Piada ao piano
Anedotas vividas no ensino da música
Recolha de falas de crianças a aprenderem piano com a professora Carla Quelhas.
Carla Quelhas
Professora: “Tu és como eu: quando estás muito cansado, só saem disparates pela boca fora.”
Aluno: “Pelos vistos pelas mãos também…”
“Eu até quarta vou comer as partituras a ver se isto fica melhor. A brincar, a brincar, pode ser que resulte!” (aluna de piano)
“Eu não estava a olhar, estava só a existir.” (aluno que se enganou a tocar e a quem perguntei se estava a olhar para a partitura)
“Eu não posso estudar piano porque não tenho testes para a semana. Só posso estudar piano quando tenho testes. A razão para isto é que estudo piano porque não me apetece estudar para as outras disciplinas.” (aluno de piano)
“Isto são demasiadas notas para um aluno só. Deixe-me só coçar os olhos, que um esforço destes logo pela manhã não é saudável.” (aluno e o seu Prokofiev)
“Eu vou ter um esgotamento até ao final do ano a tocar isto!” (aluna sobre o seu Nocturno de Chopin)
Aluna: “Só uma pergunta: porque é que no piano só usamos os dedos das mãos para tocar e não os dedos dos pés? Eles também queriam participar, mas não, estão apoiados no chão. Quer dizer, os meus não!”
Professora: “Vamos ouvir o estudo todo!”
Aluno: “Não faça isso, o meu coração não aguenta!”
“Burro! – aluno.
“Não se diz essas coisas!” – professora.
“Pronto, jumento! É mais bonitinho…” – aluno.
Professora: “Sim, podes ouvir antes de dormir. Até ajuda: isto é bonito, suave e lento.”
Aluna: “Eu sei, stôra, eu se tocar fico com sono.”
Aluna: “Eu nunca gostei de arpejos. Os arpejos são maus, só conseguem estragar a vida das pessoas, como os sustenidos e os bemóis.”
Professora: “Olha, não estás a fazer os staccatos e coisas assim…
Aluna (interrompe): “Não gosto de bolas.”
Professora: “Mão esquerda!”
Aluna: “Mão esquerda… a mão que odeia toda a gente.”
Professora: “É minueto [em português].”
Aluna: “Eu chamo-lhe menú do ET.” (A peça chama-se “Menuet”.)
“Tipo, a mão direita não estava a querer contribuir!” (aluna a explicar um momento de estudo em casa)
“Mete uma mão mais forte e deixa a outra coisar-se.” (aluno sobre o equilíbrio das vozes numa Invenção de Bach)
“Já viu o que é que a expressividade faz às músicas? Estraga-as! Deixa-as todas malucas…” (aluno de piano)
“Por acaso dá mais jeito fingir que as notas não estão cá…” (aluna a ignorar totalmente a melodia da Sonata ao Luar)
“Ahhh… Acabei de descobrir que tenho aqui um dedo!” (aluno de piano)
“Sou a pro dos piores… Não é para qualquer um!” (aluna de piano)
Professora: “Agora só falta o acorde da esquerda…”
Aluna: “Odeio a esquerda!”
Professora: “Ó senhora, onde é que estas duas notas são diferentes?”
Aluna: “No meu coração são…”
Professora: “Aluna X, sente-se! Ainda não tocou os dois últimos compassos!”
Aluna: “Na minha imaginação, sim…”
Professora: “Esse fá, é acima ou abaixo do dó central?”
Aluna: “É onde eu quiser!”
Professora: “Para além de hoje, só temos mais 3 aulas até à prova.”
Aluna: “Oh, professora, você só me desanima. Você nunca me dá boas notícias!”
“Eu não quero ver [a partitura], eu sou muito pro, não preciso!
Entretanto toca.
“Tá a ver, professora? Eu sou mesmo profissional! Nota mil de dez!”
“Eu vou partir as mãos só para não ir à audição!”
Professora: “Não são notas seguidas.”
Aluna: “Não estou a ver bem… Está a ver, professora? Mais uma razão para eu não ir à audição!!!”
Professora: “Esquece, que vais ter cada vez menos peças em dó maior.”
Aluna: “Isso é triste, professora.”
A professora mostrou as escalas mistas, a cigana-húngara e hispano-árabe e a aluna disse:
“Só nessas últimas escalas a professora invocou 3 tipos de cobras diferentes!”
“Adorei esta oitava! Vou-lhe dar um beijo!” (aluno de piano)
Falas de aluna que não gosta de arpejos:
“Professora, temos que fazer um grupo dos contra-arpejos.”
(Self-explanatory)
“Porque é que eu já não toco só com uma linha?”
“Mas do que eu gostava mais era quando eu tocava só nas teclas pretas.” (aluna saudosa dos tempos de iniciação)
“Eu toco piano e não sei fazer ditados de piano. INCRÍVEL! [expressão de júbilo]” (a aluna sobre as provas escritas de formação musical)
Professora: “Agora vais dizer que notas são.”
Aluna: “É o 1 e o 3!”
Professora: “A mão não sai do sítio!”
Aluna: “É o piano!”
Professora: “Ai o piano saiu do sítio?!”
Professora: “Não atrases!”
Aluna: “Mas eu cheguei a horas…”
“Esqueci-me totalmente que esta peça levava pedal, e então tinha o pé na Espanha… na Espanha, não, na Austrália!!!(aluno de piano)
“Errei! Eu errei! Também sou humano!…” (aluno)
“Ai que bela prenda que eu tenho aqui!” (aluno quando percebe que só tem que tocar uma nota num compasso inteiro)
“Está a ver quando os gatos metem as patas no piano… é isto mesmo que acontece!” (aluno após enganar-se).
“O Tico e o Teco estavam a entender-se, eu elogiei-os… E agora estão a deixar-me ficar mal!” (aluno após as duas mãos se descoordenarem)
“Eu vou conseguir! Não vou ser derrotado por uma folha de papel!” (aluno a tentar tocar de cor)
“A culpa é tua! Não tenho dó de ti!” (aluno a falar para a tecla do DÓ)
“Sinto que passarinhos morreram… com este desafinanço!” (aluno de piano)
“Dói-me a cabeça por estar sempre a olhar para pontinhos pretos.” (aluna de piano)
“O que é que não está bem?” – professora.
“É o ré o intruso! Temos que tirar todos os rés do piano!” – aluno.
“A culpa não é minha.” – aluna.
“Então?” – professora.
“A culpa é do dedo.” – aluna.
“E o dedo não faz parte de ti?” – professora.
“Se eu o cortar, não!” – aluna.
“O piano deve começar a ter encosto. É que dói-me tanto as costas!” (aluna de piano)
“Sempre soube que esta mão era demorada. Se não fosse a mão direita, era extraordinário.” (aluna de piano)
“As minhas mãos sentem-se pressionadas.” (aluna de piano)
Professora: “Estás-te a torcer toda porquê?”
Aluna de piano: “Porque é uma posição bonita!”
“Estou um bocado confusa com as direitas hoje!” (aluna de piano)
“Sabe o que é que a stôra podia arranjar? Uma daquelas caninhas que, se o aluno se enganasse, TAAAUUU!, dava-lhe no braço…” (aluno de piano a tentar ajudar a professora que não se consegue levantar com as tonturas)
“Tenho o diafragma aos saltos.” (aluno de piano antes da audição)
A propósito do Mozart…
Professora: “Tens que ver o Amadeus.”
Aluna: “Isso não é aquele vinho rosa?”
Professora: “Já está decorado isso?”
Aluno de piano: “Se não estiver, bato em mim mesmo!”
Professor: “Estás a parar muitas vezes, ___________.”
Aluna: “É para as pessoas apanharem o autocarro.”
“Esta peça é como as vacas, está no último estômago na fase da digestão.” (aluno de piano com a peça “mais digerida”)
No dia da audição:
Professora – “Tu não ias tocar de cor?”
Aluna – “Foi para mostrar à minha mãe que levava alguma coisa.”
“As dinâmicas não são as minhas melhores amigas.” (aluno de piano)
“Não lhe apetece tocar [a mão esquerda], ela disse-me!” (aluna de piano de 7 anos)
“Pronto, agora vou tentar tocar isto com o piqui sapato.” (aluna de piano a querer dizer staccato)
“Às vezes atrofio-me internamente e sai-me tudo ao lado.” (aluno de piano)
“Quando vou para estas zonas, sinto o AVC a chegar!” (aluno apaixonado por um novo prelúdio de Chopin)
“Para tocar isso é preciso uma mutação genética, é preciso p’raí 7 mãos!!!” (aluno de piano)
“O mindinho é um escanchado, está sempre aberto!!!” (aluno de piano)
“Eu fiz um compasso todo direitinho, ainda quer mais?!” (aluna de piano)
“Dê-me mais coisas para pensar enquanto coordeno as duas mãos!!!” (aluna de piano)
“Ainda continua… ai meu deus!!!!” (aluna a aperceber-se que ainda só vai a meio da escala)
Professora: “Doeu muito juntar as duas mãos?”
Aluno: “Doeu, elas estão a chorar…”
“Eu vou provar à setora que não está de cor!” (aluna de piano a minutos da audição)
Professora: “Estás com a esquerda dois tempos à frente da direita!!!!! (grrrrrrrrrr!)
Aluno: “E não fica bonito?”
Aluna: “Eu não sei se o traço vai para uma nota ou para outra.”
Professora: “Se estivesses a contar os tempos do compasso, saberias…”
Aluna (meio a sussurrar): “Milagre se eu contasse….”
“Tecnicamente a stora é que se insultou a si própria quando me chamou pianista.” (aluna de piano)
Professora: “Quero a descida, que a subida foi razoável.”
Aluna: “A subida foi linda!”
Professor: “Mas tu queres tocar essa?”
Aluno: “Querer, não quero, mas tenho que tocar!”
“Os estúpidos dos meus dedos não se conciliam uns com os outros!” (aluno de piano)
“Ó stôra, a mão direita já está de cor!” (Aluno de piano a começar a aula, horas antes da audição e uma semana antes da prova)
“Porque é que as mãos são estúpidas?” (aluno de piano)
“A mão é como se fosse uma boca e estivesse a cantar. Se não respirar, morreu!” (aluna de piano a propósito de respirar com as ligaduras)
“Ai! Ai sinto a espargata do meu dedo!” (aluna de piano)
“Continuo a achar que você é do demónio, mas pronto.” (aluno de piano após a professora ter tocado um arpejo um bocadinho mais rápido)
“A professora vai tocar o Clairrrre de Llllllhune de W.C. [sotaque inglês]” (aluna a treinar a apresentação da audição)
Aluna: “Não percebo o que é que a professora me está a corrigir.”
Professora: “Eu também não.”
“Vou ganhar um torcicolo na coluna.” (aluna a tocar com as duas mãos nos agudos do piano)
“Isto mãos separadas é fixolas!” (aluna a propósito de um estudo de Czerny)
“Ave Maria, porque é que você me está a levar para este caminho?” (aluno de piano)
“O ré está apaixonado!!!!” (aluno de piano sempre a tocar ré quando devia ser mi)
“Eu tenho que olhar para a nota, calcular o raio-trajetória, e tocar a outra nota!” (aluno de piano)
“Momento…. eu estou a gritar para dentro e por fora estou calado. Mas devia estar a gritar por fora!” (aluno de piano)
O aluno de piano acaba de tocar bem uma passagem que insistia que não conseguia tocar.
Professora: “Doeu muito?”
Aluno: “O meu dedo está desgastado!”
“Saiu-me o dedo!” (aluna a falhar o mindinho num acorde de 7ª)
“Tenho que ativar a minha mão elástica!” (aluna de piano)
Professora: “Quando toca o dedo 4, não toca o dedo 3.”
Aluna: “És muito mau, tu! Eu não preciso de ti agora! (a bater na mão)”
Professora: “Mas foi o que o Lopes-Graça escreveu…”
Aluna: “O raio do homenzinho gosta de complicare!!!”
“Estava-me a enganar, o meu dedo estava dormente.” (aluno de piano)
“Ele gosta de cantar onde não é preciso…” (aluna de piano a propósito do 4º dedo)
“Eu funciono melhor quando não penso. A sério!” (aluna de piano)
“Quando não toco o dedo certo no lugar certo dá-me para pôr a língua de fora. Não me pergunte porquê, mas acontece…” (aluna de piano)
“Eu só gosto desta música porque é toda clave de sol.” (aluna de piano)
“A culpa é da partitura! Ela muda quando vou tocar com as duas [mãos]!” (aluna de piano)
Aluna: “Tenho que pintar os coisinhos.”
Professora: “Os coisinhos?”
Aluna: “Aquelas coisas, os hashtags!”
Professora: “Já sei que tens o dedo desgastado…”
Aluno (six in a row!!!): “Não, está partido!!!”
Professora: “Acabei de partilhar no grupo o ‘First pedal studies’.”
Aluno: “O quê? Isso é para aprender a brincar com o acelerador?!”