Música com bebés
Música com e para bebés
[ António José Ferreira ]
Recorre-se cada vez mais à Música para fomentar as potencialidades criadoras e desenvolver todas as faculdades humanas. A arte musical apresenta grandes vantagens em termos cognitivos e comportamentais, incrementa o raciocínio espacio-temporal, o pensamento lógico e a aptidão para as matemáticas. Estimula a criatividade e o gosto artístico, cria um ambiente calmo em família, tem um efeito positivo nas grávidas, contribui para que a criança chore menos e seja mais calma.
Torna o bebé mais apto para a língua e a linguagem, para a experiência cativante do belo nas artes, para a escuta ecológica dos sons da natureza.
Na medida em que proporcione calma e descontração, segurança e conforto, a música estimula o cérebro do bebé e abre-lhe o leque de aptidões intelectuais. As experiências e jogos musicais feitos intuitivamente pelas mães, pais, avós e avôs, são corroborados por experiências clínicas, os progressos da neurociência e a pesquisa musical. A audição de música torna-se um fator de desenvolvimento neurológico do bebé, sobretudo quando abarca todo o espetro sonoro audível (20-20000 Hz), sons graves, médios e agudos.
A música parte da vida e prepara para a vida. Música de fundo com regularidade rítmica, melódica e harmónica dá à criança a sensação de bem-estar e de conforto e acalma também a mãe, o pai e todo ambiente familiar. Os primeiros contactos com a música acontecem no âmbito familiar e nos jardins de infância – onde a Música vai sendo encarada mais seriamente. As canções tradicionais, canções de embalar, música instrumental (com harpa, violino, Viola, violoncelo, clarinete e flauta, entre outros) são muito importantes nesta fase.
Mesmo que os educadores e encarregados de educação não disponham de bases musicais teóricas, podem sempre cantar, mimar, saltar, movimentar, possibilitar experiências sonoras com instrumentos. Os registos disponíveis de canções tradicionais aumentaram significativamente nas últimas décadas em Portugal, com ampla divulgação nos meios de comunicação de massa e em redes sociais – o que torna o acesso muito mais fácil.
Para a criança, o canto não é uma simples imitação: desperta o sentido do ritmo, da melodia e da harmonia, da escala, dos acordes e da tonalidade. Favorece a integração na criança e na idiossincrasia do povo e na comunidade. As primeiras canções são simples, com pequenos intervalos, tendo a mímica um papel importante no acompanhamento plástico. Devem ser escolhidas com critério, tendo em conta os textos, o ritmo e a melodia.
Nos meios em que se ouve apenas música de fraca qualidade, tanto em termos de texto com em termos de melodia, é natural que seja esse o tipo de canção que a criança cante com os amigos. E é natural também que a audição regular de música clássica em casa e a ida a concertos influenciem linha os gostos musicais da criança.
O ritmo é organização, número, simetria, medida, proporção, ordem, fazendo parte da própria fisiologia do ser humano que respira, pulsa, anda, trabalha, repousa, fala e se cala. O ritmo binário tem um carácter pendular, mais adaptado à marcha, enquanto o ternário é mais rotatório, giratório. O compasso simples é mais adaptado à narrativa, e o 6/8 é especialmente adequado às canções de embalar. Simples exercícios rítmicos podem fazer maravilhas em termos musicais e psicológicos, pela descontração gerada e pelo efeito salutar no sistema nervoso.
Até aos sete anos a criança vive sobretudo da sensorialidade: há toda a vantagem em expor e treinar sensorialmente as crianças para fazerem a natural precisam descoberta da intensidade, timbre e altura. Os pequeninos, obviamente, de variar. É limitador usar sempre a mesma canção ou o mesmo instrumento. É importante que os educadores e professores de Música disponham de uma pequena coleção de instrumentos musicais e fontes sonoras para variar e satisfazer o gosto das crianças. Brinquedos sonoros, adquiridos em lojas de música e de brinquedos, apitos musicais, chocalhos de ovelha, cabra e vaca (à venda nas feiras em vilas do interior), instrumentos feitos a partir de materiais recicláveis, “apitos de caça”, podem ser adquiridos com vantagem sobre outros brinquedos, por vezes imensamente mais caros e com menos valor pedagógico.
Os educadores e professores de Música poderão encontrar em feiras e lojas de artesanato instrumentos do mundo especialmente úteis no contexto da creche e do Jardim de Infância: reques em forma de grilo ou rã, maracas coloridas com motivos variados, tamboretes com personagens dos desenhos animados. O desenvolvimento da motricidade e do conhecimento do mundo passam também por esta experiência.
A Música nos primeiros anos exige, assim, sensibilidade. O estudo pessoal e a criatividade fornecem aos educadores, pais e professores de música um mundo sonoro que enriquece os bebés e dá prazer às famílias. A criança, sensível ao timbre, distingue a sonoridade própria de vários instrumentos e apura a sensibilidade auditiva.
Pelos dois ou três anos, a criança improvisa frequentemente melodias numa base não métrica e não tonal, fundada nas suas vivências pessoais e no vocabulário de que já dispõe. Não é de esperar que tenha, nessa idade, grande coerência em termos de discurso verbal e musical. De qualquer modo, o educador pode aproveitar essa aptidão e completá-la. De facto, essa tendência desaparece com o despertar das funções intelectuais.
Em forma de jogo musical, o educador pode fomentar a criatividade à medida a criança vai crescendo, consciencializando de forma progressiva para as noções de frase, cadência e forma musical.