Recursos musicais de apoio a técnicos e famílias de crianças portadoras de necessidades educativas especiais

Jogos musicais de gestos

Comunicação gestual e inclusão

Palavra, gesto, rima: junte ritmo, melodia e improvisação

A comunicação gestual aumenta a capacidade de atenção, integração, simpatia e compreensão mútua. Neste contexto, a comunicação gestual inspirada no método aumentativo ou alternativo de comunicação Makaton pretende ser uma estratégia de inclusão na turma no Jardim de Infância e 1º Ciclo, especialmente em crianças com necessidades educativas especiais.

O método Makaton pode contribuir para aumentar as possibilidades de comunicação de crianças com dificuldades expressivas. Em contexto de terapia da fala, os gestos visam fomentar a expressividade e, para as crianças em geral, a utilização dos gestos pode ser muito interessante no âmbito das AEC, potenciando jogos de vários tipos e criação/recriação de estórias. Esta página é dedicada às crianças com atraso ou deficiência auditiva e psicomotora, passageira ou permanente. Quando é possível, um movimento repetido conforme o número de sílabas ajuda à oralidade, ao ritmo e à distinção das sílabas.

Tendencialmente, as ações fazem-se duas vezes e os objectos uma vez.

A pé:
O indicador e o médio movem-se como se fossem pernas.

Vou a pé, vais a pé,
vamos ambos ao café.
António José Ferreira

Adeus:
Com a palma para fora, a mão roda um pouco para baixo e para cima.

Digo estas palavras quando está na hora.
Adeus, até logo, tenho de ir embora.
António José Ferreira

Água:
O polegar e o mínimo abertos dirigindo-se à boca.

A água dá para beber e bons pratos cozinhar.
Diz-se que a do rio é doce,
e é salgada a do mar.
António José Ferreira

Aranha:
Os dedos de ambas as mãos abrem-se e e fecham-se três vezes, avançando.

Anha é uma aranha
e dizem que é muito feia.
Mas ela não se importa
e lá vai tecendo a teia.
António José Ferreira

Autocarro:
Com ambas as mãos a um volante grande imaginário, roda-se à direita e à esquerda. Como o camião.

[ Como objeto brinquedo a criança usa uma tampa circular que faz de volante. ]

Se queres ser motorista
tens de fazer atenção.
Quando o tempo está de chuva
guia com mais precaução.
António José Ferreira

Árvore:
A palma da mão esquerda está por baixo do cotovelo direito. O antebraço direito está na vertical e a mão, aberta, roda um pouco.

Esta árvore que planto
boa sombra te vai dar,
lindas flores para ver,
frutos p’ra saborear.
António José Ferreira

Avião:
O polegar e mínimo imitam o voo de um avião de fora para a frente do próprio.

Eu já tenho dois bilhetes
para irmos de avião
ver as lindas cerejeiras
que florescem no Japão.
António José Ferreira

Balão:
As mãos abertas partem da boca e desenham a figura oval do balão.

O balão do João
sobe, sobe pelo ar.
‘Stá feliz, o petiz
a cantarolar.
Tradicional

Banana:
Com os dedos da mão esquerda, unidos, a mão direita move-se para fora, como se afastasse a casca da banana.

Eu vou comer, comer, comer,
eu vou comer banana.
Tradicional

Barco:
As mãos, unidas na ponta dos dedos, imitam a quilha de barco e avançam como se estivessem a cortar as ondas.

Um barquinho ligeiro andava,
ligeirinho andava no mar. Tradicional

Bebé:
Mão direita por baixo do braço esquerdo junto ao cotovelo, movendo-se (como se embalasse).

Bicicleta:
Os punhos fechados descrevendo círculos para a frente, à maneira dos pedais de bicicleta.

Beber:
Os dedos curvos, na posição de agarrar um copo, dirigem-se à boca.

Bebe água natural
que faz bem à digestão.
Ela ajuda a emagrecer,
faz bem à circulação.
António José Ferreira

Bem:
O polegar para cima e os outros dedos fechados em frente do peito.

Bola:
As mãos abertas, com as palmas para baixo e os dedos ligeiramente curvos, descrevem um círculo, de cima para baixo.

A bola passa passa
e vai de mão em mão.
Cuidado para a bola
não te cair ao chão.
António José Ferreira

Bolacha:
A mão direita faz gesto de agarrar com polegar e indicador, mas junto à face direita, na perpendicular.

Fui à caixa das bolachas,
uma só bolacha havia:
A bolacha era dourada
e chamava-se Maria.
António José Ferreira

Bolo:
Com os dedos da mão esquerda arqueados para cima, a mão direita coloca-se por cima com os dedos arqueados, para baixo, como se o próprio colocasse um pequeno bolo num prato.

É hora de cantar,
e os anos festejar.
Ao nosso amigo [ Carlos ],
um bolo vamos dar.
António José Ferreira

Boneca:
Os braços encontram-se na posição de embalar, com o cotovelo esquerdo mais acima que o direito.

Borboleta:
As mãos abertas unidas pelos polegares com as palmas voltadas para o próprio e os dedos a mexer.

Lá vem ela para aqui, lá vai ela para ali. Voa leve a borboleta parte branca, parte preta. António José Ferreira

Cadeira:
Com as mãos em punho, voltadas para o próprio, movem-se ligeiramente os antebraços na vertical de cima para baixo.

caixa:
As mãos abertas estabelecem duas linhas paralelas (dois lados da caixa) e depois outras duas (os outros dois lados); primeiro com as palmas voltas uma para a outra, depois uma com palma voltada para as costas da outra.

Fui à caixa das bolachas sem a minha mãe saber. E da caixa tirei uma e mais uma p’ra comer. António José Ferreira, adapt.

Cama:
Unem-se as palmas das mãos e colocam-se junto à face direita.

Camião:
Com ambas as mãos a um volante grande imaginário, roda-se à direita e à esquerda. Como o autocarro.

Sabes, eu comprei um camião. Vem comigo a Monção, no camião, a Monção. António José Ferreira

Cão:
Coloca-se a mão direita com dedos arqueados entre o queixo e o lábio inferior.

O avô comprou um cão
e Badocha é seu nome.
Gosta pouco da ração.
Dou-lhe carne e ele come.
António José Ferreira

Carro:
Faz-se o gesto de rodar um volante imaginário, à direita e esquerda.

Eu já sei guiar o carro
e vou com velocidade!
Viro à esquerda e à direita
até chegar à cidade.
António José Ferreira

Casa:
Mãos e braços fazem um triângulo (como o telhado de uma casa).

– Minha casa tem terraço,
minha casa tem jardim.
– Minha tem espaço
para ti e para mim.
António José Ferreira

Cavalo:
Passa-se o indicador e o médio na testa, na horizontal, por cima da sobrancelha direita, da esquerda para a direita.

Era uma vez um cavalo
que andava num lindo carrossel.
Tinha as orelhas espetadas
e a cabeça era feita de papel.
Tradicional

Cinco:
Mostra-se os dedos da mão com a palma para forma.

Coelho:
O indicador e médio em frente da testa mexem-se para o lado de fora, enquanto os outros dedos da mão estão fechados.

– Coelhinho da monte,
que tens para me dar?
– Tenho muito carinho
e ternura p’ra dar!
António José Ferreira

Comer:
Os dedos da mão direita, unidos nas pontas, vão à boca duas vezes.

Vou comer a sopa toda
e o peixe vou comer.
Não quero refrigerante:
água é o que vou beber.
António José Ferreira

Comida:
Os dedos da mão direita, unidos nas pontas dos dedos, vão à boca uma vez.

Cuida sempre que a comida
faça bem à tua vida.
António José Ferreira

Comboio:
Puxa-se a sineta imaginária de um comboio antigo.

Tchu, tchu, apita o comboio,
tchu tchu, lá vem a apitar.
Tchu tchu, tem muito cuidado,
Passa depois dele passar.
António José Ferreira

Copo:
Os dedos curvos movimentam-se como se agarrassem um copo e o colocassem em cima da mesa.

Copo, copo, passa o copo.
Passa o copo por favor.
Se não passas bem o copo
é que não me tens amor.
António José Ferreira

Dá-me:
Com a mão direita aberta e palma para cima, a pessoa mexe os dedos para si mesmo.

Dá-me, dá-me uma bola,
para eu jogar na escola.
António José Ferreira

Dois:
Indicador e médio levantados, os outros recolhidos.

Dormir:
As mãos estão unidas pelas palmas, junto à face direita.

Elefante:
A mão direita fechada levanta-se e abre-se em frente da boca.

Havia um elefante
que andava numa savana sem fim.
Pequeno elefante,
tinha uma tromba assim!
António José Ferreira

Escova de dentes:
O indicador na horizontal passa para cima e para baixo, como escova, em frente da boca.

Fantasma:
Ambas as mãos por cima da cabeça e um pouco à frente, com os dedos abertos.

Flor:
A mão direita tem os dedos unidos nas pontas, abrindo-se em frente do nariz.

Fui colher a flor mais linda
que havia no jardim:
a rosa que tu adoras
por tudo o que és para mim.
António José Ferreira

Galinha:
Com a mão direita aberta na vertical em frente da cara, representa-se a crista, e fecha-se a mão, imitando uma bicada, na palma da mão esquerda.

Gato:
A mão direita fecha-se e abre-se como se estivesse a arranhar a mão esquerda, que está em punho.

Gelado:
A mão direita em punho passando em frente da boca e rodando ligeiramente.

Iogurte:
A mão esquerda agarra um iogurte imaginário e o indicador e médio dirigem-se para a boca.

Janela:
Mão direita sobre o braço esquerdo, como se estivesse ao parapeito de uma janela.

Leite:
Com a mão direita aberta com polegar junto à têmpora direita, o mínimo, o anelar e o médio fecham-se.

Lavantar:
Ambas as mãos abertas sobem.

Limão:
Com a mão esquerda em punho, a direita a roda como se espremesse um limão.

Livro:
As mãos unidas, palma contra palma, abrem-se e ficam com as palmas para cima, unidas nos dedos mínimos.

Maçã:
Com com os dedos da mão direita unidos, como comer, mas desde a parte inferior do queixo para fora.

Macaco:
A pessoa coça-se com ambas as mãos, em concha, fechando perto dos sovacos.

O macaco imita;
imita o gibão.
Todos começamos
pela imitação.
António José Ferreira

Menina:
Lembramos a menina com o polegar e o indicador agarrando a orelha direita no lugar do brinco.

Mesa:
Unidas pelos polegares, com a palma para baixo, as mãos afastam-e-se na horizontal.

Morango:
A mão esquerda está em punho e a mão direita com os dedos unidos nas pontas realça as pintas dos morangos.

Mota:
Um pulso roda, como se estivesse a dar gás.

Obrigado:
Leva-se a mão aberta ao queixo e desloca-se um pouco para a frente.

A palavra é simples,
fácil de dizer.
Digo “obrigado”
para agradecer.
António José Ferreira

Olá:
Move-se a mão com a palma voltada para a outra pessoa.

Olá, amigos,
olá, como estão?
Tenho um sorriso
na palma da mão.

Ovelha:
Com a mão direita em gancho, descreve-se círculos à volta da orelha, de trás para a frente.

Berra a ovelha, berra, berra.
Não o faz por estar zangada.
É assim que a ovelha fala,
esteja calma ou irritada.
António José Ferreira

Pão:
A mão direita aberta vai ao encontro da mão esquerda, que está aberta com a palma voltada para cima, entre o polegar e o médio.

Pássaro:
Com a mão em bico de pássaro, polegar e indicador ao lado da boca, imita-se um bico a abrir e fechar.

Tem coragem, passarinho,
salta agora do teu ninho.
Tem cuidado com o gatinho
que ele pode ser mauzinho.
António José Ferreira

Pato:
Com a mão em forma de pato – os dedos da mão direita alinhados – faz-se o gesto de abrir e fechar.

Pata aqui, pata acolá,
vai o pato a caminhar.
Se é livre, também voa,
se tem água, vai nadar.
António José Ferreira

Peixe:
A mão direita está em cima da esquerda, ambas com palma para baixo. Os polegares mexem-se, como barbatanas.

Pente:
Com os dedos curvos e unidos, para baixo, a mão direita mexe-se como se fosse um pente.

Pera:
Com o indicador e o médio abertos na horizontal, da face direita para a frente.

Por favor:
A mão direita aproxima-se da boca e desce.

Digo “por favor”
se estou a pedir.
Quando alguém me pede,
gosto de as ouvir.
António José Ferreira

Porco:
Cinco dedos da mão direita, curtos e separados uns dos outros, rodam em frente da boca e do nariz.

Porta:
Mãos abertas levantadas com palma para fora, a direita abre para o próprio ficando com o polegar à direita.

Trus trus!
– Quem é?
É um amigo da Guiné.
António José Ferreira

Quatro:
Os dedos da mão, exceto o polegar, recolhido.

Sopa: Com a mão esquerda em concha, representado o prato, a direita, côncava, vai à boca como se fosse uma colher.

Sopa. Vou fazer sopa,
Sopa de couve ou agrião.
Sopa. Ralo a batata.
Sal só um pouco.
Ponho feijão.
António José Ferreira

Tartaruga:
A mão direita, fechada, desliza por baixo da mão esquerda, em concha, como a cabeça a sair da carapaça.

Devagar, vai devagar.
Não precisas de apressar.
Tu tens tempo para chegar.
António José Ferreira

Telefone:
Com polegar em cima e o mínimo em baixo, abertos, e outros dedos fechados, entre o ouvido e a boca.

Touro:
Coloca-se a mão direita com o polegar, o indicador e o mínimo abertos, em frente da testa.

Três:
Os três dedos centrais, os outros dois recolhidos.

Tu:
Aponta-se com o indicador.

Tu, Makaton

Tu, Makaton

Urso: As mãos, unidas na ponta dos dedos, na cabeça, dirigem-se duas vezes à cabeça.

Ai que medo, ai que susto.
Há um urso atrás do arbusto.
António José Ferreira

Um:
Indicador levandado, os outros dedos recolhidos.

Uvas:
A mão esquerda tem o polegar, indicador e médio unidos; a mão direita do mesmo modo indo à boca como se levasse bagos de uva.

Vaca:
O polegar e mínimo estão abertos em frente da testa, como cornos, e afastam-se para o lado direito.

Orientação da Dra. Alexandrina Martins, terapeuta da fala

Makaton é um tipo de signos gestuais que provém da linguagem gestual australiana (AUSLAN). Os sinais utilizados são conceitos/ideias selecionados de acordo com o que é mais apropriado para as necessidades da criança com défices de comunicação. O Makaton usa um discurso gramatical normal com sinais de palavras-chave e usa também figuras e expressões faciais. Utilizar o Makaton com crianças com autismo pode ajudá-las na comunicação. O Makaton proporciona pistas visuais, que a criança pode aprender a associar às instruções. Isto é essencial nas crianças com autismo, pois estas possuem boas capacidades de memória visual. É importante que a família, professores e amigos aprendam a utilizar o Makaton, pois as crianças aprendem através de modelagem e experiência em diferentes contextos. Stephen von Tetzchner, Harald Martinsen

Música gera conexões

Estudar esta arte favorece o neurodesenvolvimento. Os especialistas acreditam que ajuda também ao tratamento de menores com TEA ou TDAH.

A música pode ajudar a tratar os transtornos do espetro autista (TEA) e os transtornos por défice de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças, conclui a Sociedade Norteamericana de Radiologia (RSNA, sigla em Inglês). Segundo estes peritos, que os mais jovens recebam aulas de música incrementa e cria novas conexões cerebrais e “pode facilitar os tratamentos em crianças com estes transtornos”.

“Já era sabido que a música era benéfica, mas este estudo oferece um melhor entendimento sobre o que está a acontecer no cérebro e onde se produzem estas mudanças”, assegura Pilar Dies-Suárez, chefe de radiologia no Hospital Infantil de México Federico Gómez, num comunicado. “Experimentar a música numa idade precoce pode contribuir para um melhor desenvolvimento do cérebro, para a otimização da criação e o estabelecimento de redes neuronais e a estimulação das vias existentes do cérebro”, acrescenta a perita.

Estudos anteriores já referiam os benefícios da música no desenvolvimento cerebral. Por exemplo, um elaborado pelo Institudo de Aprendizagem e Neurologia da Universidade de Washington (Seattle, EUA) e publicado pela National Academy of Sciences concluiu que “certas melodias melhoram o processamento cerebral de bebés de nove meses, tanto no que se refere à música como a novos sons da fala”. A investigação sugeria que “experimentar padrões rítmicos musicais melhora a habilidade de detetar e pressagiar padrões rítmicos da fala. Isto significa que ouvir música em idades precoces pode ter um efeito global nas habilidades cognitivas dos bebés”, asseguraram os autores.

A importância das conexões cerebrais

Esta última investigação da RSNA consistiu na análise de 23 crianças entre cinco e seis anos, todos livres de transtornos sensoriais, de perceção ou neurológicos. Além disso, nenhuma tinha assistido anteriormente a aulas de música. Os sujeitos foram submetidos a uma avaliação, prévia e posterior, com uma técnica de ressonância magnética avançada – uma tractografia -, o que lhes permitiu identificar as mudanças microestruturais na matéria branca do cérebro. Esta última contém milhões de fibras nervosas – os axões – que trabalham como cabos de comunicação entre distintas áreas do cérebro. O resultado pôde medir o movimento das moléculas de água extracelulares ao largo destes axões. Do ponto de vista de saúde, tudo é normal quando estas células de água se movem de modo uniforme; em contrapartida, quando o fazem de forma aleatória, sugere que existe algo anormal.

Depois de nove meses de estudo com aulas de música, os resultados mostraram o incremento das conexões e da longitude dos axões em determinadas áreas cerebrais, sobretudo “e de maneira mais notória nas fibras que conectam os lóbulos frontais e que em conjunto constituem o chamado fórceps menor”.

“Ao longo da vida”, prossegue a especialista, “a maturação das conexões cerebrais entre as regiões motoras, auditivas e outras zonas permitem o desenvolvimento de um grande número de habilidades cognitivas, entre elas, as habilidades musicais”.

“Quando uma criança recebe aulas de música, o seu cérebro prepara-se para responder a certas solicitações, estas incluem habilidades motoras, auditivas, cognitivas, emocionais e sociais”, acrescenta Dies-Suárez. “Cremos que o aumento é devido à necessidade de criar mais conexões entre ambos os hemisférios cerebrais quando ouves música”, conclui.

Ajudar as crianças com TEA e TDAH

Os investigadores também crêem que “os resultadosdo estudo podem servir para incidir com mais precisão nas estratégias de tratamento em crianças com TEA ou TDAH”. Transtornos que afetam muitas crianças no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 21 em cada 10 000 crianças que nascem no planeta padecem de autismo, estatísticas que levaram em 2008 a declarar 2 de abril como Dia Mundial do Autismo. Estes transtornos afetam o neurodesenvolvimento e manifestam-se habitualmente nos primeiros três anos de vida. Os bebés com o transtorno perdem o contacto visual, em certas ocasiões parece que não ouvem e têm algumas hipersensibilidades ou fazem birras excessivamente fortes. Uma conduta muito característica das crianças com este transtorno são os comportamentos repetitivos.

O TDAH é um transtorno crónico e começa a revelar-se antes dos sete anos. Estima-se que mais de 80% das crianças continuarão a apresentar problemas na adolescência, e entre 30-65%, na idade adulta. Os rapazes são propensos que as meninas a padecer de TDAH, em proporções que variam de quatro a um.

Carolina García, El País, De mamas y de papas, 24 de novembro de 2016, tradução de António José Ferreira a 12 de junho de 2019.

Criança com autismo dedilhando guitarra, créditos Pixabay

Criança com autismo dedilhando guitarra, créditos Pixabay

O contributo da Música na Educação Especial

Josiane Donatone

O contributo da música na Educação Especial consiste em ser facilitar o processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo, e também ampliar o conhecimento musical do aluno. A música é um bem cultural e o seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos.

Desde cedo, a criança demonstra interesse por ritmos e sons musicais. Com o passar do tempo, a criança experimenta sons que pode produzir com a boca e é capaz de perceber e reproduzir sons repetitivos, acompanhando-os com movimentos corporais. Essa movimentação desempenha papel importante em todos os meios de comunicação e expressão que se utilizam do ritmo, tais como a música, a linguagem verbal e a dança.

Josiane Donatone

Som, ritmo e melodia são elementos básicos, essenciais da música e que podem, na plenitude da expressão musical, despertar e reforçar a sensibilidade do aluno, provocar nele reações de cordialidade e entusiasmo, manter a sua atenção e estimular a sua vontade.

Ao envolverem-se em atividades musicais, os alunos melhoram sua acuidade auditiva, aprimoram e ampliam a coordenação viso-motora, as suas capacidades compreensão, interpretação e raciocínio, descobrem sua relação com o meio em que vivem, desenvolvem a expressão corporal e oral.

Quanto mais as crianças têm oportunidade de comparar as ações executadas e as sensações obtidas através da música, mais a sua inteligência e o seu conhecimento se vão desenvolvendo. Numa escola onde muitos têm um histórico de frustrações – escolares e sociais – devido às duas dificuldades, o trabalho com artes e música é de fundamental importância para o seu desenvolvimento.

A música tem importância como meio de expressão e recurso didático no Ensino Especial. Sendo assim, as atividades com música contribuem para o desenvolvimento no convívio dos alunos no meio social, abrangendo os aspectos comportamentais assim como complementando os aspetos didáticos.

Leia AQUI toda a monografia, A Contribuição da Música na Educação Musical, de Josiane Donatone. Ligeiras adaptações.

Crianças em Musicoterapia

Crianças em Musicoterapia

Música e autismo

Patrícia Fernandes

“Viver… é afinar um instrumento. De dentro para fora. De fora para dentro. A toda a hora, a todo o momento…”

Wisnik, 1989

Comunicar e interagir é de uma enorme importância, não só no ensino como na vida quotidiana, onde fica bastante transparente que, quando uma criança ou adulto manifesta complicações significativas nestas áreas, é fundamental uma proposta educacional adaptada para ajudar a afirmar que a criança ou adulto façam um maior progresso.

“É consensualmente considerado que os ambientes educacionais regulares oferecem às crianças com perturbações do espectro do autismo1 (PEA) uma igualdade de oportunidades, e uma melhor preparação para a vida”.

Não há dúvida de que a presença da Música assume já uma importância acrescida, nomeadamente, a Música como opção terapêutica nas crianças com perturbações do espectro do autismo. “… as canções são poemas que “cantam” a natureza na sua grande diversidade e as pessoas com os seus sentimentos, fantasias e ritos, ora despertando ora excitando (…) uma canção, interpretada em diferentes fases de crescimento do indivíduo faz-lhe despertar diferentes vibrações, quer físicas, quer mentais, quer psicológicas”.

Desde cedo que, estas crianças, jovens adultos manifestam um tumulto severo do seu desenvolvimento, concretamente, relacionado com a interacção social e propriamente a sua comunicação. Por outro lado, podem apresentar diversas habilidades a outras áreas, nomeadamente a Música. A presença da Música, cada vez mais forte, tem significado para cada sujeito na medida em que se une à experiência vivida, ao passado e ao presente. Daí, podermos afirmar que os significados da Música são arquitectados, reproduzidos nas relações, e correspondem com o que é vivido.

“Nas últimas décadas, o ensino da linguagem musical tem vindo a ser objecto de reflexão contínua, no sentido de tornar compreensível uma linguagem tão abstracta como é a Música”.

A Música, cujo poder sobre a mente é incontestável, é hoje muito usada como técnica de relaxamento por parte de profissionais, contudo, tende a ser muito apreciada pelos indivíduos com perturbações do espectro do autismo, daí afirmar que a Musicoterapia é uma das técnicas que mais perto consegue ir destes indivíduos.

A Musicoterapia permite uma enorme aproximação por parte destes indivíduos, no que se refere, ao ouvir, sentir e tocar.

Patrícia Fernandes

Através deste tipo de actividades, as áreas a trabalhar são inúmeras, desde trabalhar a motricidade, ao executar gestos e até mesmo a dança, desde desenvolver uma acuidade auditiva e também trabalhar questões como o ritmo, a atenção, entre outras.

A importância da Música na formação e na educação foi proclamada e oficializada na Lei de Bases do Sistema Educativo-LBSE, nº46/86, de 14 de Outubro de 1986, abrangendo todos os níveis de ensino, desde o pré-escolar ao ensino superior, passando a integrar áreas disciplinares com competências de “ (…) desenvolver capacidades de expressão e comunicação, (…) desenvolver a imaginação criativa e sensibilizar para a actividade lúdica, (…) assegurando às crianças com NEE (…) condições adequadas ao seu desenvolvimento e pleno aproveitamento das suas capacidades” (LBSE, 1986, art.º s 5º e 7º).

Sons e Silêncios. Musicoterapia no tratamento de indivíduos com perturbações do espectro do autismo, de Patrícia Raquel Silva Fernandes. II Ciclo em Ciências da Educação, Educação Especial. Braga, Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga – Faculdade de Ciências Sociais, 2012.

Menino com espectro do autismo

Menino com espectro do autismo

Música para Necessidades Educativas Especiais

Isabel Ferreira

A Música, quando bem administrada, tem efeitos benéficos ao ser humano e coloca-o em contacto com os seus sentimentos sem causar introspeção. Entre as Expressões, a Música pode ser, se permitirmos, um grande contributo para a ajuda das crianças com NEE. Não só as motiva como também, ajuda a colmatar as suas lacunas. Há Música que condiciona e determina um certo comportamento, uma certa expressão de um sentimento. Isto é, a criança pode estar sob efeito de um nervosismo, de uma depressão ou agressividade e determinada música ou canção mudar o seu estado de espírito, acalmar ou alegrar, servir de estímulo, proporcionar paz. A Música tem aqui a função de uma terapia, a terapia musical.

As crianças com deficiência têm gosto e natural tendência para o ritmo e para a Música. É necessário que se ponha este gosto ao serviço do desenvolvimento da sua expressão corporal e da formação do espírito. É também de muito interesse que as crianças com patologia aprendam a manejar instrumentos de percussão e de sopro pois, estes favorecerão o desenvolvimento auditivo.

A Música como elemento terapêutico é utilizada há mais de trinta mil anos. Ela encontra um grande campo de aplicação em pedagogia, sobretudo na reeducação de pessoas com limitações físicas, com problemas sensoriais tais como a surdez, cegueira e ainda nas pessoas com problemas mentais. Sendo ela um instrumento de disciplina, de pensamento e de expressão de emoções através da motricidade, é capaz de atingir as profundezas do ser que estão inacessíveis e que a Educação entendia no seu aspeto habitual, não é capaz de resolver.

Ao estudar-se o desenvolvimento do ser humano, permite compreender que o som acompanha-nos desde a vida intra-uterina até à nossa morte. Há estudos que comprovam que o feto, através do seu sistema tátil, e posteriormente, através do ouvido, ouve sons e ritmos que fazem parte do universo corporal da mãe. Para além de todos os sons corporais tais como as articulações, os movimentos peristálticos, a voz da mãe, o feto desenvolve-se e vai-se apercebendo da importância vital que este som (batimento cardíaco) tem para a sua vida.

A Música toca em regiões do ser e do inconsciente, impossíveis de obter por outros meios, e exerce uma enorme influência sobre as condições psicofisiológicas do ouvinte. Em consequência, produz efeitos quer a nível físico, quer a nível psíquico. Na medida em que pretende dar resposta a objetivos ora pedagógicos ora terapêuticos, a Música tem um caráter de reeducação. A capacidade que ela tem de desbloquear estados inibidores, de resolver problemas de expressão e de preparar o indivíduo para o acesso a uma psicoterapia essencialmente verbal, faz que seja utilizada no campo psiquiátrico como o meio de comunicação para pessoas com doenças mentais, autistas e outras, que são privadas de certas relações interpessoais.

Podemos considerar a Música como uma outra linguagem, possuindo o seu código específico. A linguagem verbal foi-se desenvolvendo, segundo um processo de evolução cultural permitindo descrições precisas e sendo a base de uma grande parte da nossa cultura. Ela não fornece ao nosso espírito pensamentos claros, mas aparece como um fenómeno global que origina experiências de beleza onde o resultado é a conjugação da sensibilidade e da emoção. Esta dupla linguagem artística, existente na nossa cultura – verbal e musical – encontra-se de maneira surpreendente na função cerebral.

A criança/jovem com défice intelectual, apresenta perturbações e limitações na forma de se relacionar com o meio e com os outros. O facto de essas limitações serem ao nível comunicativo, colocam entraves à forma de ela estar no mundo. É comum constatarem que estas crianças apresentam problemas de ordem emocional e relacional, inibindo o seu potencial de desenvolvimento. Torna-se imperioso reeducá-las de forma a torná-las capazes de desempenhar, dentro de padrões mínimos, as atividades normais para a sua idade, de forma a dar-lhes melhor qualidade de vida.

Segundo Jacques Dalcroze, ”…é indispensável, no campo da Música,…, favorecer na criança a liberdade das suas ações musculares e nervosas, ajudando-o a triunfar sobre as resistências e inibições e harmonizar as suas funções corporais com as do pensamento”. Pelo facto da Música possibilitar a comunicação, ajudar a memória, impulsionar e organizar as ações motoras, ela é de maior importância na (re)educação e desenvolvimento dos deficientes.

Para Jacqueline Verdeau-Paillés e Mario Delli Ponti (1995) “a Música experimentada, compreendida, interpretada como perceção do ritmo e como atividade rítmica, pode ter a sua utilização em pedagogia e em terapêutica, dirigindo-se a indivíduos ou a grupos, a crianças, a adultos, a pessoas idosas; ela permite reunir as luzes de uma fácil aprendizagem, de um melhoramento dos comportamentos, de um desaparecimento de certos sintomas e de uma possibilidade de comunicação para os indivíduos que sofrem de diversos tipos de limitações sensoriais”.

Deste modo, são várias as áreas de conteúdo onde a Música pode atuar: doenças mentais, motoras, sensoriais e outras. Neste sentido, o trabalho tem características distintas, de acordo com as necessidades de cada patologia.
Face a uma criança com deficiência, temos de a encarar como um ser humano com quem se vai estabelecer um meio especial de comunicação, devendo esquecer todas as informações de base sobre a criança, isto é, partir da linha zero, despojar-se de todas as circunstâncias vivenciais que o “deficiente” apresenta para poder exercer nele uma terapia positiva e um meio de comunicação eficaz entre os dois intervenientes nas sessões individuais.

O primeiro contacto com uma criança com deficiência, deverá ser individual, propõe-se começar com algumas sessões individuais, de cinco a dez, para depois se integrar nas sessões de grupo e é nestas que o “deficiente” melhor se enquadra no sentido de uma terapia adequada. Segundo Jacques Dalcroze, “ É indispensável no campo da Música ou qualquer outro domínio, ocupar-se dos ritmos, favorecer na criança a liberdade das suas ações musculares e nervosas, ajudá-la a triunfar sobre as resistências e inibições e harmonizar as suas funções corporais com as do pensamento”.

Com a criança com deficiência todas as obras musicais devem ser do máximo primitivismo, pois trata-se de estimular e tratar um ser humano que apresenta um grave handicap. A regra de ouro desta terapia é a simplicidade. É muito importante que a terapia recorra às canções simples que podem ser inventadas pelo deficiente ou pelo profissional que o acompanha. Deve-se adotar textos primitivos para que sejam entendidos, por exemplo: o cavalo toc-toc, o gato miau-miau, etc. O ritmo cardíaco é outro conceito a ser explorado.

Se a criança com deficiência apresenta agressividade, é importante que se canalize a Música, dando-lhe um tambor para expressar esse sentimento. Deve-se escutar o tempo biológico particular de cada criança, para assim atuar com mais eficácia no tratamento da deficiência. Deste modo, tem de se ter um conhecimento sobre a idade cronológica e o quociente intelectual do indivíduo e, por outro lado tem de se dirigir a um ser humano a quem através de uma linguagem especial vão ser dirigidas uma série de mensagens que servirão para o seu desenvolvimento.

Pelo facto da Música se inserir num contexto não verbal, permite a introdução de mensagens que pareciam difíceis, embora sejam facilmente captadas. Quando a Música e o som se utilizam como agentes de intercâmbio, para estabelecer uma relação terapêutica que possibilite o crescimento e o desenvolvimento da pessoa, encontramo-nos frente a um processo Música/Terapia. Este baseia-se na potencialidade sensório/motor e comunicativa da Música, e é constituída pelo trinómio – ação/relação/comunicação.

A ação consiste em tocar instrumentos, cantar ou mover-se ao som da Música e deve ter um caráter lúdico. O “deficiente” precisa de ser estimulado a brincar, porque só assim é que vai poder manifestar as suas capacidades e criatividade. Através da Música, vão-se desenvolver certas habilidades motoras e as noções de espaço e tempo.

O resultado da ação de tocar, cantar, dançar, chega a todas as pessoas presentes no grupo de trabalho, mesmo àquelas que, aparentemente, não estão a participar na atividade. Começa a ocorrer uma interação e um contacto interpessoal – a relação. Com o decorrer do processo, os membros do grupo ouvem-se e tocam em conjunto. Têm início relações interpessoais mais explícitas. A Música é um meio não verbal de comunicação/expressão de sentimentos e afetos, que mais tarde poderão chegar, ou não, a ser verbalmente explicitados e elaborados.

Leia AQUI toda a dissertação.

A importância da Música no desenvolvimento global das crianças com Necessidades Educativas Especiais: perspetiva dos Professores do 1º Ciclo e de Educação Especial, por Isabel Maria Campos Ferreira, Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade em Domínio Cognitivo e Motor, Lisboa: Escola Superior de Educação João de Deus, 2012. Excerto com ligeiras adaptações.

Criança com NEE

Criança com NEE

Música em animais

Mara Cláudia Ribeiro, Aplicabilidade da Musicoterapia nas complicações neurológicas decorrentes da hipóxia hisquêmica encefálica, induzida experimentalmente por nitrito de sódio, tese de doutorado, Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, 2017.

A música tem sido estudada principalmente por promover alterações em seres humanos e animais, tais como controle da dor, aumento na sensação de bem-estar, diminuição da fadiga e da ansiedade, dentre outras.

Mara Cláudia Ribeiro

O USO DA MÚSICA EM ANIMAIS

[ Excerto ]

A música tem sido estudada principalmente por promover alterações em seres humanos e animais, tais como controle da dor, aumento na sensação de bem-estar, diminuição da fadiga e da ansiedade, dentre outras. Os animais não humanos são seres sencientes que interagem com o ambiente e com os outros seres que fazem parte dele. Com isso, é correto afirmar que são influenciados e que influenciam o local onde permanecem durante suas atividades.

Na Medicina Veterinária, a música tem sido cada vez mais estudada e utilizada para minimizar problemas relacionados à depressão, ansiedade e estresse, tanto como forma de enriquecimento ambiental quanto para o incremento da produção. Vários estudos vêm sendo realizados ao longo dos anos, a fim de verificar possíveis efeitos positivos da musicoterapia em animais, seja em experimentos que procuram estabelecer relação com possíveis efeitos semelhantes em humanos, seja para fins de melhora de produção.

Sampaio, em uma sequência de testes experimentais efetuados com camundongos, campo aberto (locomoção), labirinto em cruz elevado – LCE (ansiedade), nado forçado (depressão) e esquiva inibitória, expostos à Sonata de Mozart para dois Pianos, observou que a música clássica foi capaz de afetar de maneira positiva as respostas comportamentais, corroborando outro estudo onde camundongos foram submetidos à música clássica por 24 horas. Os resultados obtidos demonstraram a existência de uma significativa diminuição na imobilidade no nado forçado, aumento na entrada nos braços fechados do labirinto em cruz elevado e diminuição na imobilidade no campo aberto, sugerindo que a música foi capaz de provocar mudanças na atividade motora dos animais, podendo ser utilizada como um recurso de baixo custo para promover enriquecimento ambiental e bem-estar para animais em cativeiro.

Em ratos de laboratório, a música clássica reforçou as atividades sociais e o interesse sexual entre os indivíduos, enquanto a música do tipo rock provocou intensificação de comportamentos agressivos e diminuição na atividade sexual.

Bowman realizou estudo em centro de resgate de cães onde os animais foram expostos à música clássica e constataram que, durante a estimulação auditiva, os cães permaneceram a maior parte do tempo deitados ou sentados e em silêncio do que latindo e em pé, sugerindo, assim, uma eficiente técnica de enriquecimento ambiental.

Em frangos de corte, a música clássica propiciou a redução do temor, avaliado pelo aumento do tempo gasto com a alimentação e diminuição da imobilidade tônica. Semelhante efeito foi observado com carpas: elas foram expostas à música clássica de forma subaquática e constatou-se que a música contribuiu de maneira positiva com o bem-estar e o crescimento dos animais estudados.

De Jonge observarou que a musicoterapia foi capaz de influenciar o comportamento de leitões no pós-desmame, diminuindo significativamente a incidência de injúrias entre os animais.

Uetake, Hurnik e Johnson (1997) observaram que em vacas leiteiras a música country foi uma forma de estímulo e associação para que os animais se encaminhassem voluntariamente ao setor de ordenha automática. Na investigação desse estudo, 19 vacas leiteiras passaram a associar o início da ordenha com o som da música country, dirigindo-se ao local da ordenha de modo mais eficiente. Constataram também que a associação da ordenha com estímulos auditivos apresentou resultados mais satisfatórios do que quando era oferecido o concentrado como método de associação e reforço positivo.

Conclui-se que as diferentes formas de estímulos sonoros podem funcionar como estímulos desencadeantes para as mais diversas alterações fisiológicas e comportamentais nas diferentes espécies animais, inclusive nos humanos. A musicoterapia pode ser um recurso a ser utilizado de maneira positiva para obtenção de efeitos benéficos na recuperação da saúde dos humanos e dos animais, assim como na melhoria da gestão e produção no campo da veterinária. É preciso salientar que os estudos em que são avaliados os efeitos da musicoterapia em animais ainda são escassos, sendo necessário um maior número de pesquisas que fundamentem ainda mais essas informações.

Cadela

Cadela

Musicoterapia e autismo

A aplicação da Musicoterapia numa Criança com Espectro de Autismo

Juliana Janela Azevedo

A música, cujo efeito sobre a mente é inegável, e é muito utilizada em técnicas de relaxamento, apresenta a vantagem de ser muito apreciada pelas crianças com perturbação do espectro do autismo e por isso a musicoterapia é uma técnica de aproximação a estas crianças. As experiências musicais que permitem uma participação activa (ver, ouvir, tocar) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças.

Ao trabalhar com os sons, ela desenvolve acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar, ela trabalha a coordenação motora, o ritmo e a atenção; ao cantar ou imitar sons, ela descobre as suas capacidades e estabelece relações com o ambiente em que vive.

Juliana Janela Azevedo

As crianças com perturbação do espectro do autismo apresentam-se “desconectadas”, ausentes na sua presença, rítmicas nos seus rituais e nas suas estereotipias, melódicas nas suas ecolálias e nos seus gritos, harmónicas nas suas desarmonias.

Desde há vários anos que se utiliza a música como instrumento terapêutico e preventivo em medicina e a sua importância manifesta-se através de um grande número de artigos de investigação e no interesse próprio dos médicos e psicólogos no tratamento de pacientes críticos. É considerada como um meio de expressão não verbal, é um tipo de linguagem que facilita a comunicação e a exteriorização de sentimentos, permitindo às pessoas descobrir o que há no seu interior e partilhá-lo com os seus pares.

A musicoterapia é uma disciplina funcional e sistemática que requer métodos e técnicas específicas para manter ou reabilitar a saúde dos doentes. Neste processo sistemático, a relação e a experiência musical atuam como forças dinâmicas de mudança, facilitando a expressão emocional do sujeito, o seu desenvolvimento comunicativo e a adaptação e integração à sua nova realidade social. É importante assinalar que a musicoterapia só deve ser aplicada por terapeutas com formação nesta área. Existem circunstâncias nas quais a terapia musical pode ter efeitos negativos, particularmente se não se pratica correctamente.

As crianças com perturbação do espectro do autismo, especialmente nas primeiras etapas, podem recusar ou ignorar qualquer tipo de contacto com outra pessoa, inclusive com o terapeuta. No entanto, um instrumento musical pode servir de intermediário efectivo entre o paciente e o terapeuta, oferecendo-lhe um ponto de contacto inicial. Por outro lado, descreveu-se que a música e a musicoterapia podem ser muito efectivas em reforçar e mudar o comportamento social da criança com perturbação do espectro do autismo.

Na área da comunicação, a musicoterapia facilita o desenvolvimento global da criança, ou seja, o processo da fala e vocalização, estimulando o processo mental relativamente a aspectos como conceptualização, simbolismo e compreensão. Adicionalmente, regula o comportamento sensitivo e motor, o qual está frequentemente alterado na criança com perturbação do espectro do autismo. Neste sentido, a música como actividade rítmica é efetiva em reduzir comportamentos estereotipados. Por último, a musicoterapia facilita a criatividade e promove a satisfação emocional. Este aspecto leva-se a cabo através da liberdade do paciente no uso de um instrumento musical, à margem do tipo de sons que podem sair dele.

As fontes de conhecimento da criança são as situações que ela tem oportunidade de experimentar no dia-a-dia. Dessa forma, quanto maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será o seu desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as experiências rítmico-musicais que permitem uma participação activa (vendo, ouvindo, tocando) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças.

Ao trabalhar com os sons, ela desenvolve a sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar, ela trabalha a coordenação motora, o ritmo e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela descobre as suas capacidades e estabelece relações com o ambiente em que vive.

Juliana Janela Azevedo

A abordagem pedagógica da criança autista depende muito do pragmatismo, espírito de criatividade, experiência e bom senso do educador, e deve ser complementada com o auxílio de recursos diversos como imagens, desenhos, pinturas, música, jogos, brinquedos especiais, actividades artísticas, manipulação com massas e, ultimamente, trabalhos com computador. O importante é estimular a criança, dar-lhe actividades, tanto físicas quanto mentais, e não deixá-la isolar-se e afundar-se nas estereotipias, que acabarão por dominá-la, atrofiando ainda mais o seu sistema cognitivo, caso não haja uma estimulação permanente.

As técnicas educacionais como o ABA (Applied Behavior Analysis), o método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communicationhandicapped Children), e o PECS (Picture Exchange Communication System) vêm-se expandindo com relativo sucesso, nestas ultimas décadas. O tratamento comportamental analítico (ABA) da perturbação do espectro do autismo visa ensinar à criança comportamentos que ela não possui, através da introdução destes por etapas. Cada comportamento é ensinado, em geral, num esquema individual, inicialmente apresentando-o associado a uma indicação ou instrução. A resposta adequada da criança tem como consequência a ocorrência de algo agradável para ela, o que na prática é uma recompensa; quando a recompensa é utilizada de forma consistente, a criança tende a repetir a mesma resposta.

O método TEACCH já referido anteriormente, desenvolvido nos anos 60, baseia-se na organização do ambiente físico através de rotinas e sistemas de trabalho, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, assim como compreender o que se espera dela; através da organização do ambiente e das tarefas da criança, o TEACCH visa desenvolver a independência da criança. O sistema de comunicação através da troca de figuras (PECS) foi desenvolvido para ajudar crianças e adultos com perturbação do espectro do autismo e com outras alterações do desenvolvimento a adquirirem comportamentos de comunicação; visa ajudar a criança a perceber que através da comunicação ela pode conseguir muito mais rapidamente as coisas que deseja, estimulando-a assim a comunicar-se e a diminuir os problemas de comportamento.

Como recurso terapêutico complementar de grande importância, salienta-se a musicoterapia. A música, cujo efeito sobre a mente é inegável, e é muito utilizada em técnicas de relaxamento, apresenta a vantagem de ser muito apreciada pelas crianças com perturbação do espectro do autismo. A musicoterapia é a primeira técnica de aproximação com estas crianças. Pode considerar-se que elas são uma espécie de feto que se defende contra os medos de um mundo externo desconhecido e contra as sensações das deficiências do seu mundo interior. Portanto, é importante trabalhar em etapas com elementos de regressão, ou seja, musicoterapia passiva ou receptiva (o paciente é submetido ao som sem instruções prévias), de comunicação e de integração.

As actividades com música, por exemplo, servem como estímulo à realização e ao controlo de movimentos específicos, contribuem para a organização do pensamento, enquanto as actividades em grupo favorecem a cooperação e a comunicação. Além disso, a criança fica envolvida numa actividade cujo objetivo é ela mesma, onde o importante é o fazer, participar, em que não existe cobrança de rendimento, a sua forma de expressão é respeitada, a sua ação é valorizada e, através do sentimento de realização, ela desenvolve a auto-estima. As necessidades educativas das pessoas com perturbação do espectro do autismo devem ser determinadas individualmente.

As actividades musicais favorecem a inclusão de crianças com perturbação do espectro do autismo. Pelo seu carácter lúdico e de livre expressão, não apresentam pressões nem cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança, auxiliando-a na desinibição contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo outro e abrindo espaço para outras aprendizagens.

Juliana Janela Azevedo

As actividades técnicas que incorporam a música de uma forma interactiva, podem ser de muito valor para as terapias de crianças com perturbação do espectro do autismo. As técnicas de terapia musical podem ajudar estas crianças a serem mais espontâneas na comunicação, a romperem o seu padrão de isolamento, a reduzirem a sua ecolália, a socializarem-se e a compreenderem mais a linguagem.

Devido às diferenças entre indivíduos com perturbação do espectro do autismo, não existem regras universais sobre como se deve aplicar a terapia musical. Umas crianças podem reagir positivamente a certa técnica, enquanto outras podem fazê-lo negativamente. A música pode ser um instrumento muito poderoso para romper padrões de isolamento ao prover um estímulo externo. Mas, por outro lado, a terapia musical pode criar uma sobrecarga no sistema nervoso de algumas pessoas com perturbação do espectro do autismo, e aumentar as reações de auto-estimulação.

Alguns investigadores mencionam que a terapia musical em crianças com perturbação do espectro do autismo pode:

romper com os padrões de isolamento e abandono social e contribuir para o desenvolvimento sócio-emocional: o isolamento social é reconhecido como uma das principais características da perturbação do espectro do autismo desde há muitos anos. Romper este padrão de isolamento e introduzir a criança com esta perturbação em actividades externas, em vez de internas, é importante para combater os seus problemas cognitivos e perceptivos. As crianças com perturbação do espectro do autismo, especialmente nas etapas iniciais do estabelecimento de relações, usualmente rejeitam e ignoram as tentativas de contacto social iniciadas por outras pessoas.

A terapia musical pode fornecer alternativamente, um objecto de interesse mútuo através de um instrumento musical. Em vez de ele ser ameaçador, a forma, o som e o tacto do instrumento podem fascinar a criança com perturbação do espectro do autismo. O instrumento pode converter-se num inter-médio entre o paciente e o terapeuta, provendo um ponto inicial de contacto. Ao mesmo tempo, um terapeuta com experiência pode estruturar a experiência desde o princípio da terapia para minimizar efeitos negativos tais como sobrecarga sensorial e rituais auto-estimulantes. O som do instrumento, assim como o seu aspecto visual e táctil, podem ajudar a criança a compreender que outra pessoa o está a criar.

A música e as outras experiências musicais podem ser fonte de quantidades inumeráveis de tipo de relações. Uma vez que a barreira tenha sido ultrapassada, o terapeuta musical continua com uma série de experiências estruturadas que podem aumentar a atenção destas crianças e libertá-las do seu mundo. Apesar do processo poder ser lento e árduo, a terapia musical é um instrumento inusual e prazenteiro que pode adaptar-se para chegar às necessidades do paciente. Para além do progresso individual e do começo de relações, a terapia musical é também uma forma efectiva de ensinar comportamentos sociais. Deve ser estruturada para garantir uma melhoria nas crianças com perturbação do espectro do autismo. Apesar das interações verbais poderem ser limitadas, as interações sociais podem aumentar quando os pacientes aprendem num ambiente estruturado e adaptado a eles.

Facilitar a comunicação verbal e não-verbal: a dificuldade na comunicação funcional das crianças com perturbação do espectro do autismo pode depender fundamentalmente da sua inabilidade para manipular símbolos e representações simbólicas; por outras palavras, a criança não pode “ver” ou “escutar” mentalmente algo que não está representado no ambiente. A linguagem, um sistema simbólico verbal, é difícil de entender para elas. A “linguagem autista” está sempre acompanhada por mudez, ecolália ou iniciativa de comunicação limitada. A terapia musical na área de comunicação, incentiva a verbalização e estimula os processos mentais em relação à conceptualização, ao simbolismo e à compreensão.

Ao nível mais básico, a terapia musical trabalha para facilitar e suportar o desejo ou necessidade de comunicação. Acompanhamentos improvisados, durante as expressões habituais do paciente, podem demonstrar uma relação de comunicação entre o comportamento do mesmo e as notas musicais; as crianças com perturbação do espectro do autismo podem perceber estas notas mais facilmente que aproximações verbais. Mesmo que estas crianças comecem a mostrar intenções comunicativas (verbais e não-verbais), a música pode usar-se para motivar a vocalização.

Aprender a tocar um instrumento de sopro é, de alguma forma, equivalente a aprender a vocalizar e também ajuda a utilizar os lábios, a língua, o maxilar e os dentes. O uso de padrões melódicos e rítmicos fortes durante as instruções verbais também se demonstrou benéfico, ao manter a atenção e melhorar a compreensão da linguagem falada. A terapia musical pode em algumas instâncias reduzir as vocalizações não comunicativas que impedem o progresso durante a aprendizagem da linguagem.

Reduzir os comportamentos consequentes de problemas de percepção e de funcionamento motor e melhorar o desenvolvimento nestas áreas: as crianças com perturbação do espectro do autismo, usualmente, mostram uma marcada ausência de respostas afectivas ao estímulo e isto contribui para que exista algum defeito no processamento destes estímulos. Muitas destas crianças respondem favoravelmente ao estímulo musical. As suas respostas afectivas positivas podem melhorar a participação noutras actividades desenhadas para promover a linguagem e a socialização. Além disso, a música pode fornecer um contexto muito útil para incentivar o desenvolvimento da curiosidade e do interesse exploratório dos estímulos.

As crianças com perturbação do espectro do autismo têm comportamentos “musicais” que são indicativos de como a música pode ser importante para fazê-las emergir do seu mundo. Alguns exemplos destes comportamentos são a repetição de segmentos de canções escutadas, o ritmo espontâneo, a atração por certos sons, timbres ou fontes sonoras e o movimento espontâneo a certo tipo de música. As actividades musicais terapêuticas propostas são:

Canto: as canções podem ser adaptadas a todos os níveis de funcionamento. São uma fonte de segurança emocional e estabilidade, fonte de estimulação em todas as áreas de funcionamento e uma via para a comunicação verbal.

Tocar instrumentos: é um comportamento musical tangível e estruturado. Oferece a oportunidade de fazer música desde um nível simples até a um complexo, aumenta a participação na actividade musical, estimula a libertação de emoções e dá à criança uma sensação de vitória. Para além disto, aumenta a coesão do grupo, as habilidades sociais e a atenção, melhora a coordenação motora, fina e grossa, e a coordenação óculo-manual, melhora a percepção auditiva, visual e táctil e redirige o comportamento não adaptativo. Algumas crianças tocam instrumentos de maneira adequada, enquanto para outros os instrumentos se tornam uma via de expressão; mas as duas situações são igualmente satisfatórias desde o ponto de vista terapêutico.

Movimento com a música: compreende a actividade motora grossa rítmica, locomoção básica, movimentos psicomotores livres e estruturados, actividades perceptíveis-motoras, dança e movimento criativo, Baile social, movimento combinado com canto ou toque conjunto de instrumentos. A criança com perturbação do espectro do autismo é arrítmica por natureza. A aplicação do aspecto rítmico da música à psicologia desta perturbação baseia-se no princípio lógico de reabilitação, compensa-se a pessoa com os desenvolvimentos/comportamentos que não possui. O conceito “ritmo” deve ser estruturado, generalizado, de maneira que os ajude a tomar consciência esquematizada da sua própria realidade exterior.

A criança com perturbação do espectro do autismo centra-se numa actividade dinâmica-motora que o diverte e, sem se dar conta, é levado progressivamente a uma consciência de ser actor voluntário. No caso de dificuldades motoras a níveis mais baixos, o terapeuta percute ritmicamente o corpo da criança, executa movimentos pausados sincronizados, experimenta sensações visíveis de bem-estar, estimulantes e relaxantes, e vai arquivando comportamentos rítmicos naturais. O som é a matéria constitutiva da música. Em musicoterapia, utiliza-se o som e não o ruído.

O som pode-se aplicar como terapia utilizando as diferentes formas em que se apresenta e em todas as variantes e componentes. É importante que o terapeuta conheça e saiba definir conceitos como som, música, melodia, harmonia, música instrumental, vocal, sons agudos, graves, voz, sopranos, tenor, formas musicais, entre outros. Todas estas variantes e formas de som têm um valor terapêutico muito especial.

Das qualidades do som, o timbre tem o papel terapêutico mais importante. A concordância da música com o estado de ânimo do individuo deve estender-se ao timbre preferido (corda, sopro, precursão…), ao instrumento preferido, à voz/coro favorito ou à combinação instrumental-voz eleita. A tarefa de averiguar a identidade sonora de cada indivíduo é essencial em musicoterapia.

A voz é o instrumento mais próximo e terapêutico de que o terapeuta musical dispõe. A utilização da voz como elemento dinâmico supõe uma forma de contacto directa e próxima com a criança com perturbação do espectro do autismo. A capacidade do terapeuta para projectá-la, modulá-la e regulá-la, é um elemento chave para os ganhos que se pretendem. As alterações, intensidades e diversidade de sons que a voz pode permitir abarcam o cúmulo de possibilidades rítmicas e as qualidades de altura tonal, intensidade, duração e timbre. O musicoterapeuta deve ser um artista da voz.

A altura tonal, juntamente com a intensidade (outras qualidades do som), situa a criança com perturbação do espectro do autismo no limite da fronteira entre a ansiedade, o nervosismo, a angústia, a serenidade e o recolhimento. Não se devem utilizar tons agudos durante a terapia. A criança com esta perturbação, ao ouvir os tons agudos, tapa os ouvidos e isola-se. Uma tonalidade média, a preferida, corresponde a 300-400 vibrações por segundo. As intensidades devem regular-se de modo a que em nenhum caso excedem os 30-40 decibéis. Gritar para uma criança com perturbação do espectro do autismo é um erro grave, que deve ser evitado.

Durante a terapia musical deve reservar-se um tempo para o jogo, para as canções específicas e pessoais com o nome da criança e o seu envolvimento afectivo familiar, para uma improvisação ordenada e dirigida tanto por parte do terapeuta como de quem assiste às sessões. Deve planificar-se uma experiência tímbrica sonora, com o piano por exemplo, onde a criança contacte com o teclado cada vez que o terapeuta mude registos e timbres instrumentais.

Alguns autores sugerem o uso de material sonoro-musical durante a gestação, como método preventivo da perturbação do espectro do autismo. A terapia musical não é só um processo no qual se utilizam as fortalezas do indivíduo para melhorar as suas debilidades, mas também um processo para refinar e melhorar estas fortalezas.

A Aplicação da Musicoterapia numa Criança com Espectro do Autismo, Estudo de Caso, por Juliana Janela Azevedo, II Ciclo em Ciências da Educação – Educação Especial, Sob orientação do Professor Doutor José Carlos de Miranda. UCP – Centro Regional de Braga, Faculdade de Ciências Sociais, 2012. Excerto.

Leia AQUI a dissertação completa, se o desejar.

Criança com autismo brincando

Criança com autismo brincando

A Educação Musical de Crianças com Síndrome de Down

Anahi Ravagnani

Embora possam apresentar algumas semelhanças, as Musicoterapia e Educação Musical são muito distintas e não devem ser confundidas. Com bases científicas solidamente construídas e reconhecidas a partir do séc. XX, a Musicoterapia é uma área de conhecimento baseada em um processo sistemático de intervenção, no qual o terapeuta auxilia o cliente a promover a saúde, utilizando como ferramenta as experiências musicais. Análoga a uma reação química, os seus principais elementos: o cliente, a música e o terapeuta combinam-se e interagem de diversas formas. Cabe ao terapeuta, conceber, esboçar e analisar as formas com que o cliente experimenta a música, seja por meio da escuta, do improviso, da re-criação ou da composição musical.

Na Musicoterapia o que mais importa é a relação entre a música e o paciente (ou cliente, como é chamado pelos musicoterapeutas) e não a música em si mesma, nem os conceitos estéticos que a permeiam. Não é necessário que o musicoterapeuta seja, obrigatoriamente, um exímio instrumentista ou cantor, porém, é importante que conheça bem os elementos que constroem a música como melodia, harmonia, timbre e andamento, entre outras, e seus possíveis efeitos sobre o ser humano.

Na Educação Musical, diferentemente da Musicoterapia, o foco recai sobre a aquisição de algum conhecimento musical pelo aluno, e não em melhorar a saúde. O educador musical, a priori, não conhece as técnicas utilizadas durante uma sessão de Musicoterapia, apesar de estar atento aos efeitos causados pela música no seu aluno.

Na concepção de V.H. Gainza, a Musicoterapia prevê a aplicação científica da música a contribuir ou favorecer os processos de recuperação psicofísica das pessoas, enquanto que a Educação Musical é um modo de sensibilizar e desenvolver integralmente o indivíduo, capacitando-o para tornar possível o seu êxito ao conhecimento e ao prazer musical.

Embora a observação de uma aula de musicalização em grupo, por exemplo, e de uma sessão individual de musicoterapia possam ser aparentemente semelhantes, a diferença essencial é que no primeiro caso a música é utilizada como meio de aquisição de conhecimento musical, e no segundo tem a finalidade de servir a um processo terapêutico.

Há ainda outra diferença importante entre a Educação Musical e a Musicoterapia: a relação entre aluno/professor e cliente/terapeuta. Tratando-se de um aluno e um professor de instrumento, por exemplo, este irá estimular ao máximo o seu aluno para que alcance o maior grau técnico possível, visando à execução instrumental cada vez mais refinada. No caso de um cliente submetido a uma sessão de musicoterapia, este receberá motivação e estímulo para que alcance melhores condições de saúde física e mental.

Leia AQUI toda a dissertação de Anahi Ravagnani, A Educação Musical de Crianças com Síndrome de Down em um contexto de Interação Social. Curitiba 2009.

Criança com síndrome de Down tocando

Criança com síndrome de Down tocando

Música terapêutica

O Potencial Reeducativo e Terapêutico da Música

Patrícia Fernandes

A Musicoterapia poderá transportar benefícios a todos aqueles a quem se dispõe. Como prodígio estético a actividade musical é uma experiência individual e colectiva que mistura na sua realização corpo, mente e espírito. Deste ponto de vista, valoriza-se o indivíduo que cria, a sua atitude criativa enquanto possibilidade de mudança e vista como um comportamento que provoca transformações.

“Uma atitude criativa representa uma resposta adequada a uma situação nova, ou uma resposta mais adequada e mais construtiva a uma situação antiga, devendo o indivíduo criador ser capaz de modificar seu comportamento em resposta a novas informações, a fim de progredir por si mesmo num estilo único de aprendizagem, estimulando a mudança e proporcionando oportunidades para transferir e aplicar o conhecimento às situações de realidade”.

Costa & Vianna, 1982

Cumpre ressaltar o carácter terapêutico da Música que se divide nas seguintes dimensões:

  1. Físicas (através do relaxamento muscular alivia a ansiedade, a depressão e facilita a participação em actividades físicas);
  2. Mentais e Psicológicas (reforça a identidade, o auto-conceito, promove a expressão verbal e favorece a fantasia);
  3. Sociais (promove a participação em grupo, o entretenimento e a discussão);
  4. Espirituais (facilita a expressão e o conforto espiritual, a expressão de dúvidas, raiva e de medo).

Abordamos o carácter terapêutico da Música no geral, uma vez que circunscreve dimensões físicas, mentais, psicológicas, sociais e espirituais, e a Musicoterapia em específico que compreende as interacções entre o paciente, a música e o musicoterapeuta. Referimo-nos ao seu papel, estimular o bem-estar de forma activa e adaptada às circunstâncias de cada um e, aos objectivos da Musicoterapia, estimulando o desenvolvimento motor e cognitivo, o pensamento e a reflexão e, as habilidades comunicativas, de interacção e sociabilidade.

A Musicoterapia apresenta como objectivos fundamentais a estimulação:

  1. Física e Psicológica,
  2. Consciência Perceptiva,
  3. Expressão Emocional,
  4. Capacidade Comunicativa e Cognitiva,
  5. Comportamento Social e as Capacidades Individuais.

Contrariamente, a música em si mesmo não é terapêutica.

  1. A Música é usada como um reforço, uma forma de implementar, modificar ou extinguir comportamentos = modelar comportamento.
  2. A Música como improvisação criativa para alcançar respostas musicais que desenvolvam potencialidades expressivas e comunicativas que nos são inatas.
  3. Pode usar-se apenas um som, apenas um ritmo, escolher uma música conhecida e até mesmo fazer com que o indivíduo crie a sua própria música.

Os que fazem com que a Música ostente o carácter terapêutico são os musicoterapêuticos com a utilização profissional e sistemática das diversas oportunidades e experiências que a Música oferece.

O musicoterapeuta conhece profundamente a estrutura do material com que trabalha, adequando-o às características e necessidades patológicos dos pacientes a quem é dirigido o seu trabalho.

Patrícia Fernandes

Sons e Silêncios. Musicoterapia no tratamento de indivíduos com perturbações do espectro do autismo, de Patrícia Raquel Silva Fernandes. II Ciclo em Ciências da Educação, Educação Especial. Braga, Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga – Faculdade de Ciências Sociais, 2012.

Leia AQUI toda a dissertação.

Criança com espectro do autismo

Criança com espectro do autismo

Escola Inclusiva

Isabel Ferreira

O movimento de integração é anterior ao conceito de Necessidades Educativas Especiais (NEE), mas este conceito vem reforçar o integracionista. A integração do aluno na sala de aula do ensino regular é a concretização da necessidade da mudança de atitude face ao ensino tradicional.

O processo de acolhimento das crianças com deficiência nas escolas regulares foi moroso e passivo de muitas alterações. O conceito de Escola Inclusiva vem assim reforçar o direito de todos os alunos frequentarem o mesmo tipo de ensino na medida em que preconiza que “os objetivos educacionais e o plano de estudos são o mesmo para todos, independentemente das diferenças individuais da natureza física, psicológica, cognitiva ou social que possam surgir “ (N.R.1).

O princípio fundamental das Escolas Inclusivas preconizado pela Declaração de Salamanca (1994) consiste em que todas as crianças aprendam, sempre que possível, independentemente das diferenças e das dificuldades que apresentam. Nesta perspetiva, a Escola Inclusiva é aquela que educa todos os alunos dentro de um único sistema educativo, proporcionando programas educativos estimulantes que sejam adequados às capacidades e necessidades de cada um.

Este princípio está geralmente associado às crianças com deficiências mas, pode ser estendido a crianças de diferentes culturas, crianças em risco ou outro tipo de necessidades educativas. O primeiro passo para operacionalizar o princípio da Inclusão é assegurar que as crianças frequentem as escolas que frequentariam se não tivessem NEE. O segundo passo é inclui-las pedagógica e socialmente nos grupos de criança sem NEE com os apoios necessários para participar globalmente na rotina da sala de aula de acordo com as metas e objetivos dos programas e planos educativos.

A colocação das crianças com Necessidades Educativas Especiais, mesmo com deficiências severas, tem de ser o caminho a seguir em termos educacionais, mas temos de considerar que “o princípio da inclusão apela, assim, para uma Escola que tenha em atenção a criança-todo, não só a criança-aluno, e que, por conseguinte, respeite três níveis de desenvolvimento essenciais – académico, sócio-emocional e pessoal – por forma a proporcionar-lhe uma educação apropriada, orientada para a maximização do seu potencial (L. Correia, 1997).”

Uma das maiores dificuldades que decorre da operacionalização destes princípios no contexto de cada escola, diz respeito à concretização de uma Educação diferenciada, à planificação e gestão dos recursos humanos e técnicos disponíveis para lhe dar coerência e viabilidade, sendo estas dificuldades sentidas pelos intervenientes no processo inclusivo e curiosamente emanadas pelo próprio Ministério da Educação (N.R.2). “O princípio da inclusão não deve ser tido como um conjunto inflexível, mas deve permitir que um conjunto de opções seja considerado sempre que a situação exija”.

Uma Escola Inclusiva é uma escola onde toda a criança é respeitada e encorajada a aprender até ao limite das suas capacidades. Os ambientes inclusivos tornam o trabalho mais estimulante, uma vez que há uma experimentação de várias metodologias e consciencialização das suas práticas, e ajuda a quebrar o isolamento em que os professores trabalham favorecendo o desenvolvimento de amizades, entre todo o tipo de crianças, proporcionando aprendizagens similares e interações. A preocupação do desenvolvimento integral da criança dentro de um espírito de pertença, de participação em todos os aspetos da vida escolar, mas sem nunca esquecer as suas limitações, e ainda os alunos sem NEE poderão compreender que todos somos diferentes e que essas diferenças têm que ser respeitadas e aceites.

Neste âmbito, para além das vantagens que poderá trazer, para que as escolas se tornem verdadeiras comunidades inclusivas, é necessário que estas se apoiem em princípios de justiça, igualdade, dignidade e de respeito mútuo, que permita a promoção de práticas inclusivas para que os alunos possam beneficiar de experiências enriquecedoras, aprender com os outros e adquirir um conjunto de aprendizagens e valores que conduzam à aceitação da diversidade.

Em suma, a Educação Inclusiva constitui uma oportunidade para que todos possam conviver e beneficiar da riqueza que a diferença nos traz. É necessário perceber que a escola pretende inserir todos os alunos no seu seio independentemente das suas características e necessidades, para isso é imprescindível entender o conceito de Inclusão.

Isabel Ferreira

 

A Inclusão é mais do que um juízo de valor, é uma forma de melhorar a qualidade de vida, onde a Educação pode desempenhar um papel fundamental ao oferecer as mesmas oportunidades e idêntica qualidade de meios a todo aquele que chega de novo. Trata-se de dar opções, de dar lugar, de oferecer recursos e de melhorar a oferta educativa em função das necessidades de cada indivíduo, sem permitir a exclusão e oferecer como segunda oportunidade a integração escolar. «O movimento inclusivo exige uma grande reestruturação da escola e da classe regular de forma a provocar mudanças substantivas nos ambientes educacionais de todos os alunos (…).» (L. Correia, 2003)

Muitas vezes, poderá parecer simples receber uma criança com Necessidades Educativas Especiais na classe regular, mas o mais comum é a receção não ser a mais adequada, provocando neste aluno sentimentos de inadequação principalmente quando se trata de crianças de 1º ou 2º ciclo. No entanto, cabe ao professor o papel de promover uma adaptação com o menor sofrimento possível evitando situações de mal-estar, realizando atividades em conjunto que permitam que todos os alunos aprendam um pouco sobre cada um, se sintam bem-vindos e inseridos na turma.

O professor deverá sensibilizar os alunos sobre as várias diferenças que existem entre as crianças, incluindo os que apresentam NEE. Assim contribuirá para uma escola melhor, no sentido em que promoverá o desenvolvimento de atitudes mais positivas perante as NEE, evocando princípios morais e éticos que criem uma maior sensibilidade perante as necessidades dos outros. O objetivo das Escolas Inclusivas deverá consistir na criação de um sistema educativo que possa fazer frente às necessidades dos alunos.

O conceito de Escola Inclusiva preconiza uma Educação para todos e implica a responsabilização do meio envolvente e vai circundar um maior número de intervenientes no processo educativo para dar uma resposta adequada a cada aluno. Implica, ainda, a redefinição de papéis e funções dos agentes educativos, especificamente do professor. A atuação deste deverá ser reestruturada em função da heterogeneidade do seu grupo classe, no que concerne aos saberes já adquiridos pelos alunos, às suas vivências, necessidades e interesses, numa perspetiva de pedagogia diferenciada em relação ao mesmo grupo e ao mesmo espaço.

O conceito de escola para todos vem alargar o âmbito da ação da escola, mobilizando e interagindo com os recursos livres e a disponibilizar, exigindo uma dinâmica em que todos os professores, técnicos da comunidade escolar local e pais, se envolvam, mobilizem e responsabilizem.

Leia AQUI toda a dissertação.

A importância da Música no desenvolvimento global das crianças com Necessidades Educativas Especiais: perspetiva dos Professores do 1º Ciclo e de Educação Especial, por Isabel Maria Campos Ferreira, Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade em Domínio Cognitivo e Motor, Lisboa: Escola Superior de Educação João de Deus, 2012. Excerto com adaptações ligeiras.

Menina com síndrome de Down

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