras devem ser acompanhadas com instrumentos harmónicos tocados ao vivo ou com orquestrações previamente gravadas. Isto atribui um significado harmónico às notas e às melodias.
[ José Carlos Godinho ]

IMPROVISAÇÃO

As atividades de improvisação e composição exigem algum treino e alguma técnica, o que pressupõe a realização de exercícios. Na sala de aula, os professores não podem pedir às crianças que ‘inventem uma música’ a partir do nada. Deverão dar alguns exercícios, exemplos, e sugestões, que sirvam como modelos, e que ofereçam uma base a partir da qual as crianças possam mais facilmente criar música.

[ Graça Boal Palheiros ]

INSTRUMENTO

Aprender a tocar um instrumento pode fornecer-nos um sentido de auto-estima e ajudar a desenvolver capacidades importantes. Ler música ajuda a desenvolver capacidades matemáticas, de leitura e de coordenação “olhos-mãos”. Tocar um instrumento desenvolve a coordenação motora, e se o instrumento for de sopro, podem também tornar-se mais desenvolvidas as capacidades motoras orais. Um estudo recente de crianças em idade pré-escolar mostrou que as aulas de piano desenvolviam o seu raciocínio espacio-temporal.

[ Jamie Blumenthal ]

INTERPRETAÇÃO

Na interpretação de canções, sobretudo com crianças, pode associar-se o movimento ao canto: os gestos, a mímica, a percussão corporal, as danças, o movimento livre, que as crianças fazem com prazer, são altamente motivadores e formativos. Para a interpretação vocal em coro, é necessário treinar outros aspectos. Além de cantar afinada, correta e musicalmente, a criança deve ter uma postura correta, estar atentas às indicações do professor e ouvir os colegas.
[ Graça Boal Palheiros ]

LEITURA E ESCRITA NA PAUTA

A leitura e escrita na pauta deverá, sempre que possível e desejável, constituir-se como atividade regular nas aulas de educação musical, articulando-se com as atividades de interpretação vocal, corporal e instrumental, de composição ou mesmo de audição musical. Essa articulação e regularidade, atribuirão à música escrita a sua importância, a sua utilidade e permitirão uma aprendizagem eficaz por parte das crianças.

[ José Carlos Godinho ]

LINGUAGEM

A música pode ser usada para ensinar e melhorar o discurso e a linguagem. Ela incorpora ritmo, tom e palavras, todos parte do discurso e da linguagem. Ambos os lados do cérebro são usados com música, logo a informação pode ser aprendida através da música e eventualmente transferida para o discurso e para a linguagem.

[ Jamie Blumenthal ]

LITERACIA MUSICAL

O desenvolvimento da literacia musical constitui-se como o grande objectivo do ensino da música no 1º ciclo do Ensino Básico. A literacia musical além de significar uma compreensão musical determinada pelo conhecimento de música, sobre música e através da música, engloba também competências da leitura e escrita musicais.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

MELODIA E HARMONIA

A melodia e a harmonia devem poder achar um apoio sólido numa educação sensorial auditiva, tornada concreta por meio de um material auditivo tal como nos oferecem certos métodos modernos de educação musical. Isto não significa de forma alguma que o sensorial deva prevalecer sobre o resto. A natureza da música é de outra ordem, mas ela requer a sensorialidade como meio de utilizar a matéria sonora com inteligência e sensibilidade.

[ Edgar Willems ]

MELODIAS E ACORDES

Muitas melodias fazem pressentir os acordes (escalas, modos, intervalos melódicos); uma melodia cantada em cânone é também uma preparação para a harmonia; vêm em seguida as canções a duas vozes, por vezes exclusivamente em terceiras.

[ Edgar Willems ]

MEMÓRIA

É necessário desenvolver a memória musical, fundamental para a audição e a compreensão da música. O facto de se ver uma representação gráfica da totalidade da música é uma ajuda preciosa para a audição. Vários estudos de investigação têm revelado que a audição com a apresentação simultânea de materiais visuais (esquemas da música, gravações video de performances) melhora a perceção musical e ajuda a compreender a totalidade da música.

[ Graça Boal Palheiros ]

MÚSICA E DESENOLVIMENTO PESSOAL

A música estimula o crescimento de estruturas do cérebro e liga muitas áreas cerebrais ativadas. A prática musical requer uma óptima coordenação motora e melhora o círculo fonológico. Não é uma questão de ser processada no hemisfério esquerdo ou direito do cérebro, porque ela promove uma forte interligação e coerência dos dois hemisférios. Como demonstra o tratamento de crianças com implantes da cóclea, a música funciona como um estímulo altamente diferenciado para o cortex auditivo subdesenvolvido.

[ Wilfried Gruhn ]

MUSICOGRAMA

Integrando a metodologia da audição musical ativa, o musicograma utiliza as vantagens da perceção visual para apoiar a perceção auditiva, sendo a sua elaboração baseada em princípios psicológicos da perceção visual. O termo ‘musicograma’ significa a representação gráfica do que se passa na música, segundo o princípio de representar o tempo no espaço.

[ Graça Boal Palheiros ]

NOTAS MUSICAIS

A aprendizagem das notas poderá ser feita através de uma sequência gradual, facilitando, da mesma maneira, a aprendizagem instrumental por etapas pré-estabelecidas.

[ José Carlos Godinho ]

MOVIMENTO

Além de encorajar as crianças a escutar música, os pais e os professores devem encorajá-las a proceder a uma série de atividades de movimento.
O movimento desenvolve a sua coordenação física e esta é essencial para o movimento continuado e fluido que as prepara para o desenvolvimento rítmico.

[ Edwin Gordon ]

LINGUAGEM E POESIA

A linguagem e a poesia, que têm estado muitas vezes ligadas à música e que a têm inspirado, são também fontes fecundas para o ritmo musical; elas têm conservado no compositor uma flexibilidade que a métrica clássica tantas vezes tem banido.

[ Edgar Willems ]

ORGANIZADORES DAS APRENDIZAGENS

De acordo com o Currículo Nacional do Ensino Básico, as aprendizagens e as competências que as crianças vão adquirindo e desenvolvendo ao longo do 1º ciclo do ensino Básico apresentam-se em torno de quatro organizadores:
• Perceção sonora e musical
• Interpretação e comunicação
• Experimentação e criação
• Culturas musicais nos contextos

[ António Ângelo Vasconcelos ]

ORIENTAÇÕES PROGRAMÁTICAS

As actuais orientações programáticas para a educação musical no ensino genérico, não só em Portugal como em muitos outros países, apontam para um ensino da música estruturado em torno de três eixos fundamentais: composição, audição e interpretação. Os principais pressupostos desta orientação de trabalho assentam na ideia que estes três domínios constituem as três áreas possíveis de experiência musical directa.

[ José Carlos Godinho ]

OUVIDO

A canção deve ser aprendida de ouvido, por imitação, porque o treino auditivo e a memória são fundamentais. A observação da partitura da canção pode ser também uma introdução à notação musical, através da leitura das notas. O processo a realizar pelos alunos será ouvir, imitar, cantar, observar, consciencializar, cantar, aprender.

[ Graça Boal Palheiros ]

PALCO

Nem sempre as escolas têm salas apropriadas para a realização de espetáculos nas melhores condições, tendo os professores que improvisar em espaços que nem sempre oferecem as melhores condições. É importante que se garantam, no entanto, condições para quem actua e para quem assiste. O público deve estar bem sentado e ter uma boa visibilidade da cena.

[ José Carlos Godinho ]

PARTITURAS

É fundamental a utilização de instrumentos para com eles proceder também à leitura das partituras. A leitura na pauta ganha assim uma importância e pertinência muito maior, já que as crianças percebem de imediato a sua utilidade prática.

[ José Carlos Godinho ]

PERCEÇÃO AUDITIVA E AUDIAÇÃO

A perceção auditiva tem lugar quando ouvimos realmente um som, no momento em que está a ser produzido. Mas só audiamos realmente um som depois de o termos auditivamente apercebido. Na perceção auditiva lidamos com acontecimentos sonoros imediatos. Na audiação, porém, lidamos com acontecimentos musicais que podem não estar a ocorrer na altura.

[ Edwin Gordon ]

PERTENÇA

A música faz parte da educação das crianças e dos jovens pelas mesmas razões que a linguagem e os números – para alargar e solidificar o sentimento de pertença de cada um ao grupo social e contribuir para a cultura da qual a sociedade depende para a sua unicidade e unidade.

[ J. Terry Gates ]

PLANIFICAÇÃO DE ATIVIDADES MUSICAIS

Na planificação das atividades musicais considera-se fundamental que o professor tenha em conta:
– o que os alunos vão aprender;
– como vão aprender;
– o repertório que vão estudar;
– as competências adquiridas.
[ António Ângelo Vasconcelos ]

PLURALIDADE CULTURAL

A educação musical escolar terá mais sucesso se abranger quer a pluralidade de culturas musicais dentro da comunidade quer as preferências individuais iniciais das crianças por determinados tipos de música (e de canções). A música e as práticas musicais populares são geralmente deficientemente representadas na música na escola, o que conduz a uma ligação inadequada entre os interesses e as identidades musicais dos alunos e os currículos com que contactam. As crianças pequenas gostam de canções dinâmicas, e frequentemente usam as canções para fins específicos e indivíduos que se relacionam com as suas atividades.

[ Graham Welsh ]

POPULAR

Os pais e os professores não devem subestimar o valor da música popular porque, além de ajudar os adultos a recuperarem o entusiasmo pela música da sua infância, a música popular tende a ter uma pulsação forte e estável, a que as crianças são capazes de responder.

[ Edwin Gordon ]

POTENCIAL

Se o potencial inato duma criança não for desenvolvido até aos nove anos – e quanto mais cedo melhor -, as influências do meio ambiente deixarão de ter qualquer efeito sobre esse potencial.

[ Edwin Gordon ]

PRÁTICA INSTRUMENTAL

A prática instrumental é outra dimensão importante na aprendizagem e no desenvolvimento das competências da criança. A introdução da aprendizagem dos instrumentos efectua-se de modo gradual e adequado aos diferentes tipos de desenvolvimento cognitivo, sensório-motor e técnico artístico. É necessário tempo para apropriar os diferentes tipos de técnicas, tocar em conjunto, explorar os instrumentos, para praticar e para melhorar os desempenhos.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

O processo de ensino e aprendizagem da educação musical consiste na interação de um conjunto de atividades relacionadas com a audição, interpretação e composição. Esta interação caracteriza-se por três aspectos essenciais: O primeiro é que todas estas atividades são atividades criativas; o segundo, diz respeito ao facto de que as práticas musicais podem envolver mais do que uma atividade em simultâneo. O terceiro e último aspecto diz respeito ao facto de ouvir, interpretar e compor estar interligado com os contextos de criação e ação artística.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

PROGRAMA

É também importante que a informação do que for interpretado no espetáculo seja partilhada com o público, quer através da narração durante a atuação, quer através de programas a distribuir aos assistentes. Aqui devem constar os títulos das peças, o nome dos compositores e o nome dos intérpretes e até algumas notas de programa pertinentes.

[ José Carlos Godinho ]

PROJETO

O projeto curricular de escola deverá ter em conta as o Programa de Expressão e Educação Musical do 1º ciclo e as Orientações Programáticas para o ensino da música que é o terceiro nível de concretização do currículo e que por sua vez precede a programação da aula. É fundamental que se parta dos interesses dos alunos, das suas capacidades e do seu desenvolvimento psicossocial. As orientações programáticas para o ensino da música partilham com o projeto curricular da escola, os mesmos fins e contêm, principalmente, os objectivos, as competências específicas a desenvolver, os conteúdos e os critérios de avaliação.

[ Manuela Encarnação ]

QUALIDADE

Face às orientações metodológicas do currículo, a implementação e desenvolvimento desta dinâmica tripla de composição, interpretação e audição em sala de aula constitui uma directiva que deve ser cumprida. De qualquer modo, é fundamental que, acima de tudo, o professor esteja atento à qualidade dos desempenhos musicais, sejam eles nas áreas da criação, da execução ou da análise.

[ José Carlos Godinho ]

REPERTÓRIO

O público espera mais de um grupo de intérpretes de 9 anos do que de um grupo de 6 anos. Tal como o público, também as crianças sentem essa exigência e obrigação, pelo que um repertório muito fácil ou infantil pode desmotivar crianças mais crescidas ou contribuir para o desenvolvimento de inibições.
[ José Carlos Godinho ]

REPRESENTAÇÃO

A representação gráfica do som faz parte de um percurso que se inicia pelo registo do gesto livre, ganha gradualmente concisão e poder comunicativo, organizando-se em conjuntos de sinais e símbolos. A utilização de símbolos de leitura e escrita musical e o domínio de géstica adequada, decorrentes da prática musical contemporânea deve, quando possível, ser integrada.

[ Organização Curricular e Programas do 1º Ciclo do Ensino Básico ]

RÍTMICA

Na educação rítmica de todos os graus, desde os pequeninos até aos profissionais, o ritmo puro, pré-musical – que se acha também nas outras artes e na natureza – pode vivificar o músico. (…) Os ruídos da natureza, a água sob os seus diversos aspectos tais como a chuva, os ribeiros, os rios, as ondas do mar; as avalanchas, as erupções vulcânicas, o trovão.

[ Edgar Willems ]

RITMO, MELODIA, HARMONIA E TIMBRE

A música tem quatro elementos essenciais: o ritmo, a melodia, a harmonia e o timbre, ou colorido tonal. Essses quatro ingredientes são a matéria-prima do compositor. Ele trabalha com eles do mesmo modo que qualquer outro artesão trabalha os seus materiais.

[ Aaron Copland ]

SIGNIFICADO DA MÚSICA

É aprendendo a escutar e a identificar padrões na música que os alunos se preparam para ouvir e executar com compreensão o repertório musical comum, em vez de simplesmente aprenderem de cor e imitando memorizando, sem lhe atribuirem significado musical. Ao atribuir significado à música, os alunos são capazes não só de tocar boa música de outrem mas também de compor a sua própria música.

[ Edwin Gordon ]

SOM

Som em si mesmo não é música. O som só se converte em música através da audiação, quando, como com a linguagem, os sons são traduzidos na nossa mente.

[ Edwin Gordon ]

SUCESSO ESCOLAR

Os cientistas afirmam que as crianças expostas à música, ou que tocam um instrumento, têm mais sucesso na escola do que as outras crianças. Pesquisas recentes sugerem que a exposição à música beneficia a iniciação à leitura, o QI e o desenvolvimento de certas partes do cérebro.

[ Espie Estrella ]

TÉCNICA INSTRUMENTAL

O instrumento, particularmente o piano, ajuda a concretizar os elementos mais ou menos abstractos da música. A técnica instrumental, feita num sentido musical e vivo, pode ser uma fonte de prazer.

[ Edgar Willems ]

TESTE

Seja qual for o valor dum teste, este pode ser utilizado erradamente e negar oportunidades às crianças, ou estigmatizá-las como lentas ou incapazes de atingir as exigências duma aula normal.

[ Edwin Gordon ]

TOCAR

Tocar um instrumento ou participar num programa musical na escola (ou incorporar a música nas atividades da sala de aula em áreas como História ou Ciências), tem provado exercer efeitos muito positivos ao nível da aprendizagem, da motivação e do comportamento.

[ Don Campbell ]

TODAS AS CRIANÇAS CONSEGUEM

O pressuposto é que todas as crianças conseguem desenvolver competências no domínio musical, embora em patamares diferenciados. Ou seja, todas as crianças podem desenvolver o mesmo tipo de competência. A diferenciação situa-se nos diferentes níveis de aprofundamento alcançados.

[ António Ângelo Vasconcelos ]

UNÍSSONO OU A VOZES “A CAPELA”

Cantar em uníssono ou a vozes sem acompanhamento instrumental é igualmente uma atividade rica e fundamental com vista à afinação, à entoação, ao canto coral e à audição interior.

[ José Carlos Godinho ]

VOCAL

A prática vocal está no centro da aprendizagem musical ao longo do primeiro ciclo. Sendo a voz um dos instrumentos principais a utilizar, ela pode ser explorada de diferentes modos contribuindo para o seu bom desenvolvimento. Se numa fase inicial a criança utiliza um âmbito vocal relativamente reduzido, o trabalho a desenvolver deve potenciar o seu incremento através do canto a uma ou a mais vozes, a capela e com acompanhamento instrumental.
[ António Ângelo Vasconcelos ]

VOCALIZOS E DICÇÃO

Para uma dicção correta deve-se sempre incluir nos vocalizos exercícios que descontraiam a língua: exercícios para o legato com vogais e exercícios de articulação de consoantes. Estes exercícios devem ter em conta a sequência de movimentação da língua, ou seja: “I, E, A, O, U”, que leva a um contínuo abaixamento e alargamento da língua. Fazer exercícios em “Ri, ré, rá, ró, ru” ou “Li, lé, lá, ló, lu”, para a ponta da língua, e em “Qui qué cá, có, cu”, para a base da língua, e também exercícios para a descontração do maxilar inferior.

[ Joana de Quinhones Levy ]

VOZ E CORPO

A voz é o instrumento mais natural, que todos possuímos e devemos desenvolver. Em primeiro lugar, estão a voz e o corpo e em segundo lugar, os instrumentos, que representam a extensão do corpo e devem apoiar o canto, não substituindo a expressão vocal. É fundamental cantar bem e ensinar as crianças, desde pequenas, a cantar correta e expressivamente. Como as crianças aprendem a cantar essencialmente por imitação, é essencial que o professor treine a sua voz, para poder cantar bem, emitindo um som de boa qualidade.

[ Graça Boal Palheiros ]

Reciclanda em Santiago do Cacém, 2025

Reciclanda em Santiago do Cacém, 2025

Na Meloteca, as boas práticas musicais são uma fonte de inspiração. “Aprender Inglês a cantar” relata uma experiência realizada num colégio do estado de São Paulo, Brasil.

APRENDER INGLÊS A CANTAR

FESTIVAL DE MÚSICA PROMOVE ENSINO DO INGLÊS EM COLÉGIO DO BRASIL

Os alunos enfrentam o palco: sozinhos, em grupo

Por volta do ano 2000, o Colégio Nossa Senhora do Morumbi, da rede particular paulistana, (Brasil) criou uma forma original de incentivar o ensino da Língua Inglesa. Partindo do interesse dos alunos pelos exercícios do idioma com músicas, o colégio criou o Song Festival, um festival anual em que só entram canções com letras em inglês. A ideia foi de duas professoras do idioma, Vívian Rosio Figueredo e Rosa Mina Sakamoto. “O grande resultado é que nossos alunos aprendem com prazer”, disse Vívian.

O festival contou com a adesão do Colégio Mopyatã, que funciona em conjunto com o Nossa Senhora do Morumbi. Enquanto o Morumbi tem turmas de 1ª a 8ª série, o Mopyatã atende alunos de educação infantil e ensino médio. Participaram no festival os estudantes de 5ª a 8ª série e do ensino médio dos colégios.

INGLÊS DESDE O PRIMEIRO ANO DE ESCOLARIDADE

Na primeira etapa, todos os alunos das séries envolvidas escrevem pelo menos um poema em inglês, na sala de aula. “Como no Morumbi as aulas de Inglês começam na 1ª série, mesmo os de 5ª dão conta da tarefa”, diz Vívian. “Eles descobrem que podem escrever apesar de ter um vocabulário restrito e ainda melhoram sua pronúncia”, garante a professora.

O colégio contratou uma banda para compor as músicas a partir dos poemas dos alunos. Os estudantes podem concorrer na categoria de compositor e também como cantores ou instrumentistas. Nos dois últimos casos, eles podem participar do festival com qualquer música, não é necessário utilizar o poema. No festival do ano passado, quarenta concorrentes participaram, doze deles como compositores e 28 como intérpretes. Pais de alunos, professores e funcionários da escola também concorrem, mas numa categoria especial. Os prémios, o equipamento de som e a divulgação do festival são pagos com patrocínios.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Um exercício de redacção que se transforma em aula de música

1. Criação do poema

O festival é realizado em etapas, ao longo do ano. A primeira fase dele é feita no mês de Abril. Durante duas ou três aulas, os alunos, sozinhos ou em pares, escrevem o poema. Nessa tarefa, usam o vocabulário que estão a utilizar na aula, trabalham com rima e lidam com questões gramaticais, com ajuda do professor. “Damos ideias para o tema e tiramos dúvidas sobre tempos verbais, adjectivos, preposições e outras dificuldades de gramática”, conta Vívian. “Muitos escrevem mais de um poema para ter mais hipóteses de classificação”, diz Rosa.

2. Correcção e seleção inicial

Todos os poemas são avaliados pelas professoras Rosa e Vívian. Elas corrigem os erros de gramática e ortografia, e ainda fazem comentários sobre a coerência, a organização e a originalidade dos textos. Apenas os trabalhos escolhidos por elas passam para a segunda fase de selecção do festival. “Escolhemos os que têm mais coerência, profundidade e que não apresentem problemas graves de gramática e ortografia”, descreve Vívian.

3. Inscrição

Em Junho, os alunos recebem fichas de inscrição para o Festival e escolhem se vão participar como intérpretes, compositores ou em ambas as categorias. Quem concorre como intérprete diz na ficha que música vai cantar e pode inscrever uma banda completa, na qual pode haver pessoas de fora do colégio. Essa categoria é a mais procurada. “Os alunos acham que, se cantarem uma música baseada nos poemas deles mesmos, não farão sucesso porque a canção não é conhecida”, diz Rosa.

4. Segunda selecção

Durante as férias de Julho, o músico Marcelo Zurawski, contratado pelo Colégio, recebe de Rosa e Vívian a selecção inicial de poemas e escolhe entre eles os que possam ser adaptados a uma música. Apenas esses escolhidos concorrem na categoria compositor.

Em Agosto, no regresso às aulas, Marcelo, a sua banda e os alunos que escreveram os trabalhos aprovados nas duas selecções compõem juntos as músicas, a partir dos poemas. Com os que concorrem como intérpretes, o primeiro passo é conseguir a letra completa da música escolhida. Os professores treinam a pronúncia de todos os participantes.

Versos adolescentes

Trecho do poema Jail of Soul (Prisão da Alma), da aluna de 7ª série Mariana Vieira.

Everybody says what I have to do
I don’t know why
Maybe’cause they think that I’m a fool

My words won’t fly (…)

Telling lies about me
Just because I’m free
I choose my way
But they don’t let me go (…)

Todo mundo diz o que eu tenho que fazer
Não sei porquê
Talvez seja porque eles pensam que sou um tolo

Minhas palavras não vão voar (…)
Dizendo mentiras sobre mim
Apenas porque sou livre
Eu escolho meu caminho
Mas eles não me deixam ir (…)

Observe que a estudante utilizou várias aplicações da gramática inglesa, como os verbos “to do” e “to be”, vários tipos de pronomes e de tempos verbais e até uma expressão com abreviatura: maybe’cause, cuja forma extensa seria maybe it is because.

Adriana Vera e Silva (1998, adaptado pela Meloteca)

Cantando ao micro

Cantando ao micro

MÚSICA NO 3º CICLO

REORGANIZAÇÃO CURRICULAR

ORIENTAÇÕES CURRICULARES

OBJECTIVOS GERAIS

Os objectivos gerais para a educação musical no 3º ciclo são entendidos como elementos estruturantes para o trabalho no domínio das aprendizagens musicais, ao longo de cada ano do ciclo, articulando o desenvolvimento e os saberes do aluno com as necessidades de apropriação dos conhecimentos técnico-artístico musicais.

O envolvimento em actividades musicais centradas no canto, em pequenos ou grandes grupos, potenciam não só a oportunidade de apropriação de diferentes vocabulários musicais como também, são um meio, individual e colectivamente considerado, de fomentar e experienciar diferentes obras da literatura musical.

A aprendizagem e a utilização de diferentes tipos de instrumentos musicais (tradicionais, electrónicos, inventados) são primordiais no desenvolvimento da literacia musical quer na sua vertente prática e lúdica, quer na descoberta e apropriação de diferentes tipos de elementos e conceitos musicais e outros existentes nas diferentes culturas musicais.

Produz e participa em diferentes tipos de espectáculos musicais, vocais e instrumentais

A criação, produção e participação em diferentes tipos de espectáculos musicais é um instrumento poderoso para colocar os diferentes saberes em acção. Neste sentido, potenciar o desenvolvimento das práticas artísticas na sala de aula, na escola e na comunidade constitui-se como um dos aspectos centrais da aprendizagem.

Aprofunda a compreensão e a utilização do vocabulário musical e dos princípios composicionais

Aprendizagem de como os diferentes elementos sonoros e musicais interagem e se organizam na criação de diferentes tipos de obras musicais. Os princípios e técnicas composicionais são instrumentos que ajudam a organização dos sons e das ideias que permitem a coesão e a singularidade de cada obra. A compreensão e a manipulação destes princípios e técnicas possibilitam o entendimento das maneiras como os diferentes compositores os utilizam para a criação artística, bem como as formas pessoais de expressão e comunicação.

A exploração, o reconhecimento e a reflexão sobre diferentes mundos sonoros que integram o seu quotidiano real e imaginário, a familiaridade com a multiplicidade de sons, contribui para o desenvolvimento de competências no domínio da percepção e discernimento sonoro e musical bem como apropria a diversidade de formas de utilização do som.

Com este objectivo pretende-se que o aluno adquira competências para comunicar e expressar ideias, sentimentos, imagens utilizando a voz e diferentes tipos de instrumentos manipulando diferentes códigos e convenções, desenvolvendo o seu pensamento musical Assim neste ciclo de aprendizagem o aluno deverá ser estimulado para usar o seu conhecimento sobre os diferentes mundos sonoros, para o desenvolvimento dos seus trabalhos composicionais e interpretativos, para comunicar as suas ideias através de sons. Deve desenvolver as suas competências no domínio das diferentes formas de representação gráfica dos sons.

Por outro lado, a utilização de uma variedade de instrumentos musicais e de fontes sonoras, incluindo a voz, potencia a compreensão dos diferentes tipos de recursos que o músico e o compositor dispõe para a elaboração das suas obras. possibilitando respostas inovadores a determinados problemas de carácter técnico, estético e musical.

Compreende a música como construção humana, social e cultural e as inter-relações com os diferentes quotidianos e áreas do saber

Consoante as diferentes sociedades e culturas, grupos e comunidades, a música adquire usos e papéis diferenciados. Da evocação de determinadas imagens e sentimentos, às formas de expressão pessoal, da utilização para fins políticos e religiosos ao entretenimento. O entendimento destes propósitos serve também identificar e compreender como é que os seus quotidianos são influenciados pelos diferentes tipos de música que ouvem e consomem. Assim, perceber o papel dos músicos na sociedade, os períodos históricos, as localizações geográficas, por exemplo, são aspectos que deverão ser investigados e analisados. Estilos musicais, técnicas e formas utilizadas, as diferentes utilizações que as sociedades e os compositores utilizam os instrumentos são outras componentes importantes a ter em consideração.

Por outro lado, a música está intimamente ligada a diferentes artes e outras áreas de conhecimento. Daí a necessidade da compreensão destas relações e das diferentes formas como os criadores as utilizaram, articulando-as com determinados tipos de tecnologias.

Aprofunda o conhecimento do trabalho de músicos e compositores de culturas musicais diferenciadas

No desenvolvimento da literacia e cultura musical a compreensão do papel desempenhado pelas artes e pelos artistas nas diferentes sociedade e culturas, do passado e do presente, é outro aspecto que se afigura importante para a compreensão das diferentes subjectividades artísticas. Assim, o aluno deve ouvir e reflectir sobre um conjunto alargado de obras musicais estudando os contextos onde essas obras são produzidas. Investigando as histórias individuais de diferentes músicos e compositores o aluno vai incorporando as diversas complexidades existentes no mundo artístico-musical. Os artistas contemporâneos de diferentes estilos (erudito, jazz, pop, experimental, world music, etc) devem estar incluídos no âmbito deste trabalho de forma a possibilitar uma compreensão mais aprofundada da diversidade de propósitos, estilos e pressupostos existentes na música que se produz nas sociedades contemporâneas.

Desenvolve o pensamento crítico que sustente as opiniões, as criações e interpretações

O aluno deve ser encorajado a investigar e a discutir fundamentadamente acerca dos diferentes tipos de música que escutam na sala de aula e no seu quotidiano, através da apropriação de um vocabulário que lhes permita descrever as suas percepções e reacções.

Assim, a utilização de um vocabulário apropriado permite construir um processo de análise, discussão, e compreensão mais consciente dos vários aspectos que compõem as diferentes culturas musicais e dos princípios comunicacionais e estéticos associados.

Aprofunda os conhecimentos de utilização de diferentes tecnologias e software

No sentido lato, tecnologia, inclui todos os tipos de meios de comunicação e produtos como os instrumentos acústicos, rádios, televisão, gravação áudio e vídeo, sintetizadores computadores e programas de software. A utilização de diferentes tipos de programas musicais e de multimédia contribuem para que o aluno explore e desenvolva composições musicais, sistemas de representação dos sons e recolha de informações relacionados com compositores. Por outro lado, a sequenciação, a criação e edição musical e os controladores multimédia, por exemplo, são meios importantes para a exploração sonora dos instrumentos, para a manipulação, organização e comunicação de diferentes tipos de ideias musicais e outras.

Coro Infanto-Juvenil do Agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins

Coro Infanto-Juvenil do Agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins na Praça da Alegria

O MÉTODO HÚNGARO

Excerto de Música Tradicional na Iniciação Musical, por Ana Sofia Alves Amorim Lopes, 2014

O Método Húngaro começou a ser desenvolvido apenas nos finais de 1940, apesar das recolhas etnomusicológicas de Kodály e Bartók terem começado em 1905 e de Kodály ter escrito textos e materiais didácticos a partir dos anos 20. Diferentes factores conduziram o pedagogo húngaro e seus colaboradores a elaborar este novo sistema público de ensino da música, sendo central a necessidade de reforçar a identidade cultural nacional.

Durante séculos a Hungria foi ocupada por diferentes povos, tendo perdido a sua independência para o Império Otomano, para a Áustria, a Alemanha Nazi e a URSS. Os húngaros viram o seu território reduzido para um quarto, em 1920, pelo Tratado de Trianon. Sob o domínio austríaco, a população, sobretudo a citadina, passou a falar maioritariamente o alemão e não o húngaro. No início do século XX, Kodály viu na música um meio que possibilitava a unificação do povo húngaro, através de uma cultura comum que incluía a língua e as tradições musicais. A voz – o instrumento musical acessível a todos – seria essencial em todo este processo.

Foi neste contexto que Béla Bartók e Zoltán Kodály fizeram recolhas sistemáticas de música tradicional da Hungria e países vizinhos e começaram a harmonizar melodias tradicionais e a compor a partir dos materiais recolhidos. Conscientes de que a estética da sua música não seria compreendida pelo público húngaro, sentiam a necessidade de o educar culturalmente, dando-lhe acesso a uma educação musical baseada na música tradicional e na música erudita, para formar músicos e ouvintes esclarecidos.

Apesar de ser conhecido como “Método Kodály”, o Método Húngaro resultou de um trabalho etnomusicológico feito inicialmente com Bartók e depois com discípulos de ambos, e de uma organização pedagógica orientada por Kodály e feita com a colaboração de professores, entre os quais se destacam Jenő Ádám, Katalin Forrai e Erzsébet Szőnyi.

Os princípios e os objectivos deste método de educação musical foram enunciados por Kodály. Seleccionou técnicas utilizadas noutros países da Europa, como as desenvolvidas por Guido d’Arezzo (991/2-depois de 1033) e Angelo M. Bertalotti (1666-1747) em Itália, Sarah Glover (1786-1867) e John Curwen (1816-1880) no Reino Unido, Émile Chevé (1804-1864) em França e Fritz Jöde (1887-1970)7 na Alemanha. Mais tarde, seguiu os princípios pedagógicos de Émile Jacques-Dalcroze (1865-1950), no que respeita ao movimento, que enformam o método conhecido como A Rítmica de Dalcroze (Dalcroze’s Eurhythmics). (…)

Princípios do CEMK

Os princípios do Conceito de Educação Musical de Kodály são citados por diversos autores. Salientam-se os seguintes princípios:

  • “Se quiséssemos tentar expressar a essência desta educação numa só palavra, ela só poderia ser – cantar.” (Kodály).
  • O canto a cappella é a melhor actividade para desenvolver as competências musicais.
  • A aprendizagem deve começar com a música tradicional do próprio país para formar a “língua-materna musical” (Kodály), e para posteriormente estabelecer paralelos com a música erudita.
  • A música utilizada na aula deve ser de grande qualidade e de elevado valor artístico.
  • Quanto mais jovem for a criança, mais eficiente é a educação musical.
  • O currículo de educação musical deve ter em conta as fases de desenvolvimento da criança, acompanhando o desenvolvimento das suas capacidades físicas, mentais e emocionais.
  • A música contribui para o bem-estar geral, para o desenvolvimento intelectual, físico, estético e social da criança, bem como para a sua felicidade.
  • A música é um bem de todos e não apenas de uma elite.

Objetivos do Método Húngaro

Os objectivos do Método Húngaro também são referidos por vários autores. Destacam-se os seguintes objectivos:

  • Encorajar a performance musical dos estudantes, sobretudo vocal e coral.
  • Promover a literacia musical.
  • Dar a conhecer à criança a música tradicional húngara e a música erudita ocidental.
  • Alargar os horizontes estético-musicais da criança.
  • Promover um desenvolvimento social e artístico equilibrado.
  • Formar músicos profissionais e ouvintes esclarecidos.

(…)

Excerto de Música Tradicional na Iniciação Musical – Uma Proposta de Ordem de Aprendizagem Projecto de Aplicação do Método Húngaro no Ensino Especializado da Música, por Ana Sofia Alves Amorim Lopes, sob orientação de Cristina Brito da Cruz, 2014

Zoltan Kodály, pedagogo

Zoltan Kodály, pedagogo

QUEM CANTA, OS MALES ESPANTA

A música está presente na vida de todos

de Rehab Wellness Center, Brasil, com pequenas adaptações para Português de Portugal.

Não importa o ritmo, se é rápida, lenta, nova ou antiga, a música está cada vez mais presente na vida de todos, desde a hora em que acorda, com a música do despertador, quando liga a televisão, quando entra no carro, até quando vai dormir. Mas sabia que a música também pode ser usada como meio de tratamento?

A musicoterapia nasceu dentro dos hospitais após a 2ª Guerra Mundial, para tratar dos combatentes o lado emocional, muito abalado pelas experiências vividas nas batalhas. Distinta da musicalização, em que é desenvolvida uma habilidade musical, a musicoterapia tem um objetivo terapêutico, e este é obtido por meio da música. No Brasil e na América Latina, a prática chegou nos anos 60, mas só mais recentemente tem conquistado o reconhecimento da área médica, apesar de muitos dos seus benefícios já terem sido comprovados cientificamente.

“A ideia é a recuperar funções básicas, como o caminhar, a capacidade de o paciente pegar e segurar um objeto de forma ordenada e harmoniosa, além de estimular suas funções motoras, integrá-lo na sociedade”, explica a musicoterapeuta Ana Carolina Stinkopf.

Os pacientes, uma vez por semana, durante 40 minutos, são estimulados a manter contacto com a terapeuta por meio da música. “Nossa, mudou tudo em mim”, afirma a paciente Junira Klein. Ela diz que graças às aulas ela voltou a ter voz na família, impor-se, “além de ter uma atividade para fazer e poder contar a todos”, complementa.

Além disso, a função cognitiva da música também pode contribuir para o tratamento de incapacidades neurológicas, como a esclerose múltipla, o autismo e o Alzheimer. Um exemplo consiste em estudo realizado em 2010 pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos, que demonstrou que pacientes com doença de Alzheimer conseguiam memorizar as mensagens quando elas eram transmitidas cantadas. Nessa pesquisa, um grupo de controle e outro de pacientes com a doença foram submetidos a um teste: quarenta mensagens foram repassadas, sendo a metade acompanhada da música cantada e o restante somente com a gravação falada. O resultado apontou que as palavras cantadas foram mais familiares para o grupo com doença de Alzheimer do que para o de controle.

De acordo com a psicóloga Rafaela Borges, o idoso precisa de estimulação, e a música vem como um suporte no tratamento.

“Eles não encaram como um tratamento de saúde, mas como uma diversão, um lazer, fazendo com que a atividade tenha muito mais ganhos”, diz.

A musicoterapia tem ajudado também muitas crianças com síndrome de Down. Exercícios para fortalecimento da musculatura bucal trabalhados na fonoaudiologia, por exemplo, ganham reforço na terapia com música, que muitas vezes desperta mais pelo seu aspeto lúdico.

O ReHaB Wellness Center tem uma profissional qualificada para realizar o tratamento em todas as idades. Musicoterapia é a utilização da música no tratamento, reabilitação, educação e estimulação, de crianças, adultos e idosos, que apresentam algum distúrbio físico, mental ou emocional.

De acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia, musicoterapia é a utilização da música, por um musicoterapeuta qualificado, para facilitar e promover a comunicação, relacionamento, aprendizagem, expressão e organização e outros objetivos terapêuticos relevantes.

CORO TERAPÊUTICO

Com uma proposta inovadora e exclusiva o Coro Terapêutico consiste num grupo conduzido por um musicoterapeuta, em que a voz é utilizada como recurso para a comunicação, expressão, satisfação e interação social. Os participantes, através do cantar, ressocializam, melhorando a autoestima, a fala, a timidez, respeito, autorrealização, expressão, entre outros benefícios. (…)

REHAB WELLNESS CENTER – RWC
Endereço: SHLS Quadra 213, conjunto D, Lote 36, Asa Sul
Brasília/DF

Quem canta

Quem canta

Pedagogia coral infantil

A linguagem figurativa na pedagogia vocal coral infantil

O ato de cantar comporta uma realidade múltipla tal como tem sido tratada por diversos autores: salienta-se o ato de cantar como um processo psicomotor, como um comportamento social gerado pela atividade vocal, bem como um processo de autodesenvolvimento proporcionado pela descoberta do instrumento vocal e das suas capacidades expressivas e comunicacionais desde a primeira infância.

Esta dimensão multifacetada da voz, torna-a um veículo privilegiado de aprendizagem musical e desenvolvimento artístico, reunindo num mesmo processo a mobilização, fortalecimento e refinamento dum impulso psicomotor, com a capacidade de comunicação de emoções, pensamentos e valores estéticos.

condição invisível do instrumento vocal tem, tradicionalmente, levado ao recurso à linguagem figurativa e à imagética como facilitadores de indicações técnicas e ferramentas de melhoria de performance, como atestam estudos desenvolvidos com alunos de canto e com coros de adultos.

Tendo como objetivos gerais aferir as circunstâncias, prevalência e vantagens do uso de linguagem figurativa na pedagogia coral infantil e juvenil, através da identificação das estruturas conceptuais e esquemas mentais presentes no discurso figurativo dos professores, inferindo a sua influência na percepção musical e na aquisição de competências técnicas e interpretativas, o estudo procurou também, promover a discussão acerca dos modos e processos através dos quais o ensino do canto coral é praticado e integrado na formação musical escolar de crianças e jovens em Portugal.

Partindo de um aprofundado estudo bibliográfico, os principais instrumentos de recolha de dados foram entrevistas a professores dos ramos de ensino genérico e especializado e a coralistas, complementadas com observação de aulas e ensaios.

A análise dos dados foi de base indutiva e interpretativa, tornando possível reconhecer a função didática da linguagem figurativa, identificando-se um sentido pragmático de pendor técnico-expressivo na utilização de imagens e metáforas como estratégia pedagógica.

Concluiu-se que o discurso figurativo assume nos casos em estudo uma função retórica, agregadora e metacognitva reconhecida por professores e crianças, com predominância no ensino especializado, estando residualmente presente no ensino genérico.

Ao induzir e sugerir sensações físicas para um resultado técnico e acústico previsível, a linguagem figurativa utilizada nestes contextos radica-se nas referências metafóricas de raiz sensoriomotora dos indivíduos e permitiu a aquisição de competências técnicas e interpretativas. Situando-se nos contextos de vida, essa prática influi quer o discurso pedagógico quer a descodificação do mesmo, facto realçado pelas crianças participantes neste estudo.

Tal permite concluir que o sentido coletivo das imagens e metáforas é entendido por cada criança em contexto coral, conforme a sua vivência, quadro conceptual ou simbólico, proporcionando um espaço de intersubjetividade – a prática musical transformada – no qual cada um participa de uma aprendizagem musical global, significativa e criativa. Um estudo alargado a diferentes contextos socioculturais e etários poderá, em investigações futuras, contribuir com elementos inovadores quanto às potencialidades da linguagem figurativa.”

A linguagem figurativa na pedagogia vocal coral infantil: um estudo de caso múltiplo, por Janete Ruiz. Doutoramento em Estudos da Criança, especialidade de Educação Musical, no Centro de Investigação em Estudos da Criança, Instituto de Educação – Universidade do Minho.

Janete Ruiz, créditos Juan Antunes

Janete Ruiz, créditos Juan Antunes

Há um limite de idade para aprender música?

Além de ser uma atividade prazerosa, tocar um instrumento na terceira idade é benéfico a vários níveis quer para principiantes quer para pessoas com conhecimentos e experiência musicais. Com o aumento da idade, é comum a perda de certas habilidades, a memória e a flexibilidade do pensamento. Mas isso pode ser prevenido, evitado ou retardado pelo estudo e a prática da música.

Sendo cada vez maior a esperança de vida, é importante que os idosos aprendam coisas, realizem atividades nos tempos livres e exercitem o cérebro.

Aprender a tocar um instrumento é uma realização para muitos adultos e idosos que antes não tiveram tempo, disponibilidade, dinheiro ou espaço em casa. A família e os amigos devem incentivar à realização deste sonho e apoiá-los nesta prática altamente recomendada.

Tocar órgão ou piano age sobre a memória e o movimento das articulações, estimula o cérebro e retarda o envelhecimento. Melhora o bem-estar e a qualidade de vida, reduz a ansiedade, solidão e depressão, e tem benefícios para a convivência social. Idosos que tocam um instrumento são menos suscetíveis a doenças como Alzheimer e esquizofrenia, visto que a prática musical estimula o cérebro e torna os idosos mais criativos.

Será que existe uma idade para além da qual não é possível aprender música?

“Numerosos são os adultos que sempre quiseram aprender música, observa Isabelle Peretz. E vendo as aulas de música das crianças, alguns questionam se não seria a ocasião de o fazerem. A ciência é encorajadora a este respeito. Sim, mesmo em idade avançada, podemos aprender música.”

E a concluir: “Além do facto de que esta aprendizagem tem um efeito protetor sobre o cérebro – o declínio relacionado com a idade tem um efeito menos devastador no músico – aprender música tardiamente melhora a audição no ruído, a atenção e previne os malefícios do isolamento social.”

Cf. Traduzido revista Le Temps (Suíça), excerto, tradução e acrescentos por António José Ferreira

Mãos ao piano

Mãos ao piano

El Sistema

Vânia Moreira

O início do El Sistema remonta a 1975, surgindo com o intuito de promover a inclusão e desenvolvimento dos jovens socialmente desfavorecidos.

José António Abreu assumiu a liderança deste projeto social que reconhecia na música a sua principal ferramenta de intervenção, sendo reconhecida a sua perseverança, determinação e paixão pelo projeto, como fatores determinantes para o sucesso em que o El Sistema consiste atualmente.

O projeto começou de forma humilde, numa garagem, com apenas 11 alunos. Ao longo dos dias iam aparecendo sempre novos jovens, sendo que no quarto dia José António Abreu tinha já perante si 75 alunos. Foi neste contexto que surgiu a Orquestra Sinfónica Nacional Juvenil da Venezuela. Atualmente, são mais de 350 mil as crianças e jovens que integram o El Sistema, divididas por 180 núcleos (escolas de música) que se estendem por todo o país. Sendo a Venezuela um país com um elevadíssimo índice de criminalidade – em 2012, a taxa de homicídio era três vezes superior à do Iraque e quatro vezes superior à do México – José António Abreu lutou pela sua crença de que a música deveria exercer a sua função na sociedade, e que, proporcionando aos jovens e crianças mais desfavorecidos o acesso a uma formação musical livre e intensa, poderia influenciar positivamente as suas vidas e, consequentemente, os problemas sociais que elas vivenciam.

Assim, dos mais de 350 mil alunos que atualmente integram o projeto, mais de 80% são provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos. Tendo em conta as frágeis condições financeiras das famílias dessas crianças, todos os encargos (instrumentos, aulas, visitas, partituras e até mesmo apoio social, caso esse seja necessário) são providenciados pelo projeto, sendo que a única condição estipulada é que a criança deseje e concorde em integrar um dos núcleos do projeto.

Geralmente, as crianças integram os núcleos em idade pré-escolar, podendo iniciar a partir dos dois anos de idade. Aí começam por trabalhar a linguagem corporal, o canto e o sentido rítmico, passando a aprender um instrumento assim que o consigam segurar. Nesta fase, a dimensão do coletivo é desenvolvida sobretudo através das aulas de coro. A partir dos 7 anos, a criança escolhe o seu instrumento (caso ainda não o tenha feito previamente) e integra a orquestra. Nos anos que se seguem, os alunos vão fazendo a transição entre as sucessivas orquestras, integrando a orquestra pré-infantil entre os 7 e os 8 anos, a orquestra infantil entre os 10 e os 12 anos, e a orquestra juvenil dos 13 aos 16 anos de idade. A formação é contínua e intensa, com um total de quatro horas de aulas por dia, e seis dias por semana.

Apesar de as aulas individuais de instrumento serem uma parte importante do processo de aprendizagem, o foco do ensino centra-se nas aulas de grupo – naipe e orquestra. É nessas aulas que se vai desenvolver no aluno a perceção humana do seu papel na sociedade, a sensação de pertença a um grupo, e valores como a solidariedade, a entreajuda, a perseverança, e o compromisso para com os outros e para com a sociedade. No El Sistema o grupo assume a primazia, mas com a consciência da importância de cada elemento. Nesse sentido, procura-se estabelecer sempre uma relação próxima e presente com cada aluno e também com a sua família.

Quando um aluno integra o El Sistema, os professores dirigem-se a casa dos pais para explicar o modo de funcionamento do projeto e como devem ajudá-lo e orientar o seu estudo. O mesmo acontece se a criança faltar às aulas no núcleo duas vezes sem aviso prévio. O acompanhamento à família prossegue também quando um aluno integra uma orquestra juvenil ou uma orquestra da cidade, sendo-lhes oferecida uma bolsa que recompensa o esforço e trabalho do aluno, mas que também ajuda a família financeiramente para que permitam que o aluno possa continuar a estudar em vez de trabalhar.

A nível pedagógico, o El Sistema valoriza bastante a criatividade dos professores. Esforçando-se por adaptar a metodologia europeia à sua cultura e à realidade do projeto, os professores conseguiram estabelecer uma ponte sólida onde a disciplina, o trabalho de equipa e o empenhamento caminham lado a lado com um suporte de segurança e apoio a cada aluno. Atualmente, dos cerca de seis mil professores que integram o projeto, a grande maioria são ex-alunos do mesmo, pelo que têm em si perfeitamente incutidas as linhas orientadoras do projeto, tanto a nível social como musical.

A avaliação quantitativa (tão intrincada na metodologia europeia) é aqui substituída por audições e concertos públicos. Mesmo os alunos mais novos têm atuações públicas regulares para que, desde o início, aprendam a lidar com a pressão e a geri-la, e para que esses momentos de execução instrumental passem a ser uma parte natural da sua vida. O repertório abordado abrange não só obras de compositores consagrados da música erudita, mas também de compositores da América Latina e música tradicional venezuelana, no sentido de facilitar a aproximação e integração do projeto nas comunidades em que se insere.

Dependendo do nível técnico de cada orquestra, determinado repertório pode consistir em arranjos das obras para as orquestras mais jovens, sendo introduzidos os originais da respetiva obra somente nas orquestras mais avançadas. No caso de quererem prosseguir os estudos musicais, os alunos podem dar-lhes continuidade no Conservatório de Música Simón Bolívar, em Caracas, e no Instituto Universitário de Estudos Musicais, tendo a possibilidade de completar os ciclos de Mestrado e de Doutoramento nesta instituição graças à parceria existente com a Universidad Simón Bolívar da Venezuela.

Com o nível de excelência que os alunos atingem ao longo da sua formação no El Sistema, têm também a oportunidade de concorrer a qualquer universidade dentro ou fora da Venezuela. Quando José António Abreu iniciou a implementação do que viria a ser o El Sistema, só existiam duas orquestras sinfónicas na Venezuela, constituídas maioritariamente por instrumentistas europeus. À Orquestra Sinfónica Nacional Juvenil da Venezuela, que nasceria aquando da criação do El Sistema, suceder-se-ia aquela que viria a constituir um dos mais importantes e mais bem sucedidos empreendimentos deste projeto, a Orquestra Sinfónica Simón Bolívar – cuja estreia decorreu brilhantemente, em 1977, num concurso internacional na Escócia.

Consciente da importância e das proporções que o projeto delineado por António José Abreu estava a atingir, o Governo Venezuelano, em 1979, constituí a Fundación del Estado para El Sistema Nacional de las Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela (FESNOJIV), com o intuito de proteger este projeto e permitir-lhe as condições necessárias para desenvolver uma estrutura operativa e administrativa sólida. O projeto pôde assim crescer de tal forma que, atualmente, são já 30 as orquestras sinfónicas profissionais que existem por toda a Venezuela, partilhando o panorama cultural com as mais de 200 orquestras juvenis e infantis que se encontram em constante crescimento.

A internacionalmente reconhecida Orquestra Sinfónica Simón Bolívar constitui o expoente máximo de qualidade resultante do El Sistema – atuando frequentemente nas salas de concerto mais importantes dos continentes europeu, asiático e americano; partilhando o palco com solistas, maestros e grupos consagrados no panorama musical mundial; e contando já com um considerável registo discográfico patenteado por editoras como a Dorian ou a Deutsche Grammophone.

Contudo, com a expansão do projeto, têm-se vindo a destacar novas orquestras como é o caso da Orquestra Juvenil Teresa Carreño e da Orquestra Sinfónica Juvenil de Caracas. Para além de toda a dimensão que as orquestras e os coros assumem no projeto de José António Abreu, há ainda mais dois programas de formação que decorrem em paralelo mas com uma exposição menor: o Centro Nacional Audiovisual de Música Inocente Carreño e o Centro Académico de Luheria. O primeiro é responsável por formação na área de produção e edição musical – é neste centro que decorre todo o processo de gravação e produção, assim como de programação e de difusão, em formato de áudio e de vídeo, de todos os concertos realizados pelas orquestras do projeto. Ao segundo, cabe sobretudo a responsabilidade da formação de alunos na construção, reparação e manutenção dos instrumentos musicais.

No sentido de tornar o programa mais abrangente e acessível a crianças e jovens com necessidades educativas especiais (resultantes de problemáticas como défice de atenção, autismo, problemas auditivos, cognitivos ou visuais), foi criado, em 1995, um Programa de Educação Especial que possa integrar esses alunos. Pelo exposto, facilmente se pode constatar que o sucesso do El Sistema se tem comprovado pelos seus próprios resultados.

Com o crescimento do projeto, que se estende agora por toda a Venezuela, são cada vez mais os músicos de altíssima qualidade que surgem como produto do El Sistema e que desenvolvem uma carreira artística pelos principais centros musicais mundiais – como é o caso do maestro mundialmente reconhecido Gustavo Dudamel, ou do contrabaixista Edicson Ruiz que ingressou na Orquestra Filarmónica de Berlim com apenas 17 anos de idade. São muitos os músicos profissionais formados pelo El Sistema. Mas, para além de músicos extraordinários, este projeto foi também o ponto de partida que permitiu a estabilidade e confiança necessárias para muitos outros jovens que o frequentaram poderem definir objetivos e carreiras profissionais. Já com cerca de dois milhões de alunos formados no projeto desde a sua criação, encontram-se entre eles excelentes músicos, mas também advogados, médicos, professores, entre outros.

O reconhecimento tem surgido a nível mundial, quer por entidades como a UNICEF e a UNESCO, quer por figuras públicas das mais diversas áreas, sendo o El Sistema atualmente apontado por diversas fontes como o mais importante acontecimento na música do século XXI. O trabalho que José António Abreu desenvolveu com o Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela tem merecido várias distinções, de entre as quais se pode destacar, por exemplo, o Prémio Nacional de Música, em 1979; a sua nomeação pela UNESCO, em 1995, para representante especial para o desenvolvimento de um sistema mundial de Orquestras Infantis e Juvenis; a sua premiação, em 2009, com o Prémio TED e com o Prémio Polar Music, e, em 2013, com o Prémio Nacional América, em Nova Iorque; a estes somam-se ainda o Prémio Yehudi Menuhin; o Prémio Don Juan de Borbón; o Prémio Especial de Cultura do Japão; o Prémio de Cultura Interamericano Gabriela Mistral; o Prémio Príncipe de Astúrias das Artes, em Espanha; e o Prémio da Paz de Seul, na Coreia.

Destacam-se ainda vários doutoramentos concedidos por universidades venezuelanas e internacionais e, mais recentemente, a sua nomeação pela respeitosa revista norteamericana Fortune como um dos 50 líderes mais influentes do mundo – sendo já várias as entidades que referem José António Abreu como um digno nomeado para o Prémio Nobel da Paz.

Com o reconhecimento mundial que o El Sistema tem recebido, a sua difusão é cada vez maior, tendo sido já implementados programas que se inspiraram no projeto de José António Abreu em cerca de 55 países espalhados por diversos continentes. Apesar da dimensão e consolidação que o projeto já assumiu na Venezuela, este não é o ponto de chegada deste projeto, mas sim o percurso. Novos objetivos são constantemente definidos pela equipa que coordena o El Sistema e um deles é que, em 2019, o projeto integre um milhão de crianças.

A aprendizagem de um instrumento musical em contexto individual e em contexto de grupo, por Vânia Filipa Tavares Moreira – Mestrado em Ensino de Música – Instrumento e Música de conjunto – Orientadora Doutora Maria Luísa Faria de Sousa Cerqueira Correia Castilho, Coorientadora Especialista Catherine Strynckx. Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior de Artes Aplicadas, janeiro de 2015

El Sistema e Dudamel

El Sistema e Dudamel

Reciclanda, música e poesia para um mundo melhor

Reciclanda, música e poesia para um mundo melhor

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração) e dinamiza atividades em colónias de férias com crianças. Apresenta-se nas áreas da educação e da sustentabilidade em festivais.

Saiba mais na Reciclanda e contacte-nos:

António José Ferreira:
962 942 759

Performance instrumental

Vânia Moreira

(…) Todas as horas de prática instrumental são realizadas com vista à aquisição de diversas competências, mas também com o objetivo de tocar em público as obras que trabalhou arduamente. Contudo, todas as expectativas canalizadas para o momento performativo podem conduzir a ansiedade, que, quando excessiva, se torna prejudicial ao desempenho.

No momento performativo, um certo grau de adrenalina e excitação pode ser benéfico para o desempenho do músico, aumentando a sua concentração e capacidade de resposta. Porém, as sensações experienciadas pela reação corporal do músico em palco podem assustá-lo pela falta de controlo que sente relativamente ao seu próprio corpo. É neste contexto que se desenvolve a ansiedade de performance, que tanto afeta músicos amadores, como profissionais, e que se refere ao pânico sentido face ao palco e à atuação perante um público. A taxa de incidência da ansiedade em contexto performativo é bastante elevada, e pode estar relacionada com aspetos da personalidade do indivíduo, como o perfecionismo ou a excessiva necessidade de controlo das situações.

Tal como em qualquer outra fobia, os sintomas desencadeados num momento de ansiedade de performance derivam da ativação do sistema de emergência do corpo, podendo desencadear-se as seguintes reações:

  • Aumento significativo de adrenalina no fluxo sanguíneo;
  • Aumento do bombeamento cardíaco;
  • Aumento da atividade pulmonar e alargamento das vias aéreas;
  • Diminuição da nitidez da visão;
  • Desconforto a nível estomacal pelo desvio de recursos do processo digestivo;
  • Redireccionamento de fluídos corporais como a saliva para a corrente sanguínea;
  • Ativação do sistema de arrefecimento corporal.

Há alguns fatores que se podem considerar como atenuadores desta ansiedade. Além da idade e da experiência – cujo aumento contribui para a diminuição de ansiedade em contexto performativo –, tocar em conjunto parece também ajudar – sendo tão menor a tensão e ansiedade, quão maior for o grupo. A relação existente entre o músico e o público também influencia diretamente a ansiedade do executante, sendo esta maior na presença de colegas músicos, assim como em auditórios onde a proximidade do público (e, consequentemente, das suas reações à performance) é maior. No sentido de ajudar os artistas a lidar com o pânico que sentem face ao palco, têm surgido propostas de diversos tipos de tratamentos, entre os quais se pode destacar:

  • Uso de drogas e medicamentos – como álcool, Valium e cannabis.
  • Psicanálise – procura interpretar a origem da ansiedade.
  • Terapia comportamental – insiste no treino de relaxamento corporal em contextos imaginários potenciadores de gerar ansiedade, recorrendo a diversas estratégias de relaxamento; adoção de rotinas prévias ao momento performativo; estabelecer e seguir uma hierarquia de ansiedades que varia entre a situação que potencia o mínimo de ansiedade até à situação que desencadeia uma ansiedade extrema, trabalhando assim ao longo da hierarquia por fases – só passam para a fase seguinte quando o indivíduo se sentir confortável na fase em que está a trabalhar; e a adoção de um estilo de vida saudável – exercício físico regular, descanso e alimentação saudável.
  • Terapia cognitivo-comportamental – recorrendo ao uso de estratégias cognitivas que incluem a visão da ansiedade como algo positivo para a performance; ao desenvolvimento de um discurso realístico e pessoal positivo; à recriação do ensaio mental que permite ao indivíduo antecipar e vivenciar as sensações que sentirá em palco, ter uma visão exterior da sua performance e, em simultâneo, ter uma visão interna que lhe permite praticar o discurso pessoal positivo; definição de objetivos.
  • Hipnoterapia – recorre ao uso da hipnose, indiciando no indivíduo sugestões de relaxamento, respiração lenta, imaginação de cenários agradáveis acompanhados de sugestões verbais que associam essas imagens a um maior controlo mental.
  • Técnica Alexander – consiste numa reeducação cinestésica que recorre a instruções verbais e demonstração prática para corrigir posturas corporais desadequadas.

Apesar de seguirem caminhos e perspetivas distintas, todas as técnicas apresentadas são propostas válidas. A opção por uma delas deverá ser feita consoante a identificação do sujeito com a mesma.

Porém, convém não perder o foco relativamente a esta questão, e não procurar anular as reações vivenciadas em momento performativo.

São diversos os estudos que comprovam os efeitos fisiológicos desencadeados pela música – influenciando o ritmo respiratório, a pressão arterial, as contrações estomacais, os níveis hormonais, o ritmo cardíaco que procura sincronizar-se com a pulsação musical, e influencia, até mesmo, os ritmos elétricos cerebrais.

Vânia Moreira

Contudo, em vez de reagir com inquietude perante todas essas respostas fisiológicas, será sensato relembrarmo-nos que um certo grau de adrenalina e excitação pode ser benéfico para o desempenho musical e que devemos aproveitar toda a influência que a música tem sobre nós para exteriorizar as nossas emoções, sensações e sentimentos, vendo o instrumento como um meio para essa exteriorização. (…)

A aprendizagem de um instrumento musical em contexto individual e em contexto de grupo, por Vânia Filipa Tavares Moreira – Mestrado em Ensino de Música – Instrumento e Música de conjunto – Orientadora Doutora Maria Luísa Faria de Sousa Cerqueira Correia Castilho, Coorientadora Especialista Catherine Strynckx. Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior de Artes Aplicadas, janeiro de 2015. Excerto.

Hugo Vasco Reis, compositor e guitarrista

Hugo Vasco Reis, compositor e guitarrista

A Orquestra Geração

Vânia Moreira

(…) Em Portugal, deu-se continuidade aos ideais e fundamentos do El Sistema através da implementação do projeto Orquestra Geração. Visando incidir sobre as problemáticas sociais vivenciadas pelas crianças pertencentes a bairros socialmente desfavorecidos, o projeto recorre à prática intensiva de orquestra para atingir os objetivos a que se propõe:

  • Promover a inclusão social das crianças e jovens de bairros social e economicamente mais desfavorecidos e problemáticos;
  • Combater o abandono e o insucesso escolar;
  • Promover o trabalho de grupo, a disciplina e a responsabilidade para uma melhor cidadania;
  • Promover a autoestima das crianças e das suas famílias;
  • Aproximar os pais do processo educativo dos filhos;
  • Contribuir para a construção de projetos de vida dos mais novos;
  • Promover o acesso a uma formação musical que seria impossível para a maioria das crianças e jovens que vivem em contextos de exclusão social e urbana.

Este projeto teve início no Casal da Boba, no Concelho da Amadora. O referido bairro, construído em 2000/2001 para receber os moradores de três bairros degradados, encerrou em si diversas problemáticas sociais e económicas que favorecem a tendência para a exclusão social. Com o intuito de promover o desenvolvimento social e humano dos jovens deste bairro, foi implementado, em 2005, o Projeto Geração/Oportunidade que visava intervir ao nível da formação, educação, saúde, emprego, justiça e ocupação dos tempos livres destes cidadãos. Dois anos mais tarde, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação EDP, a Câmara Municipal da Amadora e o Conservatório Nacional unem esforços no sentido de integrar no Projeto Geração/Oportunidade uma orquestra, iniciando-se assim a implementação em Portugal dos fundamentos do Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela.

Foi no ano letivo de 2007/2008, na Escola EB 2,3 Miguel Torga, que a Orquestra Geração teve o seu início, com 15 alunos distribuídos por instrumentos pertencentes à família das cordas. Os instrumentos de sopro seriam introduzidos no ano seguinte, e a percussão surgiria no terceiro ano do projeto nessa escola. Ainda no ano letivo de 2007/2008, o projeto Orquestra Geração seria implementado também no agrupamento de escolas da Vialonga e, em novembro de 2008, numa outra escola da Amadora, no bairro da Mira.

Ao longo dos anos letivos que se sucederam, o projeto alargou-se a escolas situadas em Camarate, Sacavém, Apelação, Zambujal, Damaia, Carnaxide, Algueirão, Ajuda, Boavista e Sesimbra. Cada escola criou a sua própria orquestra (multiplicando-se o número de orquestras por escola em níveis diferenciados ao longo dos anos), constituindo vários núcleos da Orquestra Geração. À exceção do polo de Vialonga, que funciona em regime integrado, as aulas do Projeto Orquestra Geração são lecionadas nas escolas como atividades extracurriculares. No ano letivo 2010/2011, o projeto foi implementado em Mirandela e Amarante, e, no ano letivo seguinte, em Murça e em Coimbra.

Em abril de 2012, o projeto Orquestra Geração englobava já 879 alunos, distribuídos por 16 núcleos. À semelhança do que acontece no El Sistema, o ensino proporcionado pela Orquestra Geração é inteiramente gratuito para os alunos, pelo que o apoio dos parceiros financeiros que se associaram ao projeto revela-se essencial para que este possa ter continuidade. Entre eles conta-se a Escola de Música do Conservatório Nacional (responsável pelo serviço pedagógico e administrativo), a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação EDP, a Fundação PT, o Ministério da Educação (que, desde o ano letivo 2008/2009, assegura a contratação dos professores do projeto da zona metropolitana de Lisboa e de Coimbra), as Câmaras dos municípios em que as escolas se inserem, a TAP, o Barclays Bank, o BNP Paribas, a Embaixada da Venezuela e a Atral Cipan.

Desenhado à semelhança do projeto El Sistema, a aprendizagem instrumental no projeto Orquestra Geração inicia-se pela imitação, tendo contacto com o instrumento desde o início do seu percurso. A concetualização formal decorrerá a posteriori. Apesar de a carga horária semanal ser bastante inferior à praticada pelo El Sistema, o coletivo é privilegiado também na Orquestra Geração; assim, as 8 horas semanais são distribuídas de forma a contemplar 3 horas de orquestra (em duas sessões de 1h30), 2 horas de naipe (em duas sessões de 1 hora), 1 hora de aula de instrumento (partilhada por dois alunos), 1 hora de formação musical e coro, e 1 hora de expressão dramática.

O processo de integração social passa também, obviamente, por envolver a comunidade com a orquestra. Para tal, torna-se necessário adaptar o método e o material de ensino à realidade cultural em que se insere. Nesse sentido, apesar de na Orquestra Geração se utilizar os manuais do El Sistema, é imprescindível incluir no repertório música tradicional portuguesa, música dos PALOP, música referente à etnia cigana, assim como jazz ou pop.

corpo docente da Orquestra Geração é composto essencialmente por jovens adultos, maioritariamente de nacionalidade portuguesa, e com formação musical na metodologia europeia convencional. Desta forma, torna-se imperativo que os professores tenham uma formação contínua com as diretrizes do El Sistema para que o possam implementar adequadamente. Assim, a direção pedagógica e artística da Orquestra Geração desenvolve com regularidade ações de formação dirigidas aos professores do projeto, cuja realização é levada a cabo por formadores venezuelanos do El Sistema que se deslocam a Portugal, no sentido de prestar formação, monitorizar e avaliar a aplicação do programa no nosso país.

Tal como no El Sistema, na Orquestra Geração não há uma avaliação quantitativa, privilegiando-se as apresentações públicas regulares como momentos de aplicação de todo o conhecimento que vão adquirindo ao longo do processo educativo.

Os concertos, além de constituírem um forte fator motivacional para o aluno, funcionam também como um forte elo de ligação e inserção do projeto na comunidade, e de aproximação entre a comunidade e a cultura, a escola e o processo educativo dos seus educandos.

Vânia Moreira

Ao longo do ano letivo, cada escola realiza vários concertos, quer sozinha, quer inserida num grupo de dois ou mais núcleos. Nas interrupções letivas decorrem frequentemente estágios mais intensivos em que se juntam as orquestras de todos os núcleos de cada nível, culminando no estágio do final do ano letivo, que é sempre o mais intenso – quer pela duração (geralmente de 5 dias consecutivos), quer pelo concerto final, que decorre sempre em salas emblemáticas da cidade de Lisboa. (…)

A aprendizagem de um instrumento musical em contexto individual e em contexto de grupo, por Vânia Filipa Tavares Moreira – Mestrado em Ensino de Música – Instrumento e Música de conjunto – Orientadora Doutora Maria Luísa Faria de Sousa Cerqueira Correia Castilho, Coorientadora Especialista Catherine Strynckx. Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior de Artes Aplicadas, janeiro de 2015. Excerto.

Orquestra Geração no São Luiz em 2016

Orquestra Geração no São Luiz em 2016