Aprendiz de pianista

Anedotas ao piano

Anedotas verídicas de aprendizes de piano e da professora Gabriela Bestança

Professora de Piano, Gabriela Bestança realça o bucolismo do rio Bestança e das belíssimas paisagens de Cinfães. Não duvido que tem vocação para professora, mas é também poetisa e contadora de histórias. Em tempos difíceis para professores, pais e alunos, as anedotas verídicas das suas crianças trazem-nos uma brisa suave que faz sorrir e relaxar do cansaço. Gabriela estudou na MTU Cork School of Music, na ESMAE – Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo e na Academia de Música de Vilar do Paraíso (AMVP).

Convicção ou fé?

Professora – Agora com convicção.
Aluna (6 anos) – O que significa convicção?
Professora – Fazer algo com convicção significa que quando executamos a tarefa temos confiança suficiente para dizer “eu sei que vou conseguir fazer isto”. Então vá, com convicção, com certeza, com fé!
Aluna -… Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco…

A partir do próximo ano

Professora – A partir do próximo ano vais tocar escalas todas as aulas!
Aluna (9 anos) – … Será que ainda há vagas para trompete?

Mão Morta

Professora – E a mão esquerda?
Aluna (6 anos) – Está morta.

Inventei uma música

Aluna (9 anos) – Professora, inventei uma música e trouxe no papel para mostrar.
Professora – Ah, está muito bem! E a mão esquerda?
Aluna – Professora, eu sou doida mas não tanto.

Os buracos da flauta

Aluna (9 anos) – Professora, sabe que agora estou a tocar flauta na escola mas detesto.
Professora. – Porquê?
Aluna – Os buracos da flauta não estão todos alinhados! O dó é um bocadinho mais para baixo por causa do mindinho. É horrível. Por que não puseram tudo em linha? Mesmo este exercício, olhe, as barras de compasso deste sistema não estão alinhadas com as barras do sistema de baixo. É terrível só de ver.
– Isso é porque no primeiro sistema temos três compassos e no de baixo quatro temos quatro, não é possível alinhar as barras.
– É má vontade, tiram-se notas e resolve-se.

Paciência

Diálogo entre dois alunos de 10 anos que aguardavam pelo seu tempo de actuar com ar dolente, um mais do que o outro:
Aluno 1 – Ai, estou cansado de esperar!
Aluno 2 – Já ouviste falar de algo chamado… Paciência…? Diz-te alguma coisa?
Aluno 2 – Eh… Sou capaz de já a ter visto por aí.
Aluno 1 – Então! Onde é que ela está agora?
Aluno 2 – Está longe. A paciência enerva-me.

Tocar como uma tartaruga

Aluna (6 anos) – Vou tocar piano como uma tartaruga.
Professora – As tartarugas não conseguem tocar piano.
Aluna – Se pusermos uma tartaruga em cima do piano passa a conseguir.

TPC

Professora: Então, trabalho para casa…
Aluna (8 anos): No meu dicionário, TPC não é trabalho para casa.
Professora: Então o que é?
Aluna: Tem de adivinhar!
Professora: Transtorno para cabeças.
Aluna: Não, mas é por aí.
Professora: Tortura para crianças.
Aluna: Está mais perto.
Professora: … Não consigo adivinhar. O que é?
Aluna: Tempo Perdido em Casa.

Pedais

Aluna (13 anos) – O meu piano digital não tem pedal de sustentação em casa. Vou ter de praticar nos pedais do carro dos meus pais.
Professora – É uma belíssima ideia. Imaginas um teclado no tablier do carro e ficas ali, barricada. Fazes do carro um refém e só sais dali com o pedal de sustentação como pagamento. Se te perguntarem qualquer coisa tens de praticar piano no carro e como tal sem pedal não o podes devolver para o uso familiar. Gosto. Tens a minha bênção.
Aluna – Oh professora, mas por acaso dizem que faz muito mal andar a mexer nos pedais dos carros com eles parados… O meu pai sempre me disse isso.
Prof. – Não sei quem precisará de ouvir esse conselho. O que faria alguém a mexer nos pedais dum carro desligado?
Aluna – Obviamente estaria a fazer o mesmo que eu! A praticar piano! Professora, nem sei como é que uma coisa dessas lhe pôde escapar!

Que tolo o Jorge

Aluno (6 anos, pegando num boneco de pelúcia que levou para a aula) – Anda, Jorge! Temos uma missão a fazer! (senta-se ao piano e coloca as partituras na estante) Jorge! Puseste as folhas ao contrário! Que tolo!

Recomeçar deste compasso

Professora – Vamos recomeçar deste compasso.
Aluna (10 anos) – Mas eu preferia começar do princípio.
Professora – O princípio já ambas sabemos que está bem, temos de recomeçar do local problemático.
Aluna – Protesto! Vivemos numa democracia, todos os compassos têm direito a serem igualmente recomeçados!

Podemos inventar uma música?

Aluno (5 anos) – Podemos inventar uma música para uma história que inventei?
Professora – Podemos, sim. Qual é a história?
Aluno – Então, era uma vez um dragão que vivia numa caverna muito escura no cimo de uma montanha e era uma vez um cavaleiro que foi lá matar o dragão. O cavaleiro e o dragão encontram-se e o dragão começa a cuspir fogo e cria um incêndio terrível na floresta, toda a gente foge. O cavaleiro e o dragão começam uma luta também terrível até à morte, o dragão parece quase que vai comer o cavaleiro só que o cavaleiro levanta a sua espada muito alto, muito mais alto que o dragão… e o dragão desmaia e morre. O cavaleiro olha para o dragão e pensa “ia-huuu, ganhei”… mas de repente passou um coelho, o cavaleiro desmaia e também morre. Fim.

O arpejo e o mundo

Professora – Arpejo no estado fundamental em movimento espelhado.
Aluna (10 anos) – O mundo é como o sol.
Prof. – …?
Aluna – É um lugar maléfico.

Alguém que não tinha mais que fazer

Prof. – Agora vamos ver a última inversão do arpejo.
Aluna (10 anos) -??
Prof. – O arpejo tem três inversões.
Aluna – Alguém andou com muito tempo livre para inventar estas coisas…

Com as duas mãos

(Na primeira experiência com uma escala)
Professora: Agora com as duas mãos.
Aluna (10 anos): O quê??
Professora: Com as duas mãos em simultâneo.
Aluna: Está a brincar comigo, certo?
Professora: Claro que não! O dia das mentiras foi na semana passada.
Aluna: … Porquê, meu Deus?
Professora: Então vamos lá. Muito devagar.
Aluna: … É que nem poderia esperar outra coisa…

Bateria gigante

Professora: Quanta energia! Tens a certeza de que o que comeste ao pequeno-almoço foram cereais? Não terão sido pilhas por engano?
Aluno (5 anos): Eu tenho uma bateria gigante. Nunca baixa dos 95%.

A disciplina favorita

Professora: Enquanto estou aqui a tirar as papeladas da mala, diz-me, qual é a tua disciplina favorita na escola?
Aluna (10 anos) – Física.
Professora: O quê?
Aluna – Física.
Professora: Em que ano estás mesmo…?
Aluna – No quinto!
Professora: Certo… Como é que isso aconteceu? Ter Física no quinto ano? Estás a frequentar disciplinas do secundário por algum regime especial? Como é que começaste a estudar Física?
Aluna – Desculpe, não é essa. É Educação Física!
Professora: – Ah! Caramba, eu já aqui a meditar para com os meus botões que em dez anos Portugal recebia o Nobel!

Ré flutuante

Aluno (5 anos) – Já sei desenhar o dó, o ré e o mi!
Professora: – Mas que bem! Sim, senhor! Um detalhe: o ré está um bocado flutuante. Da próxima vez tens de o pendurar na primeira linha.
Aluno – Então espera, que vou pôr um gancho. Pronto, já está pendurado.

A canção dos Três Porquinhos

Aluna (7 anos) – Esta música faz-me lembrar a canção dos Três Porquinhos.
Professora: E como é que é a canção dos Três Porquinhos? Não conheço.
Aluna – Não sei, também não conheço… Mas só sei que me faz lembrar.

Encomenda para daqui a um mês

Aluna (10 anos) – Eeeeeeei, tanta coisa difícil que eu estou a ver! Isto que me está a pedir é uma encomenda só para daqui a um mês!

A clave de Fé

(Da clave de Fá)
Professora: – E esta clave é a clave de…?
Aluno (5 anos) -… Fé!
Professora: … Há certamente alunos que lhe chamam isso em segredo. Aceito. Agora o nome de baptismo.

Antes da audição

Antes da audição:
Aluno (11 anos) – Estou nervoso.
Professora: Não estejas. Chocolate?
Aluno: … É que nem assim me convence!

Metrónomo

Aluna (10 anos) – Ai, professora, às vezes também dava jeito um metrononomomo…
Prof. – Um metrónomo!
Aluna – Isso! Às vezes também dava jeito um metrónomo para a vida, assim *tic *tac *tic *tac para se saber quando se fazer tudo. Mas depois penso que ainda bem que isso não existe. Se vivermos a vida como um metrónomo damos todos em malucos.

Identificação de notas

Num jogo de identificação de notas:
Professora – Hoje vamos para o nível 4. Vamos acrescentar as figuras novas.
Aluno (4 anos) – No nível 75 tem de ser sem eu olhar.
Professora – Sem tu olhares? Como assim?
Aluno – Então, tu desenhas e eu tenho de adivinhar de olhos fechados.
Professora – Hmmmm, não tenho certeza de que isso vá funcionar.
Aluno – Porquê?
Professora – Porque para saberes o que está num desenho tens de olhar para ele primeiro.
Aluno – Vai funcionar, vai.
Professora – Com telepatia?
Aluno – Sim! Ia ser de que maneira? Só pode ser por telepatia!
Professora – Ainda bem que faltam 71 níveis… Tenho bastante tempo para tirar um curso de telepatia até lá.

Lavagem cerebral de bolos

Professora – Então? Que te aconteceu? Sabias isto na semana passada!
Aluno (14 anos) – Fui visitar a minha avó no fim-de-semana.
Professora – E então?
Aluno – Levei uma lavagem cerebral de bolos.

O tiranossaurus rex nunca poderá tocar arpejos

Aluno (11 anos) – Professora, não chego às notas todas do arpejo…
– Normal! Estás aí com os braços encostados ao corpo, todos apertadinhos e estás quase em cima do piano! … Pronto, é a técnica do tiranossaurus rex!
Aluno – Ahahahah, pois! (Levanta dois dedos da mão) Chatice que um tiranossaurus rex nunca possa tocar arpejos…

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