Aprendiz de músico
Anedotas reais do ensino de instrumento
Muitos professores guardam as suas anedotas e falas com graça que ocorrem nas aulas individuais de instrumento. Algumas são de uma profundidade que as aproxima de “O Principezinho”. Outras refletem as dificuldades de aprender, e de ensinar. Mas todas são tecidas de ternura, pelo que estes artigos serão também uma homenagem aos professores de música. A outros professores deixo o desafio a partilharem pérolas dos seus alunos. Os alunos, professores e familiares vão gostar de ser rever nestes artigos da Lenga.
Catarina Barreiros
Assim é difícil
Aluno de violino (10 anos, muito indignado): Oh professora, é que e difícil pôr a mão bem, o dedo desenterrado, o 3° dedo afastado, o arco mais longe do cavalete… A professora só pode escolher 2 coisas!!
Grabriela Bestança
Inventei uma música
Aluna (9 anos) – Professora, inventei uma música e trouxe no papel para mostrar.
Professora – Ah, está muito bem! E a mão esquerda?
Aluna – Professora, eu sou doida mas não tanto.
Os buracos da flauta
Aluna (9 anos) – Professora, sabe que agora estou a tocar flauta na escola mas detesto.
Professora. – Porquê?
Aluna – Os buracos da flauta não estão todos alinhados! O dó é um bocadinho mais para baixo por causa do mindinho. É horrível. Por que não puseram tudo em linha? Mesmo este exercício, olhe, as barras de compasso deste sistema não estão alinhadas com as barras do sistema de baixo. É terrível só de ver.
– Isso é porque no primeiro sistema temos três compassos e no de baixo quatro temos quatro, não é possível alinhar as barras.
– É má vontade, tiram-se notas e resolve-se.
Mão Morta
Professora – E a mão esquerda?
Aluna (6 anos) – Está morta.
Paciência
Diálogo entre dois alunos de 10 anos que aguardavam pelo seu tempo de actuar com ar dolente, um mais do que o outro:
Aluno 1 – Ai, estou cansado de esperar!
Aluno 2 – Já ouviste falar de algo chamado… Paciência…? Diz-te alguma coisa?
Aluno 2 – Eh… Sou capaz de já a ter visto por aí.
Aluno 1 – Então! Onde é que ela está agora?
Aluno 2 – Está longe. A paciência enerva-me.
TPC
Professora: Então, trabalho para casa…
Aluna (8 anos): No meu dicionário, TPC não é trabalho para casa.
Professora: Então o que é?
Aluna: Tem de adivinhar!
Professora: Transtorno para cabeças.
Aluna: Não, mas é por aí.
Professora: Tortura para crianças.
Aluna: Está mais perto.
Professora: … Não consigo adivinhar. O que é?
Aluna: Tempo Perdido em Casa.
Pedais
Aluna (13 anos) – O meu piano digital não tem pedal de sustentação em casa. Vou ter de praticar nos pedais do carro dos meus pais.
Professora – É uma belíssima ideia. Imaginas um teclado no tablier do carro e ficas ali, barricada. Fazes do carro um refém e só sais dali com o pedal de sustentação como pagamento. Se te perguntarem qualquer coisa tens de praticar piano no carro e como tal sem pedal não o podes devolver para o uso familiar. Gosto. Tens a minha bênção.
Aluna – Oh professora, mas por acaso dizem que faz muito mal andar a mexer nos pedais dos carros com eles parados… O meu pai sempre me disse isso.
Prof. – Não sei quem precisará de ouvir esse conselho. O que faria alguém a mexer nos pedais dum carro desligado?
Aluna – Obviamente estaria a fazer o mesmo que eu! A praticar piano! Professora, nem sei como é que uma coisa dessas lhe pôde escapar!
Que tolo o Jorge
Aluno (6 anos, pegando num boneco de pelúcia que levou para a aula) – Anda, Jorge! Temos uma missão a fazer! (senta-se ao piano e coloca as partituras na estante) Jorge! Puseste as folhas ao contrário! Que tolo!
Recomeçar deste compasso
Professora – Vamos recomeçar deste compasso.
Aluna (10 anos) – Mas eu preferia começar do princípio.
Professora – O princípio já ambas sabemos que está bem, temos de recomeçar do local problemático.
Aluna – Protesto! Vivemos numa democracia, todos os compassos têm direito a serem igualmente recomeçados!
Podemos inventar uma música?
Aluno (5 anos) – Podemos inventar uma música para uma história que inventei?
Professora – Podemos, sim. Qual é a história?
Aluno – Então, era uma vez um dragão que vivia numa caverna muito escura no cimo de uma montanha e era uma vez um cavaleiro que foi lá matar o dragão. O cavaleiro e o dragão encontram-se e o dragão começa a cuspir fogo e cria um incêndio terrível na floresta, toda a gente foge. O cavaleiro e o dragão começam uma luta também terrível até à morte, o dragão parece quase que vai comer o cavaleiro só que o cavaleiro levanta a sua espada muito alto, muito mais alto que o dragão… e o dragão desmaia e morre. O cavaleiro olha para o dragão e pensa “ia-huuu, ganhei”… mas de repente passou um coelho, o cavaleiro desmaia e também morre. Fim.
O arpejo e o mundo
Professora – Arpejo no estado fundamental em movimento espelhado.
Aluna (10 anos) – O mundo é como o sol.
Prof. – …?
Aluna – É um lugar maléfico.
Alguém que não tinha mais que fazer
Prof. – Agora vamos ver a última inversão do arpejo.
Aluna (10 anos) -??
Prof. – O arpejo tem três inversões.
Aluna – Alguém andou com muito tempo livre para inventar estas coisas…
Com as duas mãos
(Na primeira experiência com uma escala)
Professora: Agora com as duas mãos.
Aluna (10 anos): O quê??
Professora: Com as duas mãos em simultâneo.
Aluna: Está a brincar comigo, certo?
Professora: Claro que não! O dia das mentiras foi na semana passada.
Aluna: … Porquê, meu Deus?
Professora: Então vamos lá. Muito devagar.
Aluna: … É que nem poderia esperar outra coisa…
Bateria gigante
Professora: Quanta energia! Tens a certeza de que o que comeste ao pequeno-almoço foram cereais? Não terão sido pilhas por engano?
Aluno (5 anos): Eu tenho uma bateria gigante. Nunca baixa dos 95%.
A disciplina favorita
Professora: Enquanto estou aqui a tirar as papeladas da mala, diz-me, qual é a tua disciplina favorita na escola?
Aluna (10 anos) – Física.
Professora: O quê?
Aluna – Física.
Professora: Em que ano estás mesmo…?
Aluna – No quinto!
Professora: Certo… Como é que isso aconteceu? Ter Física no quinto ano? Estás a frequentar disciplinas do secundário por algum regime especial? Como é que começaste a estudar Física?
Aluna – Desculpe, não é essa. É Educação Física!
Professora: – Ah! Caramba, eu já aqui a meditar para com os meus botões que em dez anos Portugal recebia o Nobel!
Ré flutuante
Aluno (5 anos) – Já sei desenhar o dó, o ré e o mi!
Professora: – Mas que bem! Sim, senhor! Um detalhe: o ré está um bocado flutuante. Da próxima vez tens de o pendurar na primeira linha.
Aluno – Então espera, que vou pôr um gancho. Pronto, já está pendurado.
A canção dos Três Porquinhos
Aluna (7 anos) – Esta música faz-me lembrar a canção dos Três Porquinhos.
Professora: E como é que é a canção dos Três Porquinhos? Não conheço.
Aluna – Não sei, também não conheço… Mas só sei que me faz lembrar.
Encomenda para daqui a um mês
Aluna (10 anos) – Eeeeeeei, tanta coisa difícil que eu estou a ver! Isto que me está a pedir é uma encomenda só para daqui a um mês!
A clave de Fé
(Da clave de Fá)
Professora: – E esta clave é a clave de…?
Aluno (5 anos) -… Fé!
Professora: … Há certamente alunos que lhe chamam isso em segredo. Aceito. Agora o nome de baptismo.
Antes da audição
Antes da audição:
Aluno (11 anos) – Estou nervoso.
Professora: Não estejas. Chocolate?
Aluno: … É que nem assim me convence!
Metrónomo
Aluna (10 anos) – Ai, professora, às vezes também dava jeito um metrononomomo…
Prof. – Um metrónomo!
Aluna – Isso! Às vezes também dava jeito um metrónomo para a vida, assim *tic *tac *tic *tac para se saber quando se fazer tudo. Mas depois penso que ainda bem que isso não existe. Se vivermos a vida como um metrónomo damos todos em malucos.
Identificação de notas
Num jogo de identificação de notas:
Professora – Hoje vamos para o nível 4. Vamos acrescentar as figuras novas.
Aluno (4 anos) – No nível 75 tem de ser sem eu olhar.
Professora – Sem tu olhares? Como assim?
Aluno – Então, tu desenhas e eu tenho de adivinhar de olhos fechados.
Professora – Hmmmm, não tenho certeza de que isso vá funcionar.
Aluno – Porquê?
Professora – Porque para saberes o que está num desenho tens de olhar para ele primeiro.
Aluno – Vai funcionar, vai.
Professora – Com telepatia?
Aluno – Sim! Ia ser de que maneira? Só pode ser por telepatia!
Professora – Ainda bem que faltam 71 níveis… Tenho bastante tempo para tirar um curso de telepatia até lá.
Lavagem cerebral de bolos
Professora – Então? Que te aconteceu? Sabias isto na semana passada!
Aluno (14 anos) – Fui visitar a minha avó no fim-de-semana.
Professora – E então?
Aluno – Levei uma lavagem cerebral de bolos.
O tiranossaurus rex nunca poderá tocar arpejos
Aluno (11 anos) – Professora, não chego às notas todas do arpejo…
– Normal! Estás aí com os braços encostados ao corpo, todos apertadinhos e estás quase em cima do piano! … Pronto, é a técnica do tiranossaurus rex!
Aluno – Ahahahah, pois! (Levanta dois dedos da mão) Chatice que um tiranossaurus rex nunca possa tocar arpejos…
Maria Camponês
A flauta desafinada
Professora, a minha flauta está desafinada, quando toco fá#, o afinador diz solb.
Luís Almeida
Na infancinha
Há umas semanas, perguntei a uma aluna minha (violino) de 9 anos se ainda via o desenho animado da Patrulha Pata. Ela respondeu:
– Via quando estava na infância. Quer dizer, eu ainda estou na infância… via na minha infancinha.
Pedro Borges
Escalas
Quando dei aulas em Portugal, criei umas provas internas na escola onde trabalhava, de forma a provocar um aumento de rendimento nos meus alunos que, na maioria, estudavam muito pouco. Um aluno tinha preparado três escalas (dó, sol e ré), e no início da prova fizemos um sorteio, eu e um amigo meu, para ver qual das três ele teria de tocar. Ele tira um papel, abre-o, e diz-nos: “Lós”.
Sim, ele propôs-se a tocar a escala de “Lós” e não se apercebeu, de todo, que tinha lido “Sol” ao contrário. Foi tão insólito que eu quase caí no chão de me rir, tal o espanto.
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