Tag Archive for: música na primeira infância

Instrumentos musicais para bebés

Helen Christianson, em “The Child’s Treasury”. Tradução de Dinah Bezerra de Menezes, Coleção “O Mundo da Criança”, Editora Delta, Rio de Janeiro, adaptada para o Português de Portugal por António José Ferreira

[ “Feliz a criança a quem a família proporciona experiências musicais desde os primeiros dias de vida.” ]

Podemos dizer que é afortunada a criança a quem a mãe, desde os seus primeiros dias de vida, proporciona experiências musicais. Essas primeiras experiências contribuem para que, mais tarde, ela goste de música. Como qualquer outra arte, a música é cheia de significado, quando é primeiro “aprendida” e não “ensinada”. O divertimento vem primeiro; a técnica vem depois. O amor pela música pode ser desenvolvido desde os primeiros dias estendendo-se por toda a infância.

O que é arte? Como e a quem traz vantagens? Podemos dizer que a arte é simplesmente um meio de criar, de fazer coisas que concorrem para tornar a nossa vida diária mais agradável, mais satisfatória. Toda a pessoa, ainda que variando a maneira e a intensidade, é, ao mesmo tempo, um artista e um apreciador de arte. Como artista, é o executor que combina a perícia com sensibilidade às qualidades das coisas. Tanto a execução como o resultado trazem-lhe satisfação. Se alguém admira o seu trabalho, ele está pronto a dizer: “Passei momentos maravilhosos a fazer isto”. Como apreciador de arte, está continuamente a reflectir a sua sensibilidade nas obras que selecciona e adquire para o seu próprio uso e satisfação. Seja ele artista ou apreciador, o motivo que o impele é o mesmo: buscar experiências que sejam interessantes, variadas, expressivas e satisfatórias. Assim, a arte não está ligada a alguma coisa remota, a algo que tenha de ser visto ou ouvido em passeios ocasionais a museus ou salões de concerto. A arte é um modo de vida que contribui para o divertimento e satisfação no lar, na vizinhança, na escola e na comunidade.

A música é uma arte séria que deve ser ensinada às crianças, ou uma série de deliciosas experiências a serem compartilhadas com elas? Quantos adultos já não terão acompanhado o desenvolvimento dos seus filhos e crescido também com eles através do prazer proporcionado pela música?

O tradicional método das lições formais para iniciar o ensino da música vem sendo usado logo que a criança, conseguindo alcançar o banco do piano, encontra prazer primeiro nos sons que ela mesma tira e, mais tarde, nos acompanhamentos rítmicos para as suas canções. Uma criança tocou no piano, com um dedo de cada mão, e conseguiu uma agradável combinação; chamou a mãe e disse-lhe: “Não é bonito?” Este entusiasmo, em vez de ser participado pela família, foi interpretado como significativo gosto para as lições. Assim a criança foi levada a um professor de piano para a sistemática introdução dos primeiros conhecimentos musicais. O que ela realmente desejava era ter oportunidade de, tocando e ouvindo, criar novas combinações sonoras agradáveis. Viu-se, no entanto, obrigada a estudar e praticar para fins tão remotos, que perdeu o interesse e a Música tornou-se uma obrigação em vez de um prazer.

Há, naturalmente, uma ocasião em que os ensinamentos de um técnico serão muito importantes no desenvolvimento artístico da criança. Agora, como pequena artista que é, está mais interessada em tocar livremente do que em ficar sob os cuidados de um mestre. É tal qual a criança que, quando interrogada sobre o novo livro que recebeu, retrucou solenemente: “Ele fala muito mais sobre os pinguins do que eu desejaria saber”. Talvez nesses primeiros anos de vida da criança seja o adulto que necessite recuperar sua perícia nos instrumentos a que se dedicou há anos atrás. Os seus esforços de amador serão bem recompensados pela satisfação de proporcionar maiores oportunidades à família de se divertir com a música. Para o pai que já é um verdadeiro músico, há a oportunidade bastante agradável de descobrir quais as músicas que serão apreciadas não só pelos adultos como também pelas crianças.

Os investigadores da música e os especialistas no desenvolvimento da criança chegaram à conclusão de que o divertimento pela música é mais importante do que a imposição de técnicas na primeira infância. As lições propriamente da música devem ser proporcionadas à criança dos oito anos de idade em diante, dependendo de que ela deseje, realmente, aprender, tenha boa saúde, coordenação motora, seja ajustada social e emocionalmente, e outras condições.

Instrumentos musicais para bebés

Instrumentos musicais para bebés

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Bianca Ferreira

Cantar, dançar e movimentar-se ao som da música são atividades perfeitas para favorecer o despertar musical de uma criança. Não há necessidade de ser um músico e de cantar muito bem para fazer jogos musicais com o bebé. O importante sentir prazer. É preferível propor-lhe curtas atividades para manter o seu interesse.

Eis algumas sugestões de atividades a fazer para jogar com a música.

Cante para o bebé no dia-a-dia. Aproveite os momentos de cuidados ou rotinas, como a mudança de fraldas, o banho, o arrumar dos brinquedos e a rotina do adormecer. Não hesite em cantar-lhe canções da sua infância. Recite também lengalengas pois desenvolvem o ritmo e divertem as crianças.

Divirta-se a transformar em conjunto canções e lengalengas. Por exemplo, cante com uma voz de “rato” ou de “gigante”, tocando nas suas mãos, mimando ou alterando as palavras. Estas variações permitem à criança familiarizar-se com elementos musicais como a duração, a intensidade e os diversos timbres de voz.

Convide a criança a prestar atenção aos sons quando ouve uma música. Por exemplo, faça-a ouvir um excerto de música colocando-lhe questões: “Que estás a ouvir?”, “Em que te faz pensar esta música?”. “O Carnaval dos Animais” de Camille Saint-Saëns, com excertos como “A Marcha Real do Leão” ou “Cangurus”, é uma obra interessante para este tipo de jogo. Faça-lhe ouvir várias vezes o mesmo excerto pois a repetição desenvolve a memória auditiva.

Deixe a criança divertir-se com instrumentos feitos em casa. Por exemplo, garrafas vazias bem fechadas, com arroz seco ou pedrinhas podem fazer maracas e um recipiente de gelado vazio e duas colheres de madeira pode funcionar como tambor. Ela aprende assim a fazer sons e a criar um ritmo.

Privilegie instrumentos musicais “verdadeiros” (carrilhão, xilofone, tamborim, maracas, triângulo) em vez das imitações de instrumentos em brinquedo (piano ou guitarra de brincar), pois o som que produzem é de melhor qualidade. Por motivos de higiene, instrumentos que vão à boca, como a harmónica ou a flauta, devem ser reservados a um só utilizador.

Crie ritmos batendo as mãos e peça à criança que os reproduza, depois inverta os papéis. Peça ao pequenino para inventar uma dança ao som da música. Pode também jogar à estátua musical: a criança deve dançar com música e fazer de estátua quando a música para.

Atenção à fadiga auditiva

Evite deixar música a tocar continuamente em casa. A música de fundo pode cansar a criança. Mesmo com volume baixo, há o risco de tornar a criança irritável e diminuir o seu desejo de ouvir e de comunicar. Não deixe a rádio ou a televisão ligada continuamente e desligue a música quando o pequenino já não lhe dá atenção. Momentos de calma permitem-lhe apreciar os sons do meio envolvente, e mesmo o silêncio.

A reter

  • A música faz muito bem à criança: diverte, acalma, além de estimular as suas aprendizagens, a sua criatividade e a sua linguagem.
  • Cantar, dançar e tocar instrumentos são formas de despertar a criança para a música.
  • Não é obrigatório ser músico ou cantar muito bem para iniciar a criança na música. O importante é divertir-se.

FONTES E REFERÊNCIAS

BOLDUC, Jonathan et Pascal LEFEBVRE. Des comptines pour apprendre. Les Éditions Passe-Temps, 2017, 45 p.

CORBEIL, Mariève et autres. «Singing Delays the Onset of Infant Distress», Infancy, vol. 21, no 3, mai-juin 2016, p. 373-391.

DÉSY PROULX, Monique. Pourquoi la musique? Son importance dans la vie des enfants. Les Éditions du CHU Sainte-Justine, 2014, 271 p.

MALENFANT, Nicole. L’éveil du bébé aux sons et à la musique. Québec, PUL, 2004, 384 p.

MALENFANT, Nicole. Vivement la musique! Avec les 3 à 6 ans. Montréal, Chenelière éducation, 2012, 232 p.

PEREZT, Isabelle. Apprendre la musique. Nouvelles des neurosciences. Éditions Odile Jacob, 2018, 155 p.

VAILLANCOURT, Guylaine. Musique, musicothérapie et développement de l’enfant. Éditions du CHU Sainte-Justine, 2005, 186 p.

Tradução do Francês, de Naître et grandir, por António José Ferreira

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Quais são as vantagens da música para uma criança?

A música permite comunicar o amor.

A música é um bom meio de criar uma ligação positiva com a criança. Quando canta e dança com ela, transmite-lhe o seu amor e afeto. O mesmo acontece quando faz música com o bebé: é uma boa forma de criar bons laços com ele.

A música melhora a capacidade de aprender das crianças

A prática de atividades musicais (cantar, tocar ritmos num tambor, ouvir diferentes músicas) estimula diferentes zonas do cérebro, o que favorece várias aprendizagens. As atividades musicais entre outras a escuta, a memória, a atenção, a organização do pensamento e a capacidade de os pequeninos controlarem certos comportamentos.

As canções e lengalengas desenvolvem a linguagem

As palavras ouvidas nas canções e lengalengas enriquecem o vocabulário do bebé. Ouvi-las e cantá-las levam-na também a fazer sons, dizer palavras e formar frases. Além disso, com as canções e lengalengas, a criança dá-se conta, pouco a pouco, que as palavras são formadas por sílabas e por sons, o que a ajudará mais tarde a ler e escrever.

A música favorece a criatividade

Quando os mais novos se movem livremente ao som de uma música ou descobrem o som de um instrumento, isso favorece a sua expressão artística. A criança desenvolve também a sua imaginação quando inventa palavras para uma canção ou gestos para a acompanhar.

A música facilita ao bebé a descoberta do seu corpo

Quando a criança faz gestos nomeados numa lengalenga, toma consciência do seu corpo. Dançar, saltar, bater palmas e pés ao som de uma música exercem também as habilidades motoras como a coordenação.

Desenvolve o sentido musical

Por os mais pequeninos em contacto com uma variedade de estilos musicais (pop, rock, blues, country, jazz, clássica, tradicional) ajuda a desenvolver o seu sentido da música e os gostos musicais.

Oferece momentos para socializar

Cantar, dançar e fazer jogos musicais com outras crianças permitem desenvolver as competências sociais dos mais pequenos, como cooperar, partilhar instrumentos, respeitar regras e esperar a sua vez.

A música permite descobrir o mundo

Quando a criança ouve músicas de culturas variadas, a criança abre os seus horizontes.

Créditos Sebastien Monachon (Éveil Musical)

Créditos Sebastien Monachon (Éveil Musical)

Ajuda a acalmar e a gerir as emoções

Cantar tal como fazer música e ouvi-la favorecem a produção de hormonas associadas ao prazer, ao bem-estar e à confiança. A música tem um efeito calmante que ajudará os mais pequenos a gerir as suas emoções. Um estudo da Universidade de Montréal mostrou que os bebés com saúde permaneciam calmos duas vezes mais tempo quando ouviam uma pessoa a cantar do que uma pessoa a falar.

Se a criança tem algum mal-estar, faz-lhe bem cantar a canção preferida dela. Ela pensará menos na dor se a sua atenção se dirigir para algo de positivo.

Benefícios para os prematuros

A música pode também ter benefícios para os bebés prematuros. Estudos revelaram que quando se canta canções de embalar a bebés prematuros ou quando se faz ouvir músicas que reproduzem o pulsar do coração, o ritmo cardíaco estabiliza. Os bebés respiram mais calmamente, adormecem mais facilmente e dormem bem.

Tradução do Francês por António José Ferreira, de Naitre et grandir: Les bienfaits de la musique, a 22 de dezembro de 2019.

Meloteca, recursos musicais criativos para a infância

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Cantar nutre o cérebro

A ciência descobriu que a música (tanto escutá-la como fazê-la) é um dos estímulos mais poderosos e complexos-completos para o desenvolvimento das crianças e jovens.”

Cantar nutre o cérebro infantil. A voz, o primeiro instrumento musical Parece que os adultos precisamos sempre de argumentos sobre a utilidade das coisas para dar valor ao que, em si mesmo, é valioso. Mas, porque estamos imersos num mundo tão rápido e que vai descartando o que desde sempre nutriu o rico mundo infantil (os jogos, os contos, as canções…), vale a pena conhecer o que diz a ciência sobre os efeitos de cantar nas crianças mais pequenas.

A ciência descobriu que a música (tanto escutá-la como fazê-la) é um dos estímulos mais poderosos e complexos-completos para o desenvolvimento das crianças e jovens (e dos adultos!). Mas, e quando as crianças são demasiado pequenas para aprender a tocar um instrumento? A resposta é simples: a voz.

Por alguma razão as canções infantis são uma parte importante da tradição cultural infantil. Se todas as culturas têm o seu próprio folclore infantil é porque responde a uma necessidade universal, agora cientificamente estudada numa investigação realizada na Universidade de Münster (Alemanha), por Thomas Blank e Karl Adamek. O estudo realizou-se em 500 jardins de infância, com a colaboração do Departamento de Saúde Pública, verificando-se que 88% das crianças que cantavam com frequência estavam preparadas para a escolarização normal, em contraste com os 44% apenas daquelas em cuja escola se cantava menos. O estudo demonstrou que cantar e jogar cantando estimula o desenvolvimento físico, mental e social das crianças numa medida que se subestimou, e que se reflete numa melhor maturação cerebral e no desenvolvimento da fala, a inteligência social e o controlo da agressão.

Cantar beneficia todas as crianças, mas de um modo muito especial os que vivem em situações de desvantagem social (violência familiar, escassez de recursos, imigração recente…). É difícil medir os incontáveis benefícios de uma atividade que põe em jogo o corpo, as emoções e a mente, mas uma possível explicação parcial dão-na os estudos neurobiológicos e fisiológicos que mostram que cantar produz hormonas de bem estar e reduz as que desencadeiam reações de agressão.

Do mesmo modo, é fácil deduzir que as canções infantis que implicam jogos, rodas, palmas etc, a determinado ritmo, pelo facto de serem de execução mais complexa e conterem tantas habilidades diferentes de forma sincronizada, potenciam ainda mais as conexões neuronais e a maturação de estruturas cerebrais básicas. Faltaria mais investigação sobre o efeito nos mais pequeninos de substituir as canções infantis tradicionais, todas elas compostas na escala pentatónica (segundo a pedagogia Waldorf mais próxima da fase evolutiva dos mais novos), por canções que escutem jovens e adultos, todas elas compostas em escala heptatónica. Isto sem mencionar outros aspetos como as letras, o efeito sensorial sobre as as crianças mais pequenas de muitas canções modernas ou a perda cultural da riqueza do folclore tradicional infantil que vai caindo no esquecimento.

Citando

(…) cantar e jogar cantando estimula o desenvolvimento físico, mental e social das crianças numa medida que se subestimou, e que se reflete numa melhor maturação cerebral e no desenvolvimento da fala, a inteligência social e o controlo da agressão.

Isabel F. del Castillo, Terra Mater, tradução de António José Ferreira, a 08 de junho de 2019

Cantar nutre o cérebro

Menino cantando

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Bebé tocando

Propostas musicais pais e educadores realizarem com bebés

[ António José Ferreira ]

Segundo Piaget, no estádio sensório-motor (0-2 anos) o pensamento é concreto e confinado aos esquemas de acção. Tem como características o primado dos sentidos, a experiência imediata e a inteligência prática.

SAUDAÇÃO MUSICAL
0-36 meses

A investigação sobre o cérebro conclui que os bebés no seio materno já conseguem distinguir o som das vozes humanas.
Muitas das saudações mais musicais que a pessoa recebe ao longo da vida acontecem nos primeiros meses e anos. Os adultos tendem naturalmente a colocar mais carga emotiva na saudação. Esta pode ser feita através de uma melodia improvisada:

Olá, ó Lia, olá,
Olá, bebé, olá!
Olá, ó Lia, olá,
Sorri para a mamã!

Pode ser acompanhado por palmas, com toque nos braços e mãos do bebé. Este exprime-se e comunica cada vez melhor, estando muito atento ao que se passa à sua volta. A saudação pode ir variando desde que o bebé nasce até aos 3 anos, até se tornar uma proposta musical com resposta da criança. Um jogo de palmas simples é possível e vantajoso a partir dos 24 meses (palmas com palmas da criança, palmas próprias).

MÚSICA SUAVE
0-3 meses

É vantajoso ter na creche e no quarto do bebé um leitor com música instrumental suave, canções de embalar, música clássica (Mozart, por exemplo). Música com carácter rítmico regular e melodias que se repetem são calmantes na medida em que se aproximam mais do tipo de som ouvido no seio materno, algo semelhante ao som de uma máquina de lavar roupa.

Desde que nasce, o bebé apercebe-se do discurso, chora e revela algumas respostas aos sons. A etapa pré-linguística do desenvolvimento da linguagem vai do nascimento até aos nove/dez meses e caracteriza-se pela emissão de sons (não palavras). Com 1,5 a 3 meses, arrulha e dá gargalhadas.

TONS DE VOZ DIFERENCIADOS
0-3 meses

Ouvir os mesmos sons e outros sons diferenciados é um factor de continuidade e enriquecimento na vida do bebé. Quando um bebé ouve sons mais fortes, o seu ritmo cardíaco aumenta, sentindo-se feliz e divertido; quando o tom de voz é suave e doce, o bebé sente-se confortável e satisfeito. Os educadores enriquecem o bebé se cantarem a mesma canção em intensidades, alturas e timbres diferentes.

Aos 3 meses, o bebé brinca com os sons da fala, e dos 3 aos 6 meses, produz sons consonantes, tentando igualar o que ouve (guinchos, murmúrios, sons vocálicos, como “ahhh!”.

GRAVAÇÕES DO BEBÉ
3-6 meses

Os educadores podem gravar, com telemóvel, o palrar do bebé, verificando a reação do bebé ao ouvir os próprios sons. A gravação pode acompanhar o seu crescimento, tornando-se mais tarde um documento precioso e divertido.

BALANÇO
3-6 meses

Balancear e embalar favorecem o gatinhar e andar futuros. Além de serem divertidos para o bebé, os movimentos balanceados têm um papel importante na aquisição do equilíbrio que é fundamental para aprender a andar. O balanço pode ser feito em lugares e de modos diferentes, no colo, sobre a barriga, segurando-o sempre de modo a não cair. Pode cantar-se a rima de balancear:

Tão balalão,
cabeça de cão,
orelhas de gato,
não tem coração.

SONS DO MEIO
3-6 meses

As experiências musicais aumentam a aptidão para raciocínio e as ciências matemáticas. Gravar sons da natureza ou utilizar sons gravados e mostrar imagens correspondentes às crianças, pode ser interessante; mas os educadores devem ter consciência de que nesta fase os próprios objetos do dia-a-dia podem ser valorizados nas suas potencialidades: algo que cai, a chuva na vidraça, a pessoa que bate à porta.

SONS VARIADOS
6-9 meses

A consciência auditiva adquire-se com a idade, os estímulos e a experiência. É conveniente expor o bebé a sons variados e ajudá-lo a descobrir paulatinamente o corpo. Imitar o zumbido da abelha, dar estalidos com a língua com a boca mais ou menos aberta, imitar o som do vento, ou o cavalo a galope, levam o bebé imitar o adulto. Não vai conseguir imitar, mas cresce num ambiente em que o experimentar é algo de natural.

O LUGAR DO SOM
6-9 meses

Os jogos auditivos contribuem para o estabelecer de conexões no cérebro. Com duas pessoas, pode-se colocar na sala e mudar de sítio um pequeno rádio, um sintetizador de brincar ou outro instrumento. Enquanto um adulto, por exemplo, está com um bebé, o outro toca num lugar e noutro, ou desloca-se com o rádio ou instrumento. Verifique a reação do bebé, e pergunte-lhe: “onde está a música?” Se ele se tiver voltado para o lugar certo, merece palmas. À medida que o bebé cresce, aumenta-se o grau de dificuldade do jogo.

TAMBOR
6-9 meses

O desenvolvimento do cérebro é estimulado pela utilização de certos músculos ligados à motricidade. Além de ser uma actividade divertida, agarrar coisas como a baqueta e bater no tambor é importante para a coordenação motora. O bebé será induzido a bater com a baqueta no tambor ou no chão: o adulto exemplifica e deixa o bebé fazer. Pode acompanhar uma canção tradicional com um pauzinho, ou improvisar:

Meu amor, meu amor,
vamos lá tocar tambor.

O educador pode encontrar soluções alternativas e ecológicas à falta de tambores convencionais. Há bidões e frascos de champô ou detergente que são ótimos para o efeito. Deve ter-se em conta que não haja risco de o bebé se magoar com o instrumento.

MÚSICA E MOVIMENTO
6-9 meses

O movimento aliado à Música estimula ambos os lados do cérebro. O adulto circula pela sala cantando, por exemplo:

O balão do João
sobe, sobe pelo ar.
‘Stá feliz o petiz
a cantarolar.

Quando disser as palavras “sobe, sobe pelo ar”, o educador eleva um bebé, descendo-o em seguida, e faz o mesmo com os outros.

CANÇÕES DE EMBALAR
6-9 meses

O palrar, o olhar e o sorrir contribuem para o estabelecimento de laços mais fortes entre o bebé e o adulto. Mesmo que os educadores não sejam dotados de técnica vocal, a suavidade do canto acalma os bebés e aumenta a ligação afectiva. Antes de adormecerem, cante-lhes canções de embalar como “Brilha, brilha lá no céu”. Sobre esta música pode criar novos textos do género:

Dorme, dorme, meu bebé,
Dorme, dorme, ó meu bem.
O papá está contigo,
a mamã está também.

CANTO, MOVIMENTO, FALA
6-9 meses

A exposição da criança à música quando está ainda no seio materno dá-lhe um maior potencial de aprendizagem. Crianças privadas de experiências de linguagem terão mais dificuldade num discurso fluente e num bom domínio da língua em adulto. O objetivo não é que o bebé consiga entender as palavras, mas iniciá-lo num processo de ensino/aprendizagem. Sem as entender, ele vai gostar de ouvir as palavras cantadas. Se a canção tiver uma palavra mais conhecida do bebé, pode realçar-se cantando mais forte. Podem também dizer se as palavras, mantendo o ritmo, em registos grave e agudo.

Pelos 9 ou 10 meses, o bebé compreende o seu nome e as palavras “sim” e “não”. Imita sons sem compreender o seu significado. Usa gestos para comunicar, como abanar a cabeça para sim ou não. Já balbucia, juntando consoante e vogal (ma, ou mama).

SIM, SIM, NÃO, NÃO
9-10 meses

Em especial nesta fase, o adulto canta:

Sim, sim,
não, não,
Põe na minha
a tua mão.
Não, não,
sim sim,
olha agora
para mim!

OUVIR CONVERSAS
9-12 meses

Apresentar sons, texturas e sensações continua a ser fundamental para o desenvolvimento do bebé, e isso passa também pelas conversas. Pausas entre as frases e segmentos de frase ajudam os bebés a concentrar-se nos sons da língua. A experiência auditiva é determinante da qualidade da linguagem futura.

Tal como as conversas dos adultos, os diálogos dos desenhos animados, o conto e canto das estórias, têm um lugar importante no processo de aprendizagem da criança, que tentará muitas vezes imitar os sons. As ligações afetivas e familiares são muito importantes.

CANTO NO BANHO
9-12 meses

Um ambiente rico em linguagem oral e variedade sonora gera maiores aptidões linguísticas e musicais. Enquanto o adulto dá banho ao bebé, diverte-se e diverte a criança cantando, por exemplo, uma lengalenga ou canção adequada:

Pelo muro acima
vai uma formiga,
uma mão na testa
outra na barriga.

Pelo muro abaixo
vai um escaravelho
uma mão na testa,
outra no joelho.

Ao dizer “muro acima”, o adulto sobe com a mão pelo braço do bebé acima, e o inverso quando disser “pelo muro abaixo”. Pode cantar outras canções que falem da água.

UM BARQUINHO
9-12 meses

O equilíbrio da pessoa depende muito do amor e do carinho vivido nos primeiros anos. Quando der banho ao bebé na banheira, sente-o, mantendo-o seguro. Movimente-o para a frente e para trás de forma ritmada, cantando-lhe uma canção relacionada com o tema da água, por exemplo:

Um barquinho ligeiro andava,
ligeirinho andava no mar.

A nuvem passou,
o mar se agitou,
o vento a soprar
e os barcos a virar.

Vem a onda,
baloiça o barquinho
e o barquinho
faz “tchape” no mar.

Quando disser “tchape”, chapinhe na água.

ANDAMENTOS
9-12 meses

As experiências rítmicas e musicais precoces melhoram o raciocínio espacio temporal e geram maior aptidão para conceitos matemáticos. Os bebés estão sentados no chão, sobre uma manta. O educador dá-lhes uma baqueta, uma colher de pau ou uma clava. Cante uma canção, “As pombinhas da Cat’rina”, por exemplo. Acompanhe a canção tocando. Incentive o bebé a fazer o mesmo, variando o andamento, mais rápido e mais lento.

CANÇÃO COM VARIAÇÕES
9-12 meses

Certos jogos infantis com movimento são exercícios neurológicos que ajudam a criança a assimilar padrões linguísticos e a adquirir capacidades motoras. Além dos sons que pode fazer com a boca, a criança desenvolve a sua aptidão linguística se ouvir canções tradicionais que, além disso, beneficiam a criança em termos de integração no grupo, no Infantário e, futuramente, na Escola.

Cantar com matizes diferentes, forte e piano, em registo mais grave e mais agudo, com figurações rítmicas diferentes, ajudará o bebé a desenvolver a sua capacidade linguística e musical.

PALAVRAS EM DESTAQUE
9-12 meses

Os recém-nascidos têm muitos genes e sinapses que os tornam aptos para a aprendizagem da Música. O educador senta os bebé e senta-se também, voltado para eles. Canta uma canção e realça uma palavra batendo palmas:

Bate palmas, ó Gonçalo,
toda a gente bate.

Quando diz o nome de um bebé, agarra-lhe as mãos e bate palmas.

SENTIMENTOS
9-12 meses

A fala, a leitura de estórias e o canto têm efeitos muito benéficos na criança. Cantar representando sentimentos e sensações ajudará a criança a exprimir-se mais facilmente.

Eu sou tão feliz
porque estás comigo.
Tu és tão feliz
porque estou contigo.

Eu fico tão triste
quando não estás.
Tu ficas tão triste
quando eu não estou.

Acompanhe a canção com gestos diferentes que exprimam a alegria ou a tristeza, e também o “eu” e o “tu”.

SONS LINGUÍSTICOS
9-12 meses

Sons de intensidade forte captam mais a atenção da criança e o falar pausado facilita a distinção das palavras. Repetir sons que o bebé começa a dizer cedo, como p, m, b, d, g ou outros, juntando-lhes vogais ajuda o bebé a criar bases linguísticas para uma expressão verbal fluente. É vantajoso cantar frases ou estrofes que realcem esses sons. Outra actividade poderá consistir em cantar com os sons que o bebé faz (pá), sobre melodias conhecidas.

O vocabulário passivo desenvolve-se mais rapidamente que o vocabulário activo. Entre os 10 e os 14 meses, aparecem as primeiras palavras identificáveis, pela forma e pelo significado (nome para algo).

SONS (MAIS OU MENOS) AGRADÁVEIS
12-15 meses

Há sons que podem assustar os bebés. À medida que a criança toma consciência deles, fica mais tranquila, percebendo que o “tic-tac” de um relógio de sala, uma torneira aberta, o ranger de uma porta, o rádio a tocar não são coisas más. O pai, a mãe, o educador podem dar o exemplo de criar sons e o bebé pode achar interessante e fazer o mesmo, como fechar e abrir a porta de um armário que range, agarrando a chave ou o puxador.

CANTAR POR TUDO E POR NADA
12-15 meses

Em termos gerais, quanto mais precoce é o estímulo musical sobre o bebé, mais probabilidades há de a criança ter potencial para a música. Pode cantar para chamar o bebé, para lhe pedir um objeto, desenvolvendo a sua sensibilidade artística, mesmo que improvise com duas ou três notas, utilizando intervalos de oitava, sexta, terceira, quarta, segunda.

Aos 13 meses, o bebé compreende a função simbólica do nomear, isto é, compreende que uma palavra representa um objecto ou um acontecimento. Usa gestos representacionais (como levar uma chávena vazia à boca; levantar os braços para mostrar que quer colo) e aos 14 meses, usa gestos simbólicos, como soprar para significar “quente”.

PERCUSSÃO COM PALMAS
12-15 meses

Bata um pequeno ritmo com a mão direita na palma ou nas costas da mão
esquerda, ou vice-versa. Coloque em seguida a sua palma, mão ou braço diante do bebé de modo que ele possa bater como lhe agradar. Volte a percutir e espere a reação dele. É provável que bata com ambas as mãos e se ria de contente. Pode fazer o jogo de percussão utilizando também um pandeiro ou outro membranofone.

Entre os 10 e os 18 meses, o bebé diz palavras simples, a “holofrase” palavra que transmite uma ideia completa.

BRINQUEDOS MUSICAIS
15-18 meses

A variedade dos sons a que o bebé é exposto desenvolve a sua capacidade auditiva. Pegando num brinquedo de que o bebé goste, incentive a criança a imitar o objeto que ele representa, tenha em si música ou não. Se é um carro, imite o seu som, e faça o mesmo com o cão, o gato ou as bonecas.
Improvise melodicamente, transportando o bebé:

Pi pi pi,
Estou cansado de estar aqui.
Pi pi pi,
Vou de carro levar-te ali.

LÍNGUAS
15-18 meses

Quando a criança ouve sons de uma língua e sons de uma língua diferente, criam-se conexões nervosas no cérebro do bebé. Assim, está a proporcionar-se à criança um ambiente propício à aprendizagem das línguas. O professor de Música e educador pode cantar pequenas frases em diferentes línguas, como a saudação “Olá” em diversas línguas:

Olá, Joana! Olá!
Hello!
Bonjour!

ONOMATOPEIAS
15-18 meses

O cérebro tem uma grande capacidade para armazenar informações mas precisa de ser estimulado. Ouvir Vozes de animais e imitá-los incrementa o início da linguagem. Mostre livros ilustrados sobre animais ou apresente imagens do computador, e diga os seus sons característicos, associando visão e audição. A criança beneficia também com a exposição a fontes sonoras diferentes, mecânicas e naturais.

VOZES DIFERENTES
18-21 meses

Desde muito cedo, os bebés distinguem uma língua de outra e começam a atenção às palavras. O bebé está em evolução e vai falando cada vez melhor. A ligação dos circuitos cerebrais beneficia com experiências ricas e diversificadas na primeira infância. Conversar e cantar em tons de voz diferentes incentiva a capacidade linguística e musical dos bebés. O adulto canta normalmente uma canção; em seguida, canta a mesma canção em registo agudo, em registo grave, com voz suave, com voz forte, com voz nasalada. A criança responde e interage cada vez melhor, podendo já utilizar nesta fase cerca de 100 palavras.

CLÁSSICOS SEMPRE
18-21 meses

Ouvir (e mesmo dançar ao som de) música clássica nos primeiros anos de vida é uma actividade que fortalece os circuitos cerebrais mais tarde utilizados nas matemáticas e tarefas racionalmente complexas. Uma valsa “Danúbio Azul” de Strauss favorecerá a dança, o “Carnaval dos animais” de Camille Saint-Saëns representa vários animais através de instrumentos, o “Quebra-nozes” de Tchaikovsky é adequado para encenações. Ver bailados clássicos e desenhos animados musicais como “A flauta mágica” beneficia o bebé em vários aspetos.

À ESCUTA
18-21 meses

A exposição a uma variedade grande de estímulos sensoriais possibilita uma maior flexibilidade para a aprendizagem. A vivência precoce é muito importante: os sons e as cores, os pássaros e os cães, os grilos e as cigarras, as fontes e regatos, o vento nas folhas das árvores, os chocalhos das ovelhas, o cacarejar da galinha, o ruído métrico das máquinas, o som do relógio e do automóvel, o ritmo da poesia. Sendo cada vez mais fácil a gravação com telemóvel e o acesso à rede, os educadores podem fazer jogos de audição sobre animais domésticos e fontes sonoras do quotidiano.

Entre os 16 e os 24 meses, o bebé apresenta grande capacidade para nomear, e aprende muitas palavras novas (expandindo o vocabulário rapidamente, de 50 a 400. Utiliza verbos e adjectivos. Entre os 18 e os 24 meses, diz a primeira frase em discurso telegráfico: junta duas palavras para expressar uma ideia, como “carro cair”. Aos 20 meses, utiliza poucos gestos e nomeia mais objectos. Aos 24 meses, usa muitas frases de duas palavras. Já não balbucia, e quer falar. Dos dois aos três anos de idade, há um aumento exponencial do vocabulário, sobretudo de nomes, embora também comece a usar verbos, alguns adjectivos e advérbios. A criança começa a empregar verbos auxiliares como “ter” e “ser”, utiliza preposições e apresenta uma fala compreensível, inclusive para pessoas fora de seu meio familiar. A criança diz o nome e idade, expressa palavras de duas ou mais sílabas e reconhece os objectos conforme a sua utilidade.

CANTAR NOMES COMUNS
21-24 meses

A audição diversificada de sons incrementa a expressão verbal.
O educador senta-se com o bebé. Canta uma frase pequenina sobre um objeto que a criança pode tocar, por exemplo:

Paula, Paulinha,
agarra a bonequinha.

Diz palavra “bonequinha” isolada da frase. O bebé agarra a boneca. Em seguida, passe a outros objetos.

No estádio pré-operatório de Piaget (2-7 anos), o pensamento é de tipo representacional, intuitivo, não lógico, marcado pela fantasia, aspetos observados, centrado nos pormenores e ainda sem reversibilidade.

JOGO DAS ESCONDIDAS MUSICAL
30-33 meses

O educador pega num instrumento ou brinquedo sonoro de que a criança goste muito. Afasta-se (não muito) com o objeto e faz com que ele toque. A criança será motivada a encontrá-lo. Pode fazê-lo algumas vezes enquanto o interesse se mantiver e ele possa seguir o som do brinquedo. Outra maneira de fazer é tapar os olhos da criança (se ela o permitir) e movimentar o brinquedo sonoro à sua volta para que tente descobrir de onde vem o som.

A aprendizagem e interacção com os outros estão intimamente ligadas aos estímulos recebidos nos primeiros anos de vida. Entre os 20/30 meses, desenvolve a sintaxe (regras para juntar frases): artigos (o/a, um/uma); proposições (no/na, em); conjunções (e, mas); plurais, terminações e tempo passado dos verbos.

Aos 30 meses, aprende novas palavras quase todos os dias: fala combinando três ou mais palavras, com erros gramaticais. Aos 3 anos, diz até 1000 palavras (80% inteligíveis).

SEI UMA PEQUENA ESTÓRIA
33-36 meses

O professor improvisa sobre a canção:

Sei uma pequena estória
que [ a educadora/avó ] me ensinou:
era uma vez um gato:
já a estória acabou.

Esta canção pode ser utilizada como jogo em que as crianças fazem gestos (abrir livro, apontar com a mão, bigodes do gato, fechar livro). Quando uma criança é nomeada, o educador faz uma pausa para realçar o nome e interagir, e depois continua.

Bebé tocando

Bebé tocando

BIBLIOGRAFIA

JACKIE SILBERG, Brincadeiras para bebés. Jogos simples que os ajudam a aprender. Pergaminho 2005, 1 ed.
ID., 125 Brincadeiras para estimular o cérebro da criança de 1 a 3 anos. Editora Ground s. d.

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Bebé tocando tambor de fenda

Música com e para bebés

[ António José Ferreira ]

Recorre-se cada vez mais à Música para fomentar as potencialidades criadoras e desenvolver todas as faculdades humanas. A arte musical apresenta grandes vantagens em termos cognitivos e comportamentais, incrementa o raciocínio espacio-temporal, o pensamento lógico e a aptidão para as matemáticas. Estimula a criatividade e o gosto artístico, cria um ambiente calmo em família, tem um efeito positivo nas grávidas, contribui para que a criança chore menos e seja mais calma.

Torna o bebé mais apto para a língua e a linguagem, para a experiência cativante do belo nas artes, para a escuta ecológica dos sons da natureza.

Na medida em que proporcione calma e descontração, segurança e conforto, a música estimula o cérebro do bebé e abre-lhe o leque de aptidões intelectuais. As experiências e jogos musicais feitos intuitivamente pelas mães, pais, avós e avôs, são corroborados por experiências clínicas, os progressos da neurociência e a pesquisa musical. A audição de música torna-se um fator de desenvolvimento neurológico do bebé, sobretudo quando abarca todo o espetro sonoro audível (20-20000 Hz), sons graves, médios e agudos.

A música parte da vida e prepara para a vida. Música de fundo com regularidade rítmica, melódica e harmónica dá à criança a sensação de bem-estar e de conforto e acalma também a mãe, o pai e todo ambiente familiar. Os primeiros contactos com a música acontecem no âmbito familiar e nos jardins de infância – onde a Música vai sendo encarada mais seriamente. As canções tradicionais, canções de embalar, música instrumental (com harpa, violino, Viola, violoncelo, clarinete e flauta, entre outros) são muito importantes nesta fase.

Mesmo que os educadores e encarregados de educação não disponham de bases musicais teóricas, podem sempre cantar, mimar, saltar, movimentar, possibilitar experiências sonoras com instrumentos. Os registos disponíveis de canções tradicionais aumentaram significativamente nas últimas décadas em Portugal, com ampla divulgação nos meios de comunicação de massa e em redes sociais – o que torna o acesso muito mais fácil.

Para a criança, o canto não é uma simples imitação: desperta o sentido do ritmo, da melodia e da harmonia, da escala, dos acordes e da tonalidade. Favorece a integração na criança e na idiossincrasia do povo e na comunidade. As primeiras canções são simples, com pequenos intervalos, tendo a mímica um papel importante no acompanhamento plástico. Devem ser escolhidas com critério, tendo em conta os textos, o ritmo e a melodia.

Nos meios em que se ouve apenas música de fraca qualidade, tanto em termos de texto com em termos de melodia, é natural que seja esse o tipo de canção que a criança cante com os amigos. E é natural também que a audição regular de música clássica em casa e a ida a concertos influenciem linha os gostos musicais da criança.

O ritmo é organização, número, simetria, medida, proporção, ordem, fazendo parte da própria fisiologia do ser humano que respira, pulsa, anda, trabalha, repousa, fala e se cala. O ritmo binário tem um carácter pendular, mais adaptado à marcha, enquanto o ternário é mais rotatório, giratório. O compasso simples é mais adaptado à narrativa, e o 6/8 é especialmente adequado às canções de embalar. Simples exercícios rítmicos podem fazer maravilhas em termos musicais e psicológicos, pela descontração gerada e pelo efeito salutar no sistema nervoso.

Até aos sete anos a criança vive sobretudo da sensorialidade: há toda a vantagem em expor e treinar sensorialmente as crianças para fazerem a natural precisam descoberta da intensidade, timbre e altura. Os pequeninos, obviamente, de variar. É limitador usar sempre a mesma canção ou o mesmo instrumento. É importante que os educadores e professores de Música disponham de uma pequena coleção de instrumentos musicais e fontes sonoras para variar e satisfazer o gosto das crianças. Brinquedos sonoros, adquiridos em lojas de música e de brinquedos, apitos musicais, chocalhos de ovelha, cabra e vaca (à venda nas feiras em vilas do interior), instrumentos feitos a partir de materiais recicláveis, “apitos de caça”, podem ser adquiridos com vantagem sobre outros brinquedos, por vezes imensamente mais caros e com menos valor pedagógico.

Os educadores e professores de Música poderão encontrar em feiras e lojas de artesanato instrumentos do mundo especialmente úteis no contexto da creche e do Jardim de Infância: reques em forma de grilo ou rã, maracas coloridas com motivos variados, tamboretes com personagens dos desenhos animados. O desenvolvimento da motricidade e do conhecimento do mundo passam também por esta experiência.

A Música nos primeiros anos exige, assim, sensibilidade. O estudo pessoal e a criatividade fornecem aos educadores, pais e professores de música um mundo sonoro que enriquece os bebés e dá prazer às famílias. A criança, sensível ao timbre, distingue a sonoridade própria de vários instrumentos e apura a sensibilidade auditiva.

Pelos dois ou três anos, a criança improvisa frequentemente melodias numa base não métrica e não tonal, fundada nas suas vivências pessoais e no vocabulário de que já dispõe. Não é de esperar que tenha, nessa idade, grande coerência em termos de discurso verbal e musical. De qualquer modo, o educador pode aproveitar essa aptidão e completá-la. De facto, essa tendência desaparece com o despertar das funções intelectuais.

Em forma de jogo musical, o educador pode fomentar a criatividade à medida a criança vai crescendo, consciencializando de forma progressiva para as noções de frase, cadência e forma musical.

Bebé tocando tambor de fenda

Bebé tocando tambor de fenda

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Bebé com brinquedo musical

As crianças precisam de música, por Wilfried Gruhn, Professor Jubilado de Educação Musica, Universidade de Música de Freiburg, Alemanha. Tradução do Inglês por Etelvina Pereira, Dra.

[ “A educação musical começa nove meses antes do nascimento – da mãe!” – Kodály ]

1. Do ponto de vista neurológico, os primeiros anos da infância são cruciais para o desenvolvimento de ligações sinápticas no cérebro. É o que expressa em linguagem muito simples o provérbio alemão “Was Hänschen nicht learnt, lernt Hans nimmermehr.” (O que o Joãozinho não aprende, o João não aprenderá nunca”).

2. Contudo, não devemos sobrestimar esses primeiros anos (como referiu John Bruer no seu livro “The Myth of the First Three Years”, 1999). Não é que o João deixe de aprender numa idade mais avançada. O ser humano nunca acaba o seu processo de aprendizagem. É impossível abstermo-nos de aprender (não podemos não aprender) devido à plasticidade estrutural do cérebro. No entanto, é muito mais fácil aprender durante a flexível fase do seu desenvolvimento. Por isso, as faculdades mais importantes (tais como a posição vertical, o discurso verbal, o pensamento lógico, as operações formais abstractas etc.) desenvolvem-se nos primeiros anos de vida.

3. A aprendizagem baseia-se na plasticidade do cérebro que é mais intensa nos primeiros anos, mas que continua durante toda a vida. De uma perspectiva humana, neurobiológica, educacional e ética, a educação na infância é importante. As famílias e as pré-escolas (jardins de infância) são os primeiros e mais cruciais agentes a apresentar um ambiente rico e estimulante para a aprendizagem.

4. O desenvolvimento do cérebro é basicamente determinado pela sua disposição genética, mas a sua estrutura individual depende do seu uso. O cérebro desenvolve-se de acordo com o modo como o usamos. Todas as experiências são armazenadas no cérebro e influenciam a sua estrutura neural.

5. Descobertas recentes em pesquisa animal demonstraram que a privação emocional e a perda de contacto social têm um efeito negativo na estrutura profunda do cérebro, o que encorajou a “neuro-didáctica” devido ao impacto óbvio dos processos neurobiológicos no ensino e na aprendizagem. Situações tais como a hiperactividade e o síndroma de défice da atenção (ADS) referem-se a uma possível interacção entre o cuidado emocional e o desenvolvimento do cérebro.

6. Este facto sustenta a exigência social e educacional para que se fortaleçam as famílias para os seus deveres educacionais de modo a que possam oferecer o melhor ambiente de aprendizagem possível às crianças. As pré-escolas e as escolas só podem apoiar mas não substituir o cuidado parental. A aprendizagem da música, tal como outras aprendizagens, requer interacção individual social e orientação informal.

7. A música desempenha um papel importante nos primeiros anos. De um modo muito particular, a prática musical activa processos rítmicos. A experiência do tempo e do espaço na infância é diferente da dos adultos. As crianças exploram o tempo e o espaço pelo peso corporal e fluidez do movimento, enquanto que os adultos sabem contar e medir. Assim, é óbvio e razoável que as crianças precisam de música como um meio de repetição rítmica e movimento estruturado. E respondem à música de uma forma muito sensata.

8. A música estimula o crescimento de estruturas do cérebro e liga muitas áreas cerebrais activadas. A prática musical requer uma óptima coordenação motora e melhora o círculo fonológico. Não é uma questão de ser processada no hemisfério esquerdo ou direito do cérebro, porque ela promove uma forte interligação e coerência dos dois hemisférios. Como demonstra o tratamento de crianças com implantes da cóclea, a música funciona como um estímulo altamente diferenciado para o cortex auditivo subdesenvolvido.

9. Pesquisas sobre aptidão musical demonstraram que todo o ser humano nasce com um determinado nível de potencial musical que detém o seu máximo grau imediatamente após o parto e não mais ultrapassará este nível. Sem qualquer estímulo informal, o potencial musical da criança irá diminuir e finalmente desaparecer. Por isso, é extremamente importante expor o cérebro a variados estímulos musicais de modo a que possa desenvolver representações musicais.

A janela da aprendizagem para o cérebro musical abre-se numa idade muito precoce. Os pais e educadores devem ter como objectivo desenvolver o potencial que cada criança possui.

10. A aprendizagem musical começa na fase pré-natal – como referiu Kodály: A educação musical começa nove meses antes do nascimento – da mãe!) e continua informalmente depois do nascimento, dependendo das actividades musicais dos pais. As crianças aprendem música como aprendem a língua, i.e., não começam com gramática e teoria, mas com a prática. Desenvolvem um “saber como” antes do “saber sobre”.

O conhecimento activo é a mais robusta representação do conhecimento musical. A necessidade vital da música facilita a aprendizagem por abordagens práticas. Assim, a música torna-se um meio natural de expressão e de comunicação.

Bebé com brinquedo musical

Bebé com brinquedo musical

11. Face ao exposto, uma organização internacional tal como a ISME (International Society for Music Education) é extremamente importante. Partilha a responsabilidade de facultar às crianças a melhor educação possível correspondendo às condições humanas gerais e às propriedades culturais individuais.

A troca e interacção de diferentes culturas pode ser vista como o melhor meio de evitar o choque de culturas e de estabelecer uma simbiose pacífica no mundo global.

As mais poderosas redes neurais e atitudes comportamentais desenvolvem-se durante a infância.

Uma aquisição geral do conhecimento do mundo envolvente (que Donata Elschenbroich chama “Weltwissen” e “Weltfahrung”) governa os nossos sentimentos e pensamentos, a nossa prática e conhecimento.

A educação musical desempenha o seu papel especial na educação das crianças. Realiza uma doutrina ética para apoiar e desenvolver um dado potencial ao máximo.

Artigo publicado a 6 de Outubro de 2003, no sítio da ISME (International Society for Music Education).

Citando

“O conhecimento activo é a mais robusta representação do conhecimento musical. A necessidade vital da música facilita a aprendizagem por abordagens práticas. Assim, a música torna-se um meio natural de expressão e de comunicação.”
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