Fábulas em verso

Leão

A cigarra e a formiga

Fábulas adaptadas e escritas em verso por António José Ferreira

Durante todo o Verão,
que bem cantou a cigarra;
de dia, ‘stava na praia,
à noite, ia para a farra.

Ficou no campo a formiga,
pensando no seu celeiro.
O esforço do seu trabalho,
rendeu-lhe um bom mealheiro.

O Inverno só trouxe frio
e nada para comer:
à porta do formigueiro
foi a cigarra bater.

– Durante todo o verão
cantei p’ra te alegrar:
dá-me um pouco de comida
para eu poder jantar.

– Enquanto te divertias,
eu ‘stava a trabalhar.
Cantavas todos os dias,
agora vai lá dançar.

A rã e a vitela

Uma rã, que era invejosa,
viu no campo uma vitela,
admirou o seu tamanho
e quis ser igual a ela.

Deixou logo o seu charquinho,
começou a engordar,
tanto era o seu desejo
de à vitela se igualar.

A rã perguntava às outras
se já era grande e bela,
mas estava muito longe
do tamanho da vitela.

Tanto a rã inchou de inveja
que um dia rebentou:
não foi uma rã feliz
nem à vaca se igualou.

A raposa e a cegonha

Certo dia, a raposa
foi visitar a cegonha,
e o que ela fez depois,
diga-se, é uma vergonha.

Convidou a sua amiga
para um belo jantar
e pensou numa partida
p’ra da cegonha zombar.

A cegonha foi a casa
da sua amiga raposa
e no prato, a comida,
estava deliciosa.

A raposa comeu bem,
nem por isso a cegonha,
porque aquele prato raso
para o bico é uma vergonha!

A cegonha agradeceu
e pensou retribuir.
Convidou D. Raposa
para a sua casa ir.

Fez uma sopa de carne
que era um manjar perfeito
e serviu o seu petisco
num jarro bastante estreito.

A raposa comeu pouco
e ficou aborrecida.
A cegonha, afinal,
devolveu-lhe a partida.

As queixas do pavão

Lamentava-se o pavão
de não cantar nada bem,
de não ter a voz bonita
que o rouxinol sempre tem.

– Não reclames – disse Deus -,
pavãozinho despeitado!
Não vês que, p’las tuas cores,
és famoso em todo o lado?

Cada um tem seu encanto:
a águia tem a coragem,
o melro tem o seu canto,
o pavão, rica plumagem.

A ave compreendeu:
não se podia queixar.
Ninguém é perfeito em tudo,
em tudo há que se alegrar.

O corvo e a raposa

No ramo de um arbusto,
o corvo mostrava um queijo:
a raposa aproximou-se
atraída p’lo desejo.

Muito esperta, a raposa
foi o corvo elogiar,
suas penas e seu canto,
e até a forma de andar.

Cego pelo seu orgulho,
o corvo pôs-se a cantar:
o queijo caiu do bico
e à raposa foi parar.

O esquilo e as avelãs

Muitas nozes e avelãs
tinha o Senhor Esquilo:
lembrou-se de partilhar
alguns frutos do seu silo.

Pegou na melhor bandeja,
para as nozes of’recer,
e mandou o seu filhote
ao vizinho, a correr.

Quando viram a bandeja
os olhos do seu vizinho,
nem se lembraram das nozes
of’recidas com carinho.

Nem o esquilo viu de volta
a bandeja preferida,
nem na casa do vizinho
houve prenda parecida.

O pescador e o peixinho

Havia um pescador,
um pescador havia.

Um dia foi à pesca,
foi fraca a pescaria.

Pescou só um peixinho,
levou-o à Maria.

Quando chegou a casa,
ouviu o que não queria.

– Se fosse um peixe grande,
que almoço não daria!

– O peixe é pequenino
e muito cresceria!

José pegou no balde,
deitou o peixe à ria.

O veado e os amigos

No meio de uma floresta,
um veado adoeceu.
Um grupo dos seus amigos
foi ver o que aconteceu.

Foram para socorrê-lo,
ou talvez o consolar,
para cumprir o dever
de o amigo ajudar.

No fim da sua visita,
tiveram um bom repasto:
e da erva do veado,
quase não deixaram rasto.

Com pouco alimento perto,
aquele velho veado,
morreu ainda mais cedo,
infeliz, esfomeado.

A fábula mostra que…

Um amigo que não presta
E uma faca que não corta,
Que se percam pouco importa.

Provérbio

O velho rei da selva

O leão, o rei da selva,
perdeu forças e poder:
tornou-se apenas um velho
preparado p’ra morrer.

Os burros davam-lhe coices
e os lobos davam dentadas;
gazelas faziam troça
e os bois davam cornadas.

Mal conseguia rugir
o cansado rei leão:
chegara a hora de os fracos
lhe poderem dizer não.

A fábula mostra que…

Em leão morto até cãezinhos dão dentadas.
(Provérbio latino)

Leão

Leão

O lobo e o capuchinho

Um dia, o Senhor Lobo
que andava a passear,
avistou o Capuchinho
e foi logo perguntar:

– Aonde vais, ó menina,
com essa linda cestinha?
– Vou levar um bolo e mel
à minha rica avozinha.

Mais depressa foi o lobo
à casa da avozinha
enquanto ia praticando
falar com voz de netinha.

(Alguém bate à porta)

– Quem está a bater à porta?
– É a tua qu’rida netinha.
– Ai meu Deus, é o lobo mau.
– Não te como, avozinha.

(Entretanto, o Capuchinho Vermelho chega a casa da avó e vai ter com ela.)

– Que grandes são os teus olhos!
– São para te observar!
– Que grande é o teu nariz!
– É p’ra melhor te cheirar!

– Que fofas as tuas mãos!
– São p’ra melhor te tocar!
– Que grande é a tua boca!
– É p’ra melhor te beijar!

“Capuchinho Vermelho é um conto de fadas clássico, cujas origens podem ser traçadas a fábulas europeias do século X. O nome do conto vem da protagonista, uma menina que usa um capuz vermelho. Publicada pela primeira vez pelo francês Charles Perrault, e depois pelos Irmãos Grimm (da versão mais conhecida), o conto sofreu inúmeras adaptações, mudanças e releituras da cultura popular mundial, é uma das fábulas mais conhecidas de todos os tempos em todo o mundo.” (Wikipédia)

Os meninos e as rãs

Dois colegas de turma iam a pé para a escola e entretinham-se às vezes a fazer asneiras. Certa manhã, o Bruno viu o Hélio e disse:

– Hélio, espera por mim!

– Despacha-te, Bruno…

Quando chegaram à ponte, puseram-se a olhar o rio e a ver os peixes.

– Olha rãs… Vamos atirar-lhes pedras? – disse o Hélio.

– Grande ideia… – disse o colega. E atirou uma pedra que estava no chão.

– Olha maçãs… vamos atirar maçãs…

– Come esta maçã que faz-te bem à saúde! – disse o Bruno, achando que tinha muita piada.

A professora ia de carro e disse para consigo:

– Ah, estes são os meus alunos Bruno e Hélio… Que estarão a fazer?… Coisa boa não será… Atirar pedras aos peixes… Vão já ver o que é doce…

E foi para a escola.

Os alunos chegaram e bateram à porta:

– Entrem…

– Bom dia, Senhora Professora…

– Bom dia! Divertiram-se muito no caminho?

– Sim, Professora…

– Pois agora vão divertir-se muito mais! – disse ela com ironia.

– Que bom… – responderam os meninos…

– Digam comigo:

– Quem maltrata um animal,

Tem castigo especial!

A professora deu-lhes um papel e disse:

– Copiem 50 vezes!

– 50 vezes?!
– Isso mesmo! – confirmou a professora.

Enquanto isso, os outros meninos da turma diziam à maneira de rap:

– Quem maltrata um animal,
tem castigo especial!

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