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Cantando ao micro

Na Meloteca, as boas práticas musicais são uma fonte de inspiração. “Aprender Inglês a cantar” relata uma experiência realizada num colégio do estado de São Paulo, Brasil.

APRENDER INGLÊS A CANTAR

FESTIVAL DE MÚSICA PROMOVE ENSINO DO INGLÊS EM COLÉGIO DO BRASIL

Os alunos enfrentam o palco: sozinhos, em grupo

Por volta do ano 2000, o Colégio Nossa Senhora do Morumbi, da rede particular paulistana, (Brasil) criou uma forma original de incentivar o ensino da Língua Inglesa. Partindo do interesse dos alunos pelos exercícios do idioma com músicas, o colégio criou o Song Festival, um festival anual em que só entram canções com letras em inglês. A ideia foi de duas professoras do idioma, Vívian Rosio Figueredo e Rosa Mina Sakamoto. “O grande resultado é que nossos alunos aprendem com prazer”, disse Vívian.

O festival contou com a adesão do Colégio Mopyatã, que funciona em conjunto com o Nossa Senhora do Morumbi. Enquanto o Morumbi tem turmas de 1ª a 8ª série, o Mopyatã atende alunos de educação infantil e ensino médio. Participaram no festival os estudantes de 5ª a 8ª série e do ensino médio dos colégios.

INGLÊS DESDE O PRIMEIRO ANO DE ESCOLARIDADE

Na primeira etapa, todos os alunos das séries envolvidas escrevem pelo menos um poema em inglês, na sala de aula. “Como no Morumbi as aulas de Inglês começam na 1ª série, mesmo os de 5ª dão conta da tarefa”, diz Vívian. “Eles descobrem que podem escrever apesar de ter um vocabulário restrito e ainda melhoram sua pronúncia”, garante a professora.

O colégio contratou uma banda para compor as músicas a partir dos poemas dos alunos. Os estudantes podem concorrer na categoria de compositor e também como cantores ou instrumentistas. Nos dois últimos casos, eles podem participar do festival com qualquer música, não é necessário utilizar o poema. No festival do ano passado, quarenta concorrentes participaram, doze deles como compositores e 28 como intérpretes. Pais de alunos, professores e funcionários da escola também concorrem, mas numa categoria especial. Os prémios, o equipamento de som e a divulgação do festival são pagos com patrocínios.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Um exercício de redacção que se transforma em aula de música

1. Criação do poema

O festival é realizado em etapas, ao longo do ano. A primeira fase dele é feita no mês de Abril. Durante duas ou três aulas, os alunos, sozinhos ou em pares, escrevem o poema. Nessa tarefa, usam o vocabulário que estão a utilizar na aula, trabalham com rima e lidam com questões gramaticais, com ajuda do professor. “Damos ideias para o tema e tiramos dúvidas sobre tempos verbais, adjectivos, preposições e outras dificuldades de gramática”, conta Vívian. “Muitos escrevem mais de um poema para ter mais hipóteses de classificação”, diz Rosa.

2. Correcção e seleção inicial

Todos os poemas são avaliados pelas professoras Rosa e Vívian. Elas corrigem os erros de gramática e ortografia, e ainda fazem comentários sobre a coerência, a organização e a originalidade dos textos. Apenas os trabalhos escolhidos por elas passam para a segunda fase de selecção do festival. “Escolhemos os que têm mais coerência, profundidade e que não apresentem problemas graves de gramática e ortografia”, descreve Vívian.

3. Inscrição

Em Junho, os alunos recebem fichas de inscrição para o Festival e escolhem se vão participar como intérpretes, compositores ou em ambas as categorias. Quem concorre como intérprete diz na ficha que música vai cantar e pode inscrever uma banda completa, na qual pode haver pessoas de fora do colégio. Essa categoria é a mais procurada. “Os alunos acham que, se cantarem uma música baseada nos poemas deles mesmos, não farão sucesso porque a canção não é conhecida”, diz Rosa.

4. Segunda selecção

Durante as férias de Julho, o músico Marcelo Zurawski, contratado pelo Colégio, recebe de Rosa e Vívian a selecção inicial de poemas e escolhe entre eles os que possam ser adaptados a uma música. Apenas esses escolhidos concorrem na categoria compositor.

Em Agosto, no regresso às aulas, Marcelo, a sua banda e os alunos que escreveram os trabalhos aprovados nas duas selecções compõem juntos as músicas, a partir dos poemas. Com os que concorrem como intérpretes, o primeiro passo é conseguir a letra completa da música escolhida. Os professores treinam a pronúncia de todos os participantes.

Versos adolescentes

Trecho do poema Jail of Soul (Prisão da Alma), da aluna de 7ª série Mariana Vieira.

Everybody says what I have to do
I don’t know why
Maybe’cause they think that I’m a fool

My words won’t fly (…)

Telling lies about me
Just because I’m free
I choose my way
But they don’t let me go (…)

Todo mundo diz o que eu tenho que fazer
Não sei porquê
Talvez seja porque eles pensam que sou um tolo

Minhas palavras não vão voar (…)
Dizendo mentiras sobre mim
Apenas porque sou livre
Eu escolho meu caminho
Mas eles não me deixam ir (…)

Observe que a estudante utilizou várias aplicações da gramática inglesa, como os verbos “to do” e “to be”, vários tipos de pronomes e de tempos verbais e até uma expressão com abreviatura: maybe’cause, cuja forma extensa seria maybe it is because.

Adriana Vera e Silva (1998, adaptado pela Meloteca)

Cantando ao micro

Cantando ao micro

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El Sistema e Dudamel

El Sistema

Vânia Moreira

O início do El Sistema remonta a 1975, surgindo com o intuito de promover a inclusão e desenvolvimento dos jovens socialmente desfavorecidos.

José António Abreu assumiu a liderança deste projeto social que reconhecia na música a sua principal ferramenta de intervenção, sendo reconhecida a sua perseverança, determinação e paixão pelo projeto, como fatores determinantes para o sucesso em que o El Sistema consiste atualmente.

O projeto começou de forma humilde, numa garagem, com apenas 11 alunos. Ao longo dos dias iam aparecendo sempre novos jovens, sendo que no quarto dia José António Abreu tinha já perante si 75 alunos. Foi neste contexto que surgiu a Orquestra Sinfónica Nacional Juvenil da Venezuela. Atualmente, são mais de 350 mil as crianças e jovens que integram o El Sistema, divididas por 180 núcleos (escolas de música) que se estendem por todo o país. Sendo a Venezuela um país com um elevadíssimo índice de criminalidade – em 2012, a taxa de homicídio era três vezes superior à do Iraque e quatro vezes superior à do México – José António Abreu lutou pela sua crença de que a música deveria exercer a sua função na sociedade, e que, proporcionando aos jovens e crianças mais desfavorecidos o acesso a uma formação musical livre e intensa, poderia influenciar positivamente as suas vidas e, consequentemente, os problemas sociais que elas vivenciam.

Assim, dos mais de 350 mil alunos que atualmente integram o projeto, mais de 80% são provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos. Tendo em conta as frágeis condições financeiras das famílias dessas crianças, todos os encargos (instrumentos, aulas, visitas, partituras e até mesmo apoio social, caso esse seja necessário) são providenciados pelo projeto, sendo que a única condição estipulada é que a criança deseje e concorde em integrar um dos núcleos do projeto.

Geralmente, as crianças integram os núcleos em idade pré-escolar, podendo iniciar a partir dos dois anos de idade. Aí começam por trabalhar a linguagem corporal, o canto e o sentido rítmico, passando a aprender um instrumento assim que o consigam segurar. Nesta fase, a dimensão do coletivo é desenvolvida sobretudo através das aulas de coro. A partir dos 7 anos, a criança escolhe o seu instrumento (caso ainda não o tenha feito previamente) e integra a orquestra. Nos anos que se seguem, os alunos vão fazendo a transição entre as sucessivas orquestras, integrando a orquestra pré-infantil entre os 7 e os 8 anos, a orquestra infantil entre os 10 e os 12 anos, e a orquestra juvenil dos 13 aos 16 anos de idade. A formação é contínua e intensa, com um total de quatro horas de aulas por dia, e seis dias por semana.

Apesar de as aulas individuais de instrumento serem uma parte importante do processo de aprendizagem, o foco do ensino centra-se nas aulas de grupo – naipe e orquestra. É nessas aulas que se vai desenvolver no aluno a perceção humana do seu papel na sociedade, a sensação de pertença a um grupo, e valores como a solidariedade, a entreajuda, a perseverança, e o compromisso para com os outros e para com a sociedade. No El Sistema o grupo assume a primazia, mas com a consciência da importância de cada elemento. Nesse sentido, procura-se estabelecer sempre uma relação próxima e presente com cada aluno e também com a sua família.

Quando um aluno integra o El Sistema, os professores dirigem-se a casa dos pais para explicar o modo de funcionamento do projeto e como devem ajudá-lo e orientar o seu estudo. O mesmo acontece se a criança faltar às aulas no núcleo duas vezes sem aviso prévio. O acompanhamento à família prossegue também quando um aluno integra uma orquestra juvenil ou uma orquestra da cidade, sendo-lhes oferecida uma bolsa que recompensa o esforço e trabalho do aluno, mas que também ajuda a família financeiramente para que permitam que o aluno possa continuar a estudar em vez de trabalhar.

A nível pedagógico, o El Sistema valoriza bastante a criatividade dos professores. Esforçando-se por adaptar a metodologia europeia à sua cultura e à realidade do projeto, os professores conseguiram estabelecer uma ponte sólida onde a disciplina, o trabalho de equipa e o empenhamento caminham lado a lado com um suporte de segurança e apoio a cada aluno. Atualmente, dos cerca de seis mil professores que integram o projeto, a grande maioria são ex-alunos do mesmo, pelo que têm em si perfeitamente incutidas as linhas orientadoras do projeto, tanto a nível social como musical.

A avaliação quantitativa (tão intrincada na metodologia europeia) é aqui substituída por audições e concertos públicos. Mesmo os alunos mais novos têm atuações públicas regulares para que, desde o início, aprendam a lidar com a pressão e a geri-la, e para que esses momentos de execução instrumental passem a ser uma parte natural da sua vida. O repertório abordado abrange não só obras de compositores consagrados da música erudita, mas também de compositores da América Latina e música tradicional venezuelana, no sentido de facilitar a aproximação e integração do projeto nas comunidades em que se insere.

Dependendo do nível técnico de cada orquestra, determinado repertório pode consistir em arranjos das obras para as orquestras mais jovens, sendo introduzidos os originais da respetiva obra somente nas orquestras mais avançadas. No caso de quererem prosseguir os estudos musicais, os alunos podem dar-lhes continuidade no Conservatório de Música Simón Bolívar, em Caracas, e no Instituto Universitário de Estudos Musicais, tendo a possibilidade de completar os ciclos de Mestrado e de Doutoramento nesta instituição graças à parceria existente com a Universidad Simón Bolívar da Venezuela.

Com o nível de excelência que os alunos atingem ao longo da sua formação no El Sistema, têm também a oportunidade de concorrer a qualquer universidade dentro ou fora da Venezuela. Quando José António Abreu iniciou a implementação do que viria a ser o El Sistema, só existiam duas orquestras sinfónicas na Venezuela, constituídas maioritariamente por instrumentistas europeus. À Orquestra Sinfónica Nacional Juvenil da Venezuela, que nasceria aquando da criação do El Sistema, suceder-se-ia aquela que viria a constituir um dos mais importantes e mais bem sucedidos empreendimentos deste projeto, a Orquestra Sinfónica Simón Bolívar – cuja estreia decorreu brilhantemente, em 1977, num concurso internacional na Escócia.

Consciente da importância e das proporções que o projeto delineado por António José Abreu estava a atingir, o Governo Venezuelano, em 1979, constituí a Fundación del Estado para El Sistema Nacional de las Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela (FESNOJIV), com o intuito de proteger este projeto e permitir-lhe as condições necessárias para desenvolver uma estrutura operativa e administrativa sólida. O projeto pôde assim crescer de tal forma que, atualmente, são já 30 as orquestras sinfónicas profissionais que existem por toda a Venezuela, partilhando o panorama cultural com as mais de 200 orquestras juvenis e infantis que se encontram em constante crescimento.

A internacionalmente reconhecida Orquestra Sinfónica Simón Bolívar constitui o expoente máximo de qualidade resultante do El Sistema – atuando frequentemente nas salas de concerto mais importantes dos continentes europeu, asiático e americano; partilhando o palco com solistas, maestros e grupos consagrados no panorama musical mundial; e contando já com um considerável registo discográfico patenteado por editoras como a Dorian ou a Deutsche Grammophone.

Contudo, com a expansão do projeto, têm-se vindo a destacar novas orquestras como é o caso da Orquestra Juvenil Teresa Carreño e da Orquestra Sinfónica Juvenil de Caracas. Para além de toda a dimensão que as orquestras e os coros assumem no projeto de José António Abreu, há ainda mais dois programas de formação que decorrem em paralelo mas com uma exposição menor: o Centro Nacional Audiovisual de Música Inocente Carreño e o Centro Académico de Luheria. O primeiro é responsável por formação na área de produção e edição musical – é neste centro que decorre todo o processo de gravação e produção, assim como de programação e de difusão, em formato de áudio e de vídeo, de todos os concertos realizados pelas orquestras do projeto. Ao segundo, cabe sobretudo a responsabilidade da formação de alunos na construção, reparação e manutenção dos instrumentos musicais.

No sentido de tornar o programa mais abrangente e acessível a crianças e jovens com necessidades educativas especiais (resultantes de problemáticas como défice de atenção, autismo, problemas auditivos, cognitivos ou visuais), foi criado, em 1995, um Programa de Educação Especial que possa integrar esses alunos. Pelo exposto, facilmente se pode constatar que o sucesso do El Sistema se tem comprovado pelos seus próprios resultados.

Com o crescimento do projeto, que se estende agora por toda a Venezuela, são cada vez mais os músicos de altíssima qualidade que surgem como produto do El Sistema e que desenvolvem uma carreira artística pelos principais centros musicais mundiais – como é o caso do maestro mundialmente reconhecido Gustavo Dudamel, ou do contrabaixista Edicson Ruiz que ingressou na Orquestra Filarmónica de Berlim com apenas 17 anos de idade. São muitos os músicos profissionais formados pelo El Sistema. Mas, para além de músicos extraordinários, este projeto foi também o ponto de partida que permitiu a estabilidade e confiança necessárias para muitos outros jovens que o frequentaram poderem definir objetivos e carreiras profissionais. Já com cerca de dois milhões de alunos formados no projeto desde a sua criação, encontram-se entre eles excelentes músicos, mas também advogados, médicos, professores, entre outros.

O reconhecimento tem surgido a nível mundial, quer por entidades como a UNICEF e a UNESCO, quer por figuras públicas das mais diversas áreas, sendo o El Sistema atualmente apontado por diversas fontes como o mais importante acontecimento na música do século XXI. O trabalho que José António Abreu desenvolveu com o Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela tem merecido várias distinções, de entre as quais se pode destacar, por exemplo, o Prémio Nacional de Música, em 1979; a sua nomeação pela UNESCO, em 1995, para representante especial para o desenvolvimento de um sistema mundial de Orquestras Infantis e Juvenis; a sua premiação, em 2009, com o Prémio TED e com o Prémio Polar Music, e, em 2013, com o Prémio Nacional América, em Nova Iorque; a estes somam-se ainda o Prémio Yehudi Menuhin; o Prémio Don Juan de Borbón; o Prémio Especial de Cultura do Japão; o Prémio de Cultura Interamericano Gabriela Mistral; o Prémio Príncipe de Astúrias das Artes, em Espanha; e o Prémio da Paz de Seul, na Coreia.

Destacam-se ainda vários doutoramentos concedidos por universidades venezuelanas e internacionais e, mais recentemente, a sua nomeação pela respeitosa revista norteamericana Fortune como um dos 50 líderes mais influentes do mundo – sendo já várias as entidades que referem José António Abreu como um digno nomeado para o Prémio Nobel da Paz.

Com o reconhecimento mundial que o El Sistema tem recebido, a sua difusão é cada vez maior, tendo sido já implementados programas que se inspiraram no projeto de José António Abreu em cerca de 55 países espalhados por diversos continentes. Apesar da dimensão e consolidação que o projeto já assumiu na Venezuela, este não é o ponto de chegada deste projeto, mas sim o percurso. Novos objetivos são constantemente definidos pela equipa que coordena o El Sistema e um deles é que, em 2019, o projeto integre um milhão de crianças.

A aprendizagem de um instrumento musical em contexto individual e em contexto de grupo, por Vânia Filipa Tavares Moreira – Mestrado em Ensino de Música – Instrumento e Música de conjunto – Orientadora Doutora Maria Luísa Faria de Sousa Cerqueira Correia Castilho, Coorientadora Especialista Catherine Strynckx. Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior de Artes Aplicadas, janeiro de 2015

El Sistema e Dudamel

El Sistema e Dudamel

Reciclanda, música e poesia para um mundo melhor

Reciclanda, música e poesia para um mundo melhor

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração) e dinamiza atividades em colónias de férias com crianças. Apresenta-se nas áreas da educação e da sustentabilidade em festivais.

Saiba mais na Reciclanda e contacte-nos:

António José Ferreira:
962 942 759

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Orquestra Geração no São Luiz em 2016

A Orquestra Geração

Vânia Moreira

(…) Em Portugal, deu-se continuidade aos ideais e fundamentos do El Sistema através da implementação do projeto Orquestra Geração. Visando incidir sobre as problemáticas sociais vivenciadas pelas crianças pertencentes a bairros socialmente desfavorecidos, o projeto recorre à prática intensiva de orquestra para atingir os objetivos a que se propõe:

  • Promover a inclusão social das crianças e jovens de bairros social e economicamente mais desfavorecidos e problemáticos;
  • Combater o abandono e o insucesso escolar;
  • Promover o trabalho de grupo, a disciplina e a responsabilidade para uma melhor cidadania;
  • Promover a autoestima das crianças e das suas famílias;
  • Aproximar os pais do processo educativo dos filhos;
  • Contribuir para a construção de projetos de vida dos mais novos;
  • Promover o acesso a uma formação musical que seria impossível para a maioria das crianças e jovens que vivem em contextos de exclusão social e urbana.

Este projeto teve início no Casal da Boba, no Concelho da Amadora. O referido bairro, construído em 2000/2001 para receber os moradores de três bairros degradados, encerrou em si diversas problemáticas sociais e económicas que favorecem a tendência para a exclusão social. Com o intuito de promover o desenvolvimento social e humano dos jovens deste bairro, foi implementado, em 2005, o Projeto Geração/Oportunidade que visava intervir ao nível da formação, educação, saúde, emprego, justiça e ocupação dos tempos livres destes cidadãos. Dois anos mais tarde, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação EDP, a Câmara Municipal da Amadora e o Conservatório Nacional unem esforços no sentido de integrar no Projeto Geração/Oportunidade uma orquestra, iniciando-se assim a implementação em Portugal dos fundamentos do Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela.

Foi no ano letivo de 2007/2008, na Escola EB 2,3 Miguel Torga, que a Orquestra Geração teve o seu início, com 15 alunos distribuídos por instrumentos pertencentes à família das cordas. Os instrumentos de sopro seriam introduzidos no ano seguinte, e a percussão surgiria no terceiro ano do projeto nessa escola. Ainda no ano letivo de 2007/2008, o projeto Orquestra Geração seria implementado também no agrupamento de escolas da Vialonga e, em novembro de 2008, numa outra escola da Amadora, no bairro da Mira.

Ao longo dos anos letivos que se sucederam, o projeto alargou-se a escolas situadas em Camarate, Sacavém, Apelação, Zambujal, Damaia, Carnaxide, Algueirão, Ajuda, Boavista e Sesimbra. Cada escola criou a sua própria orquestra (multiplicando-se o número de orquestras por escola em níveis diferenciados ao longo dos anos), constituindo vários núcleos da Orquestra Geração. À exceção do polo de Vialonga, que funciona em regime integrado, as aulas do Projeto Orquestra Geração são lecionadas nas escolas como atividades extracurriculares. No ano letivo 2010/2011, o projeto foi implementado em Mirandela e Amarante, e, no ano letivo seguinte, em Murça e em Coimbra.

Em abril de 2012, o projeto Orquestra Geração englobava já 879 alunos, distribuídos por 16 núcleos. À semelhança do que acontece no El Sistema, o ensino proporcionado pela Orquestra Geração é inteiramente gratuito para os alunos, pelo que o apoio dos parceiros financeiros que se associaram ao projeto revela-se essencial para que este possa ter continuidade. Entre eles conta-se a Escola de Música do Conservatório Nacional (responsável pelo serviço pedagógico e administrativo), a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação EDP, a Fundação PT, o Ministério da Educação (que, desde o ano letivo 2008/2009, assegura a contratação dos professores do projeto da zona metropolitana de Lisboa e de Coimbra), as Câmaras dos municípios em que as escolas se inserem, a TAP, o Barclays Bank, o BNP Paribas, a Embaixada da Venezuela e a Atral Cipan.

Desenhado à semelhança do projeto El Sistema, a aprendizagem instrumental no projeto Orquestra Geração inicia-se pela imitação, tendo contacto com o instrumento desde o início do seu percurso. A concetualização formal decorrerá a posteriori. Apesar de a carga horária semanal ser bastante inferior à praticada pelo El Sistema, o coletivo é privilegiado também na Orquestra Geração; assim, as 8 horas semanais são distribuídas de forma a contemplar 3 horas de orquestra (em duas sessões de 1h30), 2 horas de naipe (em duas sessões de 1 hora), 1 hora de aula de instrumento (partilhada por dois alunos), 1 hora de formação musical e coro, e 1 hora de expressão dramática.

O processo de integração social passa também, obviamente, por envolver a comunidade com a orquestra. Para tal, torna-se necessário adaptar o método e o material de ensino à realidade cultural em que se insere. Nesse sentido, apesar de na Orquestra Geração se utilizar os manuais do El Sistema, é imprescindível incluir no repertório música tradicional portuguesa, música dos PALOP, música referente à etnia cigana, assim como jazz ou pop.

corpo docente da Orquestra Geração é composto essencialmente por jovens adultos, maioritariamente de nacionalidade portuguesa, e com formação musical na metodologia europeia convencional. Desta forma, torna-se imperativo que os professores tenham uma formação contínua com as diretrizes do El Sistema para que o possam implementar adequadamente. Assim, a direção pedagógica e artística da Orquestra Geração desenvolve com regularidade ações de formação dirigidas aos professores do projeto, cuja realização é levada a cabo por formadores venezuelanos do El Sistema que se deslocam a Portugal, no sentido de prestar formação, monitorizar e avaliar a aplicação do programa no nosso país.

Tal como no El Sistema, na Orquestra Geração não há uma avaliação quantitativa, privilegiando-se as apresentações públicas regulares como momentos de aplicação de todo o conhecimento que vão adquirindo ao longo do processo educativo.

Os concertos, além de constituírem um forte fator motivacional para o aluno, funcionam também como um forte elo de ligação e inserção do projeto na comunidade, e de aproximação entre a comunidade e a cultura, a escola e o processo educativo dos seus educandos.

Vânia Moreira

Ao longo do ano letivo, cada escola realiza vários concertos, quer sozinha, quer inserida num grupo de dois ou mais núcleos. Nas interrupções letivas decorrem frequentemente estágios mais intensivos em que se juntam as orquestras de todos os núcleos de cada nível, culminando no estágio do final do ano letivo, que é sempre o mais intenso – quer pela duração (geralmente de 5 dias consecutivos), quer pelo concerto final, que decorre sempre em salas emblemáticas da cidade de Lisboa. (…)

A aprendizagem de um instrumento musical em contexto individual e em contexto de grupo, por Vânia Filipa Tavares Moreira – Mestrado em Ensino de Música – Instrumento e Música de conjunto – Orientadora Doutora Maria Luísa Faria de Sousa Cerqueira Correia Castilho, Coorientadora Especialista Catherine Strynckx. Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior de Artes Aplicadas, janeiro de 2015. Excerto.

Orquestra Geração no São Luiz em 2016

Orquestra Geração no São Luiz em 2016

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Menina flautista, Orquestra Geração de Sacavém, créditos Inês Leote

Música para todos é uma iniciativa lançada em 2010 pelo Município do Porto, através da Fundação Porto Social, em parceria com o Curso de Música Silva Monteiro e o Agrupamentos de Escolas do Cerco do Porto e do Viso. O principal objetivo do projeto é a promoção do ensino articulado da música a alunos dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico, de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) da cidade do Porto, de forma a combater o insucesso e o abandono escolar.

Novos Horizontes – A OCP Solidária no Bairro dos Navegadores é um projeto da Orquestra de Câmara Portuguesa no âmbito dos Contratos Locais de Segurança de Oeiras. O projeto engloba um conjunto de workshops que decorrem nas escolas do Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro, bem como no centro de convívio do Bairro dos Navegadores. O projeto integra ainda uma Oficina de Instrumentos Musicais, para construção de instrumentos por parte dos alunos. Visa promover o acesso à música e à arte, enquanto ferramentas para o estabelecimento de laços com a comunidade artística, com objetivos de intervenção em contextos de risco, e de inclusão social dos seus participantes. Os formadores são artistas/músicos profissionais e pedagogos com uma experiência única, cuja estratégia passa pelo estabelecimento de relações de proximidade com a população alvo com base em metodologias criativas e de responsabilização do sujeito. O projeto pretende potencializar as capacidades de cada participante, promovendo o acesso à cultura e a integração na sociedade, desenvolvendo a autonomia e a igualdade de oportunidades, criando laços culturais.

A Orquestra Geração é um projeto de intervenção social através da prática orquestral. Foi criada em 2007 na Escola Básica Miguel Torga no Casal de S. Brás na Amadora e encontra-se actualmente instalada em 22 escolas básicas e secundárias nos municípios de Almada, Amadora, Lisboa, Loures, Oeiras, Sesimbra, Vila Franca de Xira (Orquestra de Vialonga) e em Coimbra. O projeto aplica a metodologia do El Sistema criado na Venezuela pelo Dr. José António Abreu (prémio Príncipe das Astúrias e Erasmus). Abrange alunos da pré-primária (Orquestra de Afectos) até ao 12º ano (Orquestra Juvenil Geração). Durante a sua existência tem sido várias vezes galardoado com as seguintes distinções: Prémio Nacional de Professores (inovação) em 2010, em 2013 e 14 foi considerada uma das 50 melhores práticas de intervenção social de toda a União Europeia; em 2017 foi menção honrosa da Fundação Mota Engil e já em 2018 foi considerado o projeto do ano pela AGEAS e recebeu da Assembleia da República a medalha de ouro comemorativa dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Da Humanidade. A Orquestra Geração é membro do Sistema Europe, de cuja direção faz parte.

Menina flautista, Orquestra Geração de Sacavém, créditos Inês Leote

Menina flautista, Orquestra Geração de Sacavém, créditos Inês Leote

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